AUTISTA NO PROGRAMA O SÓCIO


Um dos programas mais interessantes da TV atualmente, O Sócio (The Profit), do History, mostra Marcus Lemonis, um CEO de sucesso, bilionário, ajudando empresas que estão em dificuldade. Excelente pra aprender mais sobre empreendedorismo, administração e mesmo comportamento organizacional. O sucesso da série levou para a sétima temporada atualmente.

No episódio quatro da 6ª temporada, conhecemos a Ben's Garden, em Nova Iorque, loja especializada em desenhos feitos à mão, empregados em vários objetos de decoração, com uma loja de varejo que usa técnicas artesanais tradicionais.

O dono, Ben Busko, tem Síndrome de Asperger, que hoje consideramos também Transtorno do Espectro Autista (TEA), embora muita gente prefira o termo Asperger, incluindo os próprios aspergers.

O episódio é muito interessante e o talento para design de Ben é extraordinário. Marcus faz sociedade com ele e o episódio mostra algumas dificuldades de comunicação e interação social de Ben.




TURMA DA MÔNICA E AUTISMO

O TEA (Transtorno do Espectro Autista), está cada vez mais ganhando visibilidade. Dessa vez, através dos quadrinhos, em edição da Turma da Mônica.
Quadrinhos são, além arte e mídia extremamente interessantes, também uma ótima ferramenta educacional. Nesse sentido, para a visibilidade de pessoas co autismo as edições com o personagem autista são fundamentais para que cada vez mais pessoas, incluindo crianças e adolescentes, conheçam esse universo.
Disponíveis em português, espanhol e inglês.

O VAQUEIRO E O PÁSSARO DE FOGO

Falar da obra artística de dois amigos brilhantes é uma tarefa a um só tempo fácil – seu trabalho é magnífico – e complexa, por esta mesma razão. Isto é, as muitas camadas deste trabalho de arte sequencial impõem ao leitor uma viajem mais profunda por suas páginas e lhe devolve uma experiência quase onírica.


Saber um pouco de seus autores aumenta o nível de leitura desta Graphic Novel que você tem em mãos. Conheci primeiro o Anilton, meu conterrâneo de Redenção. Aliás, conheci ainda antes seu nome, quando éramos adolescentes apaixonados por quadrinhos (ainda somos!). Ele era amigo de amigos meus de escola. Seu nome já nos causava admiração por conta de seus desenhos já com características profissionais, bem acima das nossas irregulares tentativas de imitar o traço de nossos ídolos. Quando fomos apresentados nos tornamos amigos imediatamente.

Já o Alex conheci por intermédio do Anilton. Soube que era comic creator, e mestre de Kung Fu. Poliglota, profundo conhecedor de mitologia, ficção científica, fantasia e horror. Uma mistura rara de intelectual e atleta. Não por serem áreas incompatíveis, mas por serem difíceis, cada uma a seu modo, de se alcançar a excelência. Alex a tem nas duas. E assim como foi com o Anilton também conheci o nome Alex antes da pessoa.

E falando em pessoas e subjetividades os dois são indivíduos extraordinários, o que lhes confere ainda mais autoridade para contar a história que você vai ler agora. Os dois conhecem gente, sabem como pensam, sentem e agem. E conhecem nossa história social e de nossas mentalidades. São apaixonados pelo que é costumeiramente chamado de regionalismo, aquilo que vem, no nosso caso, do interior do Nordeste, não dos grandes centros urbanos. Contudo, ampliam essa temática falando das tragédias, mas também da sua superação. Universalizando o regional. A história de vida do vaqueiro João Félix poderia ser metaforicamente a de qualquer um de nós, sobretudo em sua trajetória amorosa para os braços da Deusa de Fogo. O amor é tido na psicoterapia como um importante auxiliar no tratamento de neuroses e até psicoses, e histórias de vida marcadas pela dor e sofrimento.

A narração do Alex é poética, com uma queda pelo estilo romântico do século XIX e enamorada da literatura fantástica, combinada ao traço luz e sombra do Anilton, o que dá à obra uma beleza hipnotizante. O leitor é levado a conhecer a tragédia sócio-histórica-pessoal do protagonista e logo a mergulhar em sua mente. Na subjetividade de um indivíduo que isolado do mundo que o cerca e impedido de receber educação formal se ampara na leitura de mundos fantásticos e logo em seguida na sua própria imaginação criativa. O que nos dá, além de uma rica experiência artística, uma lição pedagógica. O excluído tem o potencial de superação das limitações. Seu problema não é cognitivo, mas social. E esta HQ, de forma metalinguística, se usada também como livro paradidático pode contribuir ricamente para a experiência leitora de crianças e jovens e lhes inspirar a superar suas próprias limitações pessoais e sociais.

Fico feliz em dizer pra você leitor que no Ceará tem disso sim! Artistas visionários e quadrinistas talentosos. Capazes de transformar o nosso regional em universal. De nos apresentar uma personagem tão fantástica quanto real. Alguém que você poderia ter conhecido. Alguém que, com certeza, você adorará conhecer aqui.

Texto escrito por mim para a apresentação da edição. 
Compre na Amazon

TEMPUS FUGIT

Lá se foram 20 anos da primeira leitura de dois dos livros mais importantes na minha formação acadêmica, de dois dos autores que mais me influenciaram naquele início do meu percurso intelectual. Caetano Veloso e Leonardo Boff.
Eu estava no seminário na época, tempo que ainda tínhamos de ir às livrarias para comprar livros (ainda vou, mas tantos outros a Amazon me entrega), quando ainda tínhamos de passar horas na biblioteca da universidade para procurar o que queríamos, tempo da internet discada, em que esperávamos dar meia noite para pagarmos somente um pulso telefônico.
Ir à livraria ou biblioteca tinha algo de mágico, de descobrir novas coisas, hoje sigo todas as redes sociais das editoras, difícil ser surpreendido pelos lançamentos. Mas quando vi o relançamento da edição comemorativa de 20 anos de Verdade Tropical do Caetano e depois da também edição de 20 anos de A Águia e a Galinha, percebi que os anos passam rápido, tempus fugit.


Em Verdade Tropical Caetano traça um perfil histórico do Movimento Tropicalista do qual foi um dos iniciadores, relacionando e confundindo intencionalmente com sua própria narrativa de história de vida. Fui tomado pelas referências e a escrita extraordinária dele. Na nova edição, que ganhei na minha namorada Natália, tem um capítulo inédito intitulado "Carmen Miranda não sabia sambar", que me fez gostar ainda mais de Caetano, de sua análise do Brasil, com a qual me identifico, sem essas polarizações que vivemos hoje. Na foto mostro minhas duas edições, ambas da Cia das Letras, e o disco da época da primeira, Livro, meu favorito.


Já a edição comemorativa de A Águia e a Galinha não traz novidades, mas me relembra o texto extraordinariamente inspirador que tanto recomendei/recomendo à amigos e pacientes. Precisamos relembrar constantemente a nós mesmos que podemos ir mais longe do que nos acostumamos a ir.
Me sentindo velho por esses 20 anos que se foram desde minha adolescência? Um pouco, mas feliz por ter tido acesso a esses dois incríveis personagens da cultura e intelectualidade brasileira. Realizado por já ter estado num show de Caetano e numa palestra de Leonardo Boff. E por tudo que ouvi e li deles. A primeira edição, como mostro na foto é um pouco maior, na época já na 31º edição, Boff vende muitíssimo. Ambos pela editora Vozes, na comemorativa pelo selo Nobilis.

LANA

Fui o primeiro da família a te trazer para casa
O último a te carregar nos braços em despedida
A te tocar em adeus agora que nos deixou

Amor recíproco quando nos olhávamos
Em todo lugar dos meus dias em que você estava
Quase doze anos de sua presença

Você foi uma cadelinha muito amada
E superabundou de alegria a minha existência
Meu coração sempre será repleto de você, Lana

MENININHA

O azul em objetos no silêncio
Sou eu em cada um deles
É você em cada série ausente
Pizza, fogo e sol

Te desenhei um novo mundo
Você me arrebatou do meu
Buggy, laptop e prancha
Emoções e outras bobagens

Todo Pigmalião um dia
Precisa de uma menininha

MY LADY


Percebo o seu sorriso como a cor azul
Sinestesia que transcende conexões neuronais
Seus olhos criação de Osamu Tezuka
Me elevam os sentidos e os significados
Ao te abraçar as teorias se unificam
Experimento o entrelaçamento quântico pelo universo

Percorro agora a mágica além das ciências
Ilustrada com todos os 111 tons de azul
Até o centésimo décimo segundo da Crayola
Nosso tom e grafia nas notas e páginas compostas
Audiovisual de 11 temporadas em mínimo tempo

Você My Lady encantou meu mundo
Harmonizou córtex pré-frontal e sistema límbico
Tons do mesmo azul em meu eu inteiro
Que agora livremente te unicamente pertence
Atravessando toda a minha razão e emoções harmonizadas

ELEGIA AO TIO ALDEMAR

Você me fez ver mais de Deus
Em fragmentos existenciais síncronos
Dos efêmeros lugares e tempos juntos

Perdurável, porém, o que inscreveu em mim
Que já faz parte de quem sou
Chamam-me Lorde pelo gentleman que você foi
– Além da criação de Oscar Wilde
Sobretudo com as mulheres, especialmente sua amada

Eu, discípulo, sigo aprendendo
Seu paradigma como guia
Você está em mim mais que pelos genes
Está em espírito
– Mesmo eu agora já tão cético e racional
Emoções neurocientíficas

Um de meus primeiros leitores-incentivo
Acreditou que eu seria escritor
– Não seria sem palavras o que ora digo
Sentir materialmente-transcendentemente
Seu itinerário final sobre a Terra
Consciência de finitude?
– Teoricamente, teorias da mente (e cérebro)

Em minhas memórias neuropsicológicas
Você será devir constante
Porque em mim, dileto Tio, você ainda é

TRANSIÇÃO



Em qualquer lugar em que eu estiver as estrelas serão azuis
Mesmo sem teto verei seus tons

Minha cor permanecerá a mesma
Diagnóstico preso numa canção de blues

Sempre fui temporário
O instante insatisfeito do paroxismo
Quatro passagens de tempo é só mais um número arbitrário

Nunca estive em casa, pensamento sem formas de encaixe
Disfuncionais

Na sua, talvez por um momento
Até fiz barulho, fui eu
Algo de adulto, paleta maior de cores
Para além da constância do azul

Mas eis que se apresentam um novo festival de salas
Vazios a serem imaginados
Lugares por desenhar
Chuveiros que não aplacam o calor

Sincronia dos móveis daquele que nunca teve relação com o tempo
E eu que tudo experimento no agora, sem mudanças
Porque constante, intenso – embora racional

Sinto tudo a memória inteira

Meu lugar é minha mente
Escondida, quem sabe, em algum lugar do cérebro
Pilhas de endereços paralelos

Sinestesia bagunçando sentidos
Muito mais que branco, bem mais que vermelho
Sempre presente com quem melhor se torna
Por elas feito estranho na descrição

Tudo bem agora, mas e no futuro?
Serão devir, significarão páginas escritas
Serei eu?

TUDO QUE QUERO É APRENDER COM AUTISTAS

Já é uma tradição pessoal no meu aniversário ir ao cinema, comprar livros, HQs, comer fast food. Na verdade nada muito diferente do que costumo fazer frequentemente. E hoje essa tradição teve um filme especial dada a minha pesquisa e atividade profissional com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Fui ver o filme Please Stand By, na tradução esquisita Tudo Que Quero (2018). O título em Inglês tem uma razão de ser no filme, acerca de se desorganizar/organizar.


Dakota Fanning está perfeita no papel de Wendy, uma jovem adulta com autismo e fã de Star Trek, que até mesmo escreve Fanfic da série. Combinação perfeita de tudo que gosto. Wendy é órfã e mora numa espécie de casa para autistas. Curiosamente a palavra autismo não aparece em nenhum momento do filme, embora esteja lá presente e percebemos o quanto o mundo pode ser difícil para alguém com essa condição, com essa identidade. Nem mesmo a profissional de saúde que dirige e mora também no lugar é descrita com psiquiatra ou psicóloga, ou outra atividade.

O filme é um road trip emocionante, Wendy vai para Los Angeles para entregar seu roteiro para participar de um concurso do estúdio de Hollywood que produz Star Trek. E seguimos vendo todos os desafios que alguém com autismo enfrenta no mundo real fazendo uma viagem sozinha. Sobretudo com aproveitadores, desonestos, sacanas, pilantras de toda espécie que aprecem no caminho.


E na sua sinceridade, falta de maldade e de teoria da mente na verdade nos mostram o quanto podemos aprender com eles. Afinal, já disse muitas vezes, e não digo isso de modo romântico, podemos aprender muito com os autistas. Eles estão muitos distantes na evolução humana, pertencem a outra categoria, a outro lugar, onde os humanos não são aproveitadores dos outros, onde a sinceridade e a bondade são os parâmetros.

Enquanto isso o que estamos fazendo é mostrá-los o quanto o mundo é feio e prepará-los para terem autonomia e não se deixarem enganar por ninguém. Mas o quanto seria bom se na verdade estivéssemos é aprendendo que o mundo pode ser melhor, mais sincero e só nos preocupássemos com o que importa para nós mesmo. Como Wendy e sua paixão por Star Trek.

CORAÇÃO AZUL

Insisti na magia dos seus olhos
Ponte para um universo paralelo
Com portas abertas para um teatro mágico
Algo inexplicável gritava com seu sorriso
Do palco que não resiste ao método científico
Das luzes de corações azuis
Mediados pela fibra ótica flutuante
Mesmo que dali a 81 dias resistente

Performances jogaram corpos em descoberta
Cortinas se abriram para o indefinido
Momento mágico de um quarto
Explosão quântica de um universo incontido
Dali em diante se desconheceu a forma
Virou epistemologia de movimento antropofágico
Ao sabor metafísico de chocolate numa torre
Luz rápida 1/8000 no obturador da câmera

Enamoramento que transborda em abraço
Laço que prende os ponteiros do relógio 
Conexões neuronais focadas no espetáculo
Dos nexos todos estelares contidos nesse ato
Descartes errou, assim como Damásio
A magia transcende as teorias e as evidências
Percepção confunde palco e plateia
E a sinestesia pinta 8 horas em tons de azul

LANÇAMENTO DO LIVRO PSICOLOGIAS EM REFLEXÃO



Lançando no Shopping Rio Mar Fortaleza o livro Psicologias em Reflexão, revista científica da Academia Brasileira de Psicólogos Escritores. Escrevi o artigo Neurofeedback no Tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade em parceria com meus colegas Eduardo Menezes, Bruno Ceppi e Sarah Roriz.


ARTIGOS NA REVISTA "EDUCAÇÃO EM PAUTA"


Alguns artigos meus na revista Educação em Pauta, publicação do SINEPE-CE (Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará). 

Afinal, o que é TDAH? | nº 91 - Link pra ler Online

Nova Técnica no Tratamento do TDAH | nº 93 - Link pra ler Online

Um Olhar Crítico Sobre Transtornos que Afetam a Aprendizagem | nº 95 - Link pra Ler Online

THE GOOD DOCTOR


Sabe aquelas séries que já nos primeiros minutos te prendem e você tem certeza que irá acompanhá-la até o ultimo episódio, mesmo que tenha várias temporadas e se passem anos? The Good Doctor é uma delas. E não só porque o personagem principal é um jovem médico autista, nem porque é do mesmo criador de House, mas porque é brilhante, sensível, correta.

Interpretação irretocável do ator britânico Freddie Highmore, sem estereótipo ou caricatura. A série nos faz pensar sobre as possibilidades laborais de autistas, uma preocupação constante desde que a família recebe diagnóstico, sobretudo dependendo do perfil dentro do espectro.

O jovem médico atém de TEA tem savantismo, condição rara de um tipo de inteligência muito acima da média. Oliver Sacks fala disso no livro Um Antropólogo em Marte, do qual já falei aqui. Não é o caso da maioria das pessoas com autismo, ao contrário, boa parte delas está abaixo, com frequente comorbidade de Deficiência Intelectual. Segundo estudos a prevalência seria em 70% dos casos, mas há críticas metodológicas às avaliações de inteligência em pessoas com TEA.

Espero que seja renovada para novas temporadas, e a julgar pela ótima audiência, superou até mesmo The Big Bang Theory na audiência americana (falarei do Sheldon e seu possível autismo em outro post), é provável que sim.

A série é baseada na original coreana, sendo pra maioria de nós ocidentais o remake é melhor, pelo menos pra mim, já que a plástica e interpretação está mais próximo do que estou habituado. O canal no YouTube AKTVasta fez um vídeo comparando os personagens das duas versões. Vale a pena ver, confira abaixo:



Publicado Originalmente em (Adaptado): Tons de Azul

TEMA AUTISMO NA SÉRIE HOUSE


Quem me conhece sabe que minha série favorita é House. Sobretudo pelo personagem, que, segundo amigos próximos se parece comigo, imagino que mais pela ranzizisse que pela inteligência.

Outro dia descobri um site americano que calcula a quantidade de tempo que se leva pra ver uma série (http://tiii.me/). No caso de House, com suas 8 temporadas, se leva 5 dias, 9 horas e 48 minutos. Como já vi cada episódio várias vezes, já devo ter passado cerca de dois meses só vendo essa série. Nem vou somar as outras que gosto.

Enfim, em três episódios o autismo é citado. Um deles, na quinta temporada, o foco é uma professora numa sala de educação especial. O aluno autista tem breve participação (5ª Temporada, episódio 13 - Big Baby).

Em outros dois o foco está em personagens/pacientes autistas. Ambos na 3ª Temporada. Em Rabiscos na Areia (Lines in the sand), House assume o caso de um garoto autista não-verbal. No outro, Meia Capacidade (Half-Wit), o paciente é um músico autista com Savantismo.

Curioso que em Rabiscos na Areia o próprio House é comparado ao autista por seu inseparável amigo e também médico, Wilson, que mostra que House pode ter Asperger. Faz sentido se considerarmos muitos dos comportamentos dele vistos ao longo da série.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

PODCASTS SOBRE AUTISMO


Um das maneiras mais legais de produzir conhecimento com o acesso fácil aos meios de produção e distribuição via Internet é o Podcast. Eu mesmo gravei dezenas com meus amigos da Garagem Dinâmica, startup de produção de conteúdo que fundei anos atrás com eles. O nome do Podcast era Papo de Coreto. Nossas muitas obrigações profissionais e acadêmicas, no entanto, fecharam as portas temporariamente da garagem, mas muitos outros podcasters que gostamos continuam na ativa.

Um deles, as meninas do Mamilos, que faz parte do grupo B9, é um dos que mais discutem temas bacanas através dessa mídia. Nessa semana pra minha surpresa e alegria (clichê verdadeiro), elas falam sobre Autismo. Com a participação de uma Neuropsicóloga (uruu!) e uma jovem autista de alto funcionamento (asperger) e de algumas mães, o programa tá massa. Fica a dica. É só clicar no link abaixo e ouvir em streaming ou baixar.



Outro Podcast Bacana, do meu colega na clínica Núcleo Tríplice, Odilon Duarte, com participação de outra colega da Tríplice, Lidianne Queiroz, especialista em Transtorno do Espectro Autista, o ACeará CAST, também trouxe em sua 41ª Edição, o tema autismo. Ouça ou baixe no link abaixo.


Publicado Originalmente em (Adaptado): Tons de Azul

POWER RANGER AZUL

Como já mencionei antes, busco inspiração acadêmica via arte, através de livros, filmes e quadrinhos (e fotografia!). Além de textos acadêmicos, venho escrevendo e participando de projetos artísticos e profissionais paralelos sobre TEA. Ainda falarei deles por aqui.

Um filme bacana que assisti recentemente foi Power Rangers (2017), que estreou em março desde ano. E não foi para matar a saudade do original, foi pura pesquisa! Embora eu tenha uma amiga ex aluna que adoraria ser a Power Ranger Rosa, eu particularmente nunca fui muito fã.

Mas essa releitura da série trouxe um elemento interessante, o personagem Power Ranger Azul (da foto, cujo boneco procurei por uma promoção, mas acabei pagando caro) foi construído como alguém com autismo. Muito bem interpretado pelo ator RJ Cyler, que se destacou tanto na trama, como fazendo o papel de um autista bastante convincente. A ideia de ser o azul também foi legal, visto que é a cor símbolo do autismo.


Publicado Originalmente em: Tons de Azul

"ATYPICAL" DA NETFLIX


Mandei um SMS agora há pouco pra minha amiga Iara especialista em TEA, pois é, quem ainda usa SMS, mas ela está desconectada do WhatsApp, tá magoada comigo. Eu disse na mensagem que quando ela vir Atypical, que ela leia algumas das frases do Sam (Keir Gilchrist)  como frases que eu mesmo poderia dizer pra ela, ou que já tentei dizer. Sobretudo quando ele diz que as pessoas acham que autistas (ou pessoas com autismo, tanto faz, a série também traz essa discussão), não têm empatia, que não percebem quando magoam alguém, já ouvi isso, que não gosto de ninguém.

A verdade é, diz Sam, é que percebem, mesmo sem saber as vezes o porquê, mas percebem muito mais intensamente que neurotípicos. É só lembrar de episódios com o House ou o Sheldon. Acabei de maratonar a série que estreou ontem. Que pena que é tão curtinha, somente oito episódios.

Ainda a reverei para pensar em mais detalhes, mas gostei muitíssimo. E se eu colocasse numa só palavra do que trata a série, seria de amor. De relacionamentos e de família. Não importa que o protagonista seja alguém com autismo, a série fala a todos. Mas é ótimo poder ver o tema em uma série tão bem produzida, dirigida e tão bem interpretada (por todos da família). Imagino até que algum dos roteiristas deva ter autismo ou tem algum familiar, porque a série tem sutilezas que só quem convive de perto sabe, tanto da questão da topografia dos sintomas (muito bem representadas), quanto de questões familiares e políticas.. 

Sam é de alto funcionamento, tem altas habilidades, quem sabe em outras temporadas (Netiflix por favor renove!) veremos outros exemplos do espectro. Quem sabe autistas reais como autores, o que seria ainda melhor.

Vale a pena ver, uma ótima maneira pra pensar sobre famílias que convivem com filhos autistas (que viram muitas vezes o centro das atenções e todos sofrem com isso), com seus conflitos, dramas, sobre inclusão escolar (que ideia incrível pro baile!), sobre aceitação na sociedade. Uma série sobre pessoas. Sobre todos nós.

VEJA O TRAILER:


Publicado Originalmente em: Tons de Azul

TEMA AUTISMO NA NETFLIX

Estreia essa semana na Netflix, no dia 11 de agosto, a série Atypical, que foca o cotidiano de um adolescente autista e suas dificuldades em lidar com as demandas da vida, típicas de um jovem entrando na idade adulta. Falarei mais da série futuramente.


E pra quem gosta da Netflix, existem outros filmes e séries que tocam na temática do autismo. Um deles, Asperger’s Are Us (2016), é um divertido documentário sobre um grupo de jovens autistas (dos que se consideram aspergers ou aspies) americanos que fazem apresentações de comédia. Sim! Comédia feita por autistas, vale a pena assistir. As cenas gravadas das performances são hilárias, assim como o próprio processo de criação e suas dificuldades, foco do filme.


Outro filme interessante, nesse caso na categoria ficção, mas baseado em fatos reais é O Farol das Orcas, produção espanhola e argentina de 2016 que narra a história de uma mãe que leva seu filho autista de 11 anos da Espanha para a Patagônia argentina depois que ele viu um documentário sobre um santuário de baleias e demonstrou uma reação emocional pela primeira vez. Um excelente exemplo de como pais de crianças com autismo fazem de tudo para ajudar no desenvolvimento de seus filhos.


Também disponível no serviço de streaming com personagem autista é a série Touch, de 2012, anteriormente exibido pela Fox, tendo duas temporadas. Focada mais no estereótipo do autista com altas habilidades matemáticas, a série traz bom divertimento, mas pouco conhecimento sobre o autismo real.


Publicado Originalmente em: Tons de Azul

VIDA ANIMADA


Em fevereiro deste ano, a 89ª edição do Oscar trouxe o documentário Vida, Animada (Life, Animated - EUA/França, 1h29min), como um dos indicados na categoria Melhor Documentário em Longa-Metragem.

O filme, disponível na Netflix, não conquistou o prêmio, mas ajudou a trazer mais visibilidade para o tema Autismo. Contando a história de Owen Suskind, um menino autista que ficou sem falar por anos, e que aos poucos passou a se comunicar através dos conteúdos de filmes animados da Disney, o documentário emociona por vermos a família engajada na luta para se comunicar com ele e ajudá-lo a se tornar funcional.

Com cenas reais gravadas pelo pais quando ainda era criança a narrativa se mescla ao Owen já um jovem adulto, se preparando para se formar no Ensino Médio (High School), ir morar sozinho e trabalhar.

O documentário se baseia no livro Vida Animada: Uma História sobre Autismo, Heróis e Amizade, lançado este ano no Brasil pela editora Objetiva. O autor é o pai de Owen, Ron Suskind, jornalista americano famoso e premiado com um Pulitzer, um dos mais importantes do jornalismo americano.

A narrativa da experiência de sua família desde o diagnóstico até a idade adulta de Owen é tocante, inspiradora e tem uma escrita agradabilíssima. Vale a pena ler.  E pra quem, assim como eu, sempre foi fã da Disney, tando das animações quanto dos quadrinhos, se torna ainda mais interessante.

VEJA O TRAILER:


Publicado Originalmente em: Tons de Azul

MEU MENINO VADIO


Tem sido comum encontrarmos livros de relatos de mães e pais de crianças com autismo sobre sua trajetória com essas pessoas especiais que muitas vezes transformam famílias inteiras.

No entanto, é claro que nem tudo é alegria e mudanças existenciais. O caminho é por vezes acidentado, cheio de dúvidas e sofrimento. Nem todos os familiares experienciam somente as alegrias de tem um filho “diferente”, e muitas vezes até se sentem culpados por não sentirem a exultação descrita por outros pais.

No livro Meu Menino Vadio (Intríseca) do jornalista Luiz Fernando Vianna encontramos um relato de uma sinceridade tocante. Muitas vezes descrevendo com um tom realístico que chega a causar incômodo, situações vividas por ele e seu filho com autismo, bem diferente dos relatos em geral românticos, de superação e redenção final. Nada contra estes, mas assim como cada autista é único, cada família experiencia a situação de modo distinto.

Um livro que causa desconforto, como causam todos os bons livros, que nos faz pensar em todas as transformações trazidas por essas pessoas especiais sobre as quais ainda estamos aprendendo acerca de seus mundos. E que nos ensinam constantemente também sobre nós mesmos.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

REVISTA MENTE & CÉREBRO - AUTISMO


Todos os meses cumpro o ritual de ir à Megastore Saraiva do Shopping Iguatemi pra comprar a revista Mente e Cérebro (E também a Psique) pra saber das atualizações nas áreas neuro e psi.

Nos últimos meses, a maioria dos números traz algo sobre Autismo. Na edição 289 há uma matéria sobre pesquisas genéticas em Saúde Mental, financiadas por comunidades religiosas (!) amish e menonitas nos EUA, que podem ajudar a entender e prevenir transtornos como autismo. Lembrando que essas comunidades vivem praticamente isoladas e com casamentos consanguíneos, que favorece transtornos mentais (o que seria uma linha a que eu utilizaria nas minhas pesquisas nos Kanindé de Aratuba, cujos matrimônios e constituições familiares são sempre circunscritas à comunidade).

No número 290, conhecemos o projeto 29 Acres em Dallas, no Texas, que pretende abrigar autistas adultos, previsto para inciar ainda este ano de 2017. A futura vida adulta é uma das preocupações constantes de pais de crianças autistas.

E essa preocupação também pode ser vista na edição 291, na matéria que fala sobre os desafios para jovens adultos autistas entrarem no mercado de trabalho. Projetos também nos EUA estão atendendo a esse público e ajudando-os a se preparar para o ingresso no mundo do trabalho, inclusive via Universidade.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

OUTRA SINTONIA


Um dos meus lugares favoritos certamente é a livraria. Várias em Fortaleza, incluindo sebos como o do Geraldo no centro da cidade. Tenho percepções diferentes quando vou à Livraria Cultura, Leitura e Saraiva, cada uma gosto de ir em uma situação/humor específicos.

Sempre li de tudo, creio que como sociólogo e psicólogo tenho de estar por dentro de vários assuntos, mas, claro, tenho minhas predileções e, muitas vezes, meus hiperfocos e manias. No momento obviamente é o Autismo, por questões acadêmicas e de trabalho.

E muita coisa tem saído sobre o tema, tendo tanto ótimos trabalhos quanto descarados caça niqueis dos pais e interessados no assunto. Tem até prateleiras nas livrarias dedicadas exclusivamente ao tema.

Mas essa semana tive uma ótima surpresa ao achar da editora (uma de minhas favoritas) Cia. das Letras o livro  Outra Sintonia: A História do Autismo, de John Donvan e Caren Zucker, jornalistas americanos que contam em quase 700 páginas, numa narrativa fascinante, a história do autismo.

Ainda não acabei de ler, mas estou extremamente entusiasmado pela narrativa e quantidade de informações históricas e discussões que me interessam diretamente em termos de saúde mental e educação. Certamente será um dos livros que mais citarei na minha dissertação e demais trabalhos acadêmicos sobre o tema.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

A DIFERENÇA INVISÍVEL


Nunca consegui me aproximar de um tema de estudo sem ir em busca de tudo que estivesse relacionado, seja em qualquer mídia. Nem sempre temos o melhor entendimento de um assunto só através de textos acadêmicos. Muitas vezes um texto de divulgação científica ou uma matéria para leigos ajudam muito mais. Além de músicas, filmes, literatura de ficção, games e HQs…

Sim, HQs, Histórias em Quadrinhos, que, ao contrário do que muita gente pensa, não são só para crianças e adolescentes. Têm de diversos gêneros e para todas as idades. Um dos que mais gosto são as HQs autorais (sou fã e colecionador de quadrinhos, além de já ter pesquisado na área também, mais especificamente mangás, os quadrinhos japoneses), normalmente com histórias baseadas na própria experiência do autor, narradas em primeira pessoa.

Publicada recentemente pela Editora Nemo, que tem lançado diversas HQs de cunho mais autoral e pessoal dos artistas, A Diferença Invisível das francesas Mademoiselle Caroline e Julie Dachez traz a história de Marguerite (alter ego de Dachez), que foi diagnosticada como tento Asperger aos 27 anos.

A narrativa tem uma sensibilidade tocante e poética e consegue ser, ao mesmo tempo, informativa sobre esse tom do espectro autista. Lembrando que nem todos concordam em ainda usar o termo Asperger (ou Síndrome de Asperger), cunhado por Lorna Wing em 1981, psiquiatra inglesa e mãe de uma criança autista em homenagem a Hans Asperger que em 1944 descreveu formas leves de autismo.

Muitos dizem, a partir do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Quinta Edição na sigla em Inglês), que o Transtorno do Espectro Autista descreve todas as características de qualquer nível. Porém muitos outros, sobretudo pessoas com esse tipo de autismo gostam de se identificar como aspergers, ou aspies, como a própria autora da HQ. Nesse sentido me identifico em muito com a HQ num nível pessoal.

Além de uma gostosa leitura, certamente estando agora na minha lista das melhores HQS de qualquer gênero na minha opinião, é um excelente modo de aprender mais sobre alguns tons do fascinante mundo do Transtorno do Espectro Autista.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

VEJA AUTISMO


A despeito das diversas controvérsias entre meus colegas de ciências da saúde e ciências humanas acerca da parcialidade/imparcialidade da revista Veja em relação à política, fiquei feliz ao saber que a edição dessa semana trazia como matéria de capa o Autismo.

Fui ainda ontem (sábado) à uma banca da Praça Portugal (Fortaleza) ver se já havia chegado, mesmo sabendo que o dia normal de chegada à banca é hoje. Mas a viagem não foi totalmente perdida, coincidentemente o dono da banca é pai de um menino com autismo. Tivemos uma boa conversa, ele, Iara (que estava comigo e tem conexões pessoais e profissionais comigo e com o Autismo) e eu. Aliás, Iara, obrigado por comprar a revista hoje cedo pra mim!

A matéria é bem curta, mas bem fundamentada no que se sabe (e no que ainda não se sabe) sobre o TEA. Todas as redes sociais de associações de pais e amigos de autistas têm repercutido a matéria, inclusive ontem mesmo já havia o PDF da matéria circulando pelos grupos do WhatsApp.

A matéria traz ainda mais visibilidade para o assunto, inclusive com pistas interessantes para pesquisas acadêmicas interessantes para mim.

Link para a Revista: Autismo: os avanços científicos por trás de um grande enigma

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

TEMPLE GRANDIN


Temple Grandin é uma celebridade mundial, tanto por suas contribuições ao campo da Zootecnia, quanto por suas pesquisas e ativismo em relação ao TEA (Transtorno do Espectro Autista. O filme Temple Grandin, de 2010, produzido pela HBO, conta uma parte de sua trajetória, sobretudo a acadêmica, que vai do diagnóstico médico na infância de que nunca falaria, até sua entrada no mestrado. Posteriormente Temple também obteve seu doutorado em Zootecnia.

A superação do diagnóstico inicial se deveu sobretudo a forte atuação de sua mãe, que reflete em grande medida o ativismo intenso de pais de filhos com TEA em todo mundo, que tem conseguido visibilidade, legislação especifica e políticas públicas para os autistas.

O filme é inspirador par qualquer pessoa, mesmo sem contato com TEA. E eu diria especialmente para se pensar também questões de saúde mental e de gênero, já que Temple precisa em sua jornada superar tanto o preconceito com sua condição mental, quanto também o preconceito por ser mulher numa área profissional dominada por homens.

A atriz que faz o papel de Temple Grandin está espetacular, tendo ganho diversos prêmios, assim como o próprio filme. Claire Danes é conhecida por sua atuação na série Homeland e no filme Romeu + Julieta de 1996 em que contracena com Leonardo Dicaprio, entre vários outros.

Feito para TV e não para o cinema, teve um alcance menor no grande público, ainda assim com bom reconhecimento. Pode ser visto pela HBO Now e HBO Go, além de outros vídeos sobre os bastidores e entrevistas com o elenco. Link: http://www.hbo.com/movies/temple-grandin

VEJA O TRAILER:

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

UM (A) ANTROPÓLOGO (A) EM MARTE


A primeira vez que tive alguma leitura sobre TEA foi com o livro do neurologista Oliver Sacks Um Antropólogo em Marte, em que, no capítulo com o mesmo título, narra seu encontro com Temple Grandin.

Temple é citação obrigatória em palestras e textos sobre TEA, pelo menos dos cálculos de minha própria estatística subjetiva. Autista notável, tem PhD em Zootecnia e é responsável por muitos dos protocolos de tratamento humanizado no manejo e abate de gado.

Comprei o livro por acaso, daqueles que compramos simplesmente por causa do título, na época estava na faculdade de Ciências Sociais e embora soubesse que Oliver Sacks era neurologista, achei que houvesse alguma referência à Antropologia como ciência. Não havia. E o livro foi esquecido na estante.

Já na faculdade de Psicologia, onde somente uma única professora falou sobre TEA, numa única aula, e de forma bem superficial e caricata, voltei a me interessar pelo assunto. Sobretudo porque, paralelamente estava fazendo meu primeiro mestrado, cujo foco era Políticas Públicas e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade). E o autismo, quando se fala em TDAH, naturalmente vem à tona. Tanto por questões de diagnóstico diferencial, quanto de comorbidade.

Voltei a consultar o livro esquecido, mas não tão empoeirado, dado as diversas mudanças de lugar de minha biblioteca nos últimos anos. Porém fiquei no capítulo “Prodígios”, em que o autor fala de savantismo, que para muitos é um tipo de TEA – Inclusive para Sacks, aqueles com capacidades intelectuais bem acima do normal. Como entre meus interesses de pesquisa a inteligência é um dos principais, o capítulo se tornava mais interessante.

Porém, há alguns dias, por causa das minhas novas pesquisas acadêmicas, li o capítulo “Um antropólogo em Marte”, que, como disse, dá nome ao livro, que reúne histórias de casos neurológicos incomuns, característica dos livros de Sacks, que, é bom ressaltar, tem uma escrita deliciosa. Vale a pena ler seus livros, até para refletirmos sobre nós mesmos, nossas identidades e subjetividades a partir de casos que destoam do esperado. Seu mais famoso é Tempo de Despertar que deu origem ao filme de mesmo nome, com com Robert De Niro e Robin Williams. Mais recentemente também publicou, um pouco antes de sua morte em 2015, sua autobiografia chamada Sempre em Movimento: Uma Vida. No Brasil todos os seus livros são publicados pela editora Cia. das Letras.

Temple diz para Sacks que a maior parte do tempo se sente como uma “antropóloga em marte”, dada a dificuldade de entender as emoções complexas e jogos emocionais em que as pessoas se envolvem. Daí o título tão curioso. Embora na tradução o mais correto fosse uma antropóloga em marte, contudo na nossa linguagem e cultura muitas vezes machista o título poderia não ser “vendável”, mas pelo menos não leríamos uma mulher se chamando de antropólogo no texto. Como anthropologist é neutro em inglês como neurologista ou psiquiatra em português os editores poderiam ter feito uma adaptação mais adequada.

No entanto, o capítulo é uma ótima aproximação inicial sobre TEA, sobretudo por ter informações científicas, mas contadas numa narrativa agradável, com uma personagem real e interessante em muitos aspectos, inclusive em sua especificidade autista.

Publicado Originalmente em: Tons de Azul

Sd – R – Sr+

O peso da sua espontaneidade
Sobrecarregou meus protocolos

Sua força gravitacional em minha existência
Desvelou meu espectro
Forçou a atração do meu casulo

Do meu eu otaku
De mim comigo mesmo
Do meu próprio mundo
Do meu eu DSM e CID
Medos disfuncionais

Bagunçou meus livros na estante
Classificados segundo Dewey
Me fez ver DivertidaMente
Apontou minhas emoções
E eu as procurei nos indexadores acadêmicos
Descritores racionais da poesia do agora

Você é peso, é força
Contestação de minha metodologia

Pela primeira vez a caminho do sol
Mistério da criação de vida
Com uma ou outra explicação científica
Da força de sua presença
“Do bem que você promove a este ser antes estéril”
Como na canção de Erick Oliveira* que mandei pra você

Sd – R – Sr+
Caos beijando cosmos
Perdi minhas referências
Embaralhei minhas crenças

Meu devir porém
Deseja sua espontaneidade constante
A capturar meu sorriso

Não me limito mais aos conceitos
Experencio a existência
Mesmo através da raiva
Amor...
Tomás de Aquino não é só mais um livro na estante
Não mais só aula de filosofia

Você decolonizou minhas paixões
Oprimidas há tempos pelo meu tão concreto cérebro

Grafitou minha neurobiologia
Poetizou meu ser tese
Coloriu meus tons de azul

Estou andando sem meus mapas
Sem meu Waze
Sentindo e não só pensando
Chega de trilhos de trem
Quero trilhas com você


*O Bem-Ser, canção perfeita do meu amigo e cantor incrível. Curta: Erick Oliveira

NOVA PLAYBOY, NOVA SOCIEDADE

Em minha pré-adolescência não havia internet como a conhecemos agora. Desde os anos 1960 que ela vem sendo aperfeiçoada, mas somente na década de 90 é que o protocolo World Wide Web (WWW) foi criado, o que tornou acessível seu uso para todos nós. No fim da minha adolescência a gente precisava esperar dar meia noite para pagar apenas um pulso local na internet discada com aquele barulhinho mágico que lembramos com saudosismo (ou ansiedade causada por sua lentidão). Dizem que (pesquisas sérias) a velocidade da internet só tem aumentado cada vez mais por causa da difusão da pornografia e da nudez. Faz sentido.

Nos meus tempos de pré-adolescência ver mulheres nuas só através de revistas compradas em bancas. Homens nus nem se falava, não haviam revistas especializadas em nudez para o público feminino. Na verdade, acho que ainda nem existem, algumas que foram criadas atendem mais ao público gay masculino. Hoje qualquer adolescente tem em seu smartphone via internet acesso ao que bem quiser de material de nudez ou pornográfico. E gratuitamente. Nos meus idos anos tínhamos de comprar as revistas. E por sermos menores de idade a coisa dificultava.

Todos os dias eu ia a banca de revista de minha cidade para comprar HQs. Lia de tudo, tempos bons. Era apaixonado por quadrinhos. Ainda sou, mas agora estou chato e seletivo, chatice vem com a idade. E sempre via as revistas masculinas por lá, mas não podia comprar. A dona da banca jamais venderia. Então dois amigos e eu tivemos uma ideia, vamos comprar uma Playboy, basta pedir a um amigo maior de idade. Fomos até a banca, compramos algumas HQs e escolhemos olhando de longe a Playboy que nos abriria para aquele mundo até então desconhecido. E lá tinha a Playboy Bar. Eu disse, se a Playboy é boa imagina a Playboy Bar. Pedimos ao amigo e ele comprou. Fomos meus dois amigos e eu vê-la, empolgados, a caminho da escola.

A Playboy foi uma revista revolucionária, inclusive para muitos estudiosos ajudou enormemente a mudar a cultura sexual no ocidente, abrindo mentes para uma sexualidade mais natural e saudável. Afinal a Playboy não era só nudez, mas falava de cultura e estilo de vida. Quem nunca disse que comprava a Playboy pelas entrevistas e matérias e ninguém acreditava? (Mesmo que fosse verdade!). Tem um documentário muito bom no canal History sobre a importância da Playboy na cultura sexual ocidental. Vale a pena ver.

Ao abrirmos o plástico que protegia a revista a emoção aumentava a medida que calmamente fomos folhando suas páginas. Porém, com o passar das páginas cadê a nudez? A revista, garotos ingênuos, falava de bebidas! Claro, Playboy Bar! Que decepção. Rasgamos a revista frustrados e jogamos suas páginas pelas ruas da escola (eram tempos politicamente incorretos, ainda fazíamos esse tipo de coisa com o meio ambiente). Fomos pra aula e aquilo sempre foi uma cômica frustração nas minhas memórias acerca da Playboy.

Anos se passaram e muitas delas eu pude ver (sobretudo pelas entrevistas e matérias!). Teve até a edição americana cuja capa era a Marge Simpson. Histórica. E nesses anos tanta coisa mudou. Inclusive nossa maneira de entender a nudez feminina. E também de como acessá-la. As novas tecnologias proporcionaram acesso a esse material como nunca. Nosso acesso mudou e, ainda bem, nossa percepção também. Entendemos que objetificar a mulher não é algo legal e, muito menos, querer restringir-lhes o que fazem de seus corpos. Aprendemos com Foucault sobre biopoder. Ainda que, como diz aquela filósofa linda e inteligente da revista VIP, Carol Teixeira, a mulher exposta nas revistas é que tem o poder sobre o homem. Boa discussão.

Mas o fato é que tanto a chegada das novas tecnologias quanto nossas mudanças culturais, entendendo melhor sobre gênero, mudaram a Playboy. Antes ela influenciou a cultura, agora está sendo influenciada por ela. E a discussão de gênero vem sendo promovida sobretudo pelas ciências humanas. E discussão e luta social que tem mudado vidas. É o que digo para quem pergunta pra que servem as ciências humanas, digo para isso, melhorar a vida das pessoas.

No caso da Playboy americana a decisão foi de não mais publicar nudez. Não dá pra a competir com a internet.  E a primeira capa depois da mudança foi de uma jovem (que parece ainda mais jovem que a idade, imagino algo proposital da revista), que lembra uma foto do Snapchat. Claro, hoje pra quê comprar revista de alguém que você não conhece se pode ver os nudes de seu coleg@ de sala da faculdade? As redes sociais proporcionaram isso.


Aqui no Brasil a revista anunciou no fim do ano passado o seu encerramento. Novos investidores compraram a franquia e fizeram um reposicionamento de mercado. Focando na nossa nova percepção e entendimento sobre mulheres e gênero. As modelos não serão mais pagas, porque não se pode por preço nas mulheres, com isso também não haverá mais disputa de ver quem ganha maior cachê, as mulheres são iguais em seu valor. Como não serão remuneradas elas é que vão escolher como serão fotografadas, se terá nudez completa, parcial ou nenhuma e quais fotos irão compor a revista. O foco estará na mulher toda, não somente em seu corpo. Ganharão financeiramente através de contratos publicitários. 

Isso é só o capitalismo se reinventando para se adequar ao mercado? Talvez, mas mostra também que estamos avançando como sociedade. Para a primeira capa chamaram a Luana Piovani, símbolo brasileiro de mulher madura, linda, inteligente e independente. Uma espécie de arquétipo da nova mulher. Ou de um novo tipo de mulher, existem muitos, o que é ótimo. 
Esse reposicionamento de mercado da Playboy foi um ótimo tema de discussão com meus alunos da faculdade de Administração numa discussão sobre gênero na disciplina de Cultura e Cultura Organizacional.


Baixei na internet (em alta velocidade e não mais há tempos, discada) a revista para ver as mudanças, fiquei curioso, mas normalmente na internet só tem as fotos. Queria ver toda (além de não só piratear), e fui até uma banca comprar a edição, como fazia em anos passados. Foi simbólico pra mim. Relembrei da Playboy Bar. Acho que a revista precisa melhorar ainda na apresentação da mulher de forma mais completa, mas é um avanço. Estamos progredindo. 

SOBREPOSTOS

Sua espontaneidade captura meu sorriso
E eu a invado de sonhos de menina
Desconstruímos o que era posto
Agora sobrepostos autenticamente
Significando cada momento
Paroxismo predestinado ao fim do dia
Ou a noite dos espíritos livres

Diferenças subvertidas por desejos
Verdades reveladas por olhares
Confeccionamos planos loucos
Sem nunca desenhar a normalidade
Nossa condição para a existência

Narrativa natural e exclusiva
Impensada pelos comuns
Cenários e roteiros inusitados
A duvidar que não há câmeras
Ou personagens criados em alucinações

Pode-se falar de sentimentos?
De pensamentos?
Ou até de estímulo e resposta?
Discutir Kant
Crítica da Razão Pura
Perguntas fundamentais
A mim que sou tão racional
E até se converter
Ao material mágico da realidade
A que for plausível à percepção
A que for criatividade

O que for nosso
O que for
Porque já é