NO BRASIL, É ÓTIMO SER POBRE

É ótimo ser pobre no Brasil. Parece absurdo afirmar isso, mas os menos favorecidos dentro do nosso sistema econômico têm uma série de vantagens e benefícios que o Estado lhes proporciona.
A começar pela moradia. São vários os programas que dão casas para os que moram em áreas de risco, favelas ou que não podem pagar. O gasto com energia é mínimo, pois o consumidor de baixa renda conta com um subsídio que lhe dá um desconto considerável no valor de sua conta mensal. E, no campo, existem vários subsídios agrícolas para os pequenos agricultores.
Contam com um excelente programa gratuito de saúde. Através de hospitais e postos de saúde com atendimento clínico, exames, cirurgias – inclusive cirurgia plástica, tratamentos e remédios, tudo gratuitamente. Para quem mora distante há o programa Saúde da Família. Há também programa odontológico de graça. Uma pessoa de baixa renda não precisa comprar nem mesmo preservativos.
Outra coisa que têm de graça para si e para os filhos é educação, inclusive com direito a merenda e livros didáticos, podendo, inclusive, obter um diploma de nível superior numa universidade pública. Além disso, existem vários cursos profissionalizantes gratuitos para quem não pode pagar. Se quiser ter filhos e não tiver dinheiro o Estado fornece à mulher uma renda extra para que ela possa se sustentar no período da gestação e imediatamente depois. Some-se a isso os programas de transferência de renda como o Bolsa Família, Bolsa Escola, Fome Zero, Vale Gás e tantos outros. Mais tarde é possível se aposentar ganhando um salário mínimo sem nunca ter contribuído para a INSS.
Além de tudo isso ainda é possível ter lazer e atividades esportivas gratuitas. E através de ONGs e instituições de caridade é possível conseguir muitos outros benefícios. Junte-se a isso, por fim, os “bicos” nos cruzamentos.

Publicado originalmente no jornal O Povo, de 25 de agosto de 2007

MUNDOS INDEPENDENTES


DIREÇÃO


EM MEUS OLHOS

Não pude ainda ouvir a sua voz em frases inteiras em textos dirigidos só a mim, onde eu pudesse te responder e articular sons que traduzissem o que meus olhos já declamam quando encontram, brevemente, os seus. É a distância talvez que mais me põe perto de ti.
Não pude ver ainda todas as marcas do teu rosto. Vejo-te de longe e meus olhos, mesmo deslumbrados, não te captam por inteiro, seja com tua roupa de trabalho ou vestida de outros modos que me encantam mesmo sem você saber.
Sou presa, és livre, mas tenho que te considerar impossível, pois eu mesma o sou. Queria pelo menos ser tua amiga e ter mais ciúmes ainda quando te vir enamorada. Quem te abraçará e te levará ao altar? Certamente não poderá ser eu. Mas se por um instante nos tornássemos loucas e profundamente existencialistas e nos uníssemos, fôssemos cúmplices num arrebatamento de paixão e desvarios, me entregaria como Sonoko Kakiuchi[1]. Ao acordar, condenadas, não saberíamos se essa paixão louca fora sonho ou realidade, teríamos a lembrança prazerosa de um orgasmo de sentimentos. E de corpos.

[1] Personagem do escritor japonês Junichiro Tanizaki, que se apaixona, mesmo sendo casada, por uma colega de curso.

OLHOS MISTERIOSOS

Olhos misteriosos
A ti sorriu Cupido
Que me fez decifrá-los
No instante mágico
Em que flechou-me para ti

Protagonista de meus lugares imaginários
Onde me despedi da razão
E a existência fez sentido

Eis o novo mundo
Pequena Deusa
Universo paralelo dos diferentes
Bem-vinda a liberdade de realizar desejos
De viver o sonho
De criar histórias
Da ousadia de amar loucamente

Seja você, seja atrevida
Sinta o prazer do privilégio
De ser iluminada

Traduzirei seus anseios
Abrirei os caminhos
Foste chamada à vida
A incendiar-se no êxtase
Da paixão arrebatadora

Teu é o poder
Minha salvação e minha perdição
Sou só teu
Por que livremente preso a ti

MINI CONTO

De como um amor sublimado por muitos anos que tanto mal fez para os apaixonados finalmente foi agraciado com os favores dos deuses comovidos com as preces sinceras e insistentes para que finalmente chegasse o momento onde a vontade do Destino criasse um dia propício para mais uma celebração amorosa

se olharam como sempre faziam mas dessa vez o beijo há muito fantasiado foi real

PELE


CRISE DO TRABALHO

Diante dos elevados níveis de desemprego o Estado tem se tornado cada vez mais impotente, não lhe sendo possível assegurar uma política de pleno emprego, já que não pode interferir de maneira eficaz na racionalidade da economia de mercado, uma vez que o trabalho não é mais considerado, pelos novos nomes da razão econômica, o centro do processo produtivo. O Estado só pode interferir de maneira paliativa, investindo mais em políticas de proteção ao desempregado que em políticas de geração de emprego. É o que tem ocorrido tanto nas chamadas economias centrais como no Brasil.
Essa incapacidade do Estado em promover o pleno emprego, está aliada a constante crise econômica, que vem revelando que o capitalismo atingiu o ápice de sua expansão, notado pela falta de crescimento expressivo, pouco investimento em criação ou expansão de novas empresas e sim fusão de grandes corporações e produção de bens cada vez menos duráveis para acelerar o consumo.
O Estado social não pode interferir diretamente no sistema econômico, qualquer medida deve estar dentro desse sistema, o que dificulta seriamente um programa que gere emprego e renda, somando-se a isso os novos processos de trabalho, influenciados tanto pelas novas tecnologias como pelo novo modelo de funcionário polivalente, que realiza o trabalho de várias funções, obviamente ganhando por uma só. Além disso, o Estado não pode garantir o trabalho como um direito civil sem onerar a própria classe trabalhadora através dos impostos para cobrir as despesas de seguro-desemprego, previdência e indenizações. E isto se torna mais grave pelo alto índice de trabalhadores informais.
Nessa crise onde o mais importante é manter as empresas e, naturalmente, o lucro, falta espaço para manter as conquistas históricas da classe trabalhadora e para avançar em novas.

Publicado orinalmente no jornal O Povo de 30 de abril de 2007

ILLIANA

Illiana - era assim que chamava a si mesma - não agüentava mais a sua existência. Presa, numa caixa de ouro, no fundo do rio Tebas. Tomara consciência de sua existência já há muitas gerações. Era o feto abortado de uma deusa, que, estranhamente, não nascera, e mais ainda, permanecera vivo. Sua consciência ultrapassou o cárcere do corpo. Nas sombras e solidão das geladas águas sonhava com o mundo exterior que jamais iria conhecer, apenas intuía, com seus poderes semi-recebidos, a beleza da Terra e do Olimpo, morada de sua mãe que ousou amar um mortal odiado pelos deuses.

EU

Gosto de sonhar
Acordar no meio da noite
Lembrar-me em mundos estranhos
Talvez mundos paralelos
Onde sou outros (e outras)
Gosto de ser eu
E esta vida (dita real)
A qual penso ser a matriz
É responsável por isso
Mas outros eus pensarão a mesma coisa?
Os sonhos me fazem outros (e outras)
Como este que agora me acorda
Dirão vidas anteriores
Reminiscências
Prefiro achar que vivo vários eus
(Ao mesmo instante)
Sonho de ator

Voltarei a dormir
Quero saber mais de mim

COMEÇO DE LONGAS DATAS