OBRIGADO, COLÉGIO PERBOYRE E SILVA


Muitas pessoas têm os chamados sonhos recorrentes. Aqueles, que, vez por outra Morfeu, o deus grego do sono e dos sonhos repete em nossas noites. Reprises recorrentes de fragmentos do inconsciente, diria Freud. Meu único sonho recorrente, pelo menos aquele que resvala em meu consciente, presente de Mr. Sandman, é com a escola onde passei alguns anos de minha vida, o Colégio Cenecista Perboyre e Silva. Comum por muitos anos, esta reprise onírica esteve em cartaz em muitas de minhas narrativas noturnas e quiçá, diurnas também. Mesmo já na universidade era comum eu sonhar com episódios envolvendo salas de aula, colegas e professores da faculdade, como se vividos nas dependências daquela escola. Compreensível, visto eu ter passado 15 de meus anos lá. Dez como aluno e cinco como professor.

E nesses 50 anos que a escola está completando só posso agradecer por todos os frutos maravilhosos que lá colhi. Estudei com alguns colegas que foram e ainda são meus melhores amigos, como o Clodoaldo. Muito do que sou hoje são faces e facetas de minha história naqueles corredores e salas. Em estudos, conversas paralelas, fugas cinematográficas para se livrar das aulas, namoricos, discussões, brigas, elucubrações e descobertas. Foi onde descobri que não levava jeito para os esportes, mas foi também onde descobri que podia ser escritor. Aliás, foi lá que duas professoras acreditaram antes de mim mesmo que eu podia escrever. A Profa. Áurea e também a Profa. Maria Helena Russo, de quem, anos depois, eu tive a honra de ser colega.

Dois de meus melhores e queridos amigos, com quem muito aprontei nos anos de aluno se tornaram também colegas de trabalho no meu tempo de professor. Deassis e Freitas. E nesse período de professor três colegas se tornaram amigos. Allan, Paula e Ana Paula.

Vários alunos também se tornaram amigos, três deles bem próximos. Acélio, Amaury e Kellson. E juntos com Ritiélly e Vanessa, também alunas, criamos um grupo literário hoje conhecido e reconhecido na cena underground de várias partes do país, os Luminários. E folgo em dizer que todos os cinco estão hoje na faculdade, o que me deixa bastante orgulhoso deles.

Até relacionamentos amorosos tive lá.

O “colégio”, modo que nos referimos a esta querida escola, talvez por acharmos que ela seja de fato “o” colégio de Redenção, por não termos dúvida de que seja realmente o melhor, me deu, quando ainda aluno, amigos verdadeiros, aprendizagens eternas e a convicção de uma carreira através da escrita. Quando professor me deu mais amigos e também subsídios profissionais e intelectuais que emprego na política profissional do Instituto Maria Ester e da Fundação Maria Ester, as quais, entre outras áreas, atuam na assessoria educacional.

Hoje estou como admirador e agradeço por todos os encontros e desencontros que lá protagonizei e pelos episódios e cenas dos quais fui platéia. Hoje só parabenizo por suas bodas de ouro. Hoje só me delicio nas memórias de meu hipocampo. Hoje só me reencontro existencialmente nos vários colegas com quem ali contracenei como a Rosângela, o Seu Neném e a Rita. Hoje só pontuo tudo que ensinei e tudo que aprendi com meus alunos, como o Glawber, o Ézio e a Monyk (que também estão na faculdade) e tantos outros que me marcaram. Hoje declaro meu orgulho cenecista (desculpem-me as outras escolas onde já estudei, dei aulas ou oficinas). Hoje só tiro o chapéu e digo obrigado, colégio Perboyre e Silva.

Na ocasião da festa do reecontro os ex-professores foram homenageados com um cordel de autoria do poeta Ari. A estrofe que faz referência a mim, transcrevi abaixo:

Marcelo, grande amigo,
Na Literatura e Redação
Ensinava com muita garra
De acordo com a precisão,
Pois era bamba nos assuntos
Que juntando todos juntos
Causava admiração