Saiu meu novo livro infantil pela Secretaria de Educação do Ceará, através do PAIC. Os livros são destinados aos programas da Secretaria, distribuídos em todas as escolas do Estado, com tiragem de 30 mil exemplares. Quero Meu Cabelo Assim faz parte da coleção 2012, que está sendo distribuído este ano. Em 2011 Café Com Pão Bolacha Não também com tiragem de 30 mil exemplares foi distribuído nas escolas ano passado. A ideia para Quero Meu Cabelo Assim surgiu a partir de um post anterior aqui do blog: O Cabelo de Pedro.
ESCOLHAS PROGRAMADAS
Jackson Pollock
(1912-1956)
Number 18, 1950. Oil and enamel on Masonite, 22
1/16 × 22 5/16 inches (56.0 × 56.7 cm)
Sou apreciador de Pollock há bastante tempo, desde
minhas investidas do final da adolescência, quando seminarista, ampliadas pelo
filme biográfico de 2000 (Pollock),
quando com 22 anos já pós-abandono do seminário, e na faculdade de Ciências
Sociais.
Olho pra esta pintura e vejo o caos da
existência. Minha e coletiva. E tento aceitá-lo. Para alguém que foi da
religiosidade ao ceticismo, que acreditava em propósitos divinos e encontrou a
filosofia existencialista e a liberdade (angustiante) de escolha, o cosmos (em
oposição ao caos) fazia sentido. Havia um projeto pra mim dentro do programa geral,
mesmo entre as muitas linhas de cores sobrepostas, crer intelectualmente na
teologia da predestinação me fazia seguir em frente.
Agora olho pra mesma pintura e só enxergo o
acaso. A multiplicidade de linhas e cores caóticas no fundo cinza (o mundo não
é preto e branco como eu pensava). O acaso que faz o papel de destino e limita
minhas escolhas existenciais, profissionais, amorosas. Hoje não sei se sou
livremente influenciado por Sartre ou predestinado a ser calvinista. Saí da
crença em propósitos para a da livre escolha e hoje vejo que nossas escolhas
são circunstanciais, passando até pelo determinismo do behaviorismo.
Não acreditava em destino, mas em
predestinação, o que é diferente. Pensava num livre-arbítrio dentro desse
propósito, mas o que vejo agora é destino, que pode ser chamado de acaso, como
no livro O Andar do Bêbado, do físico
Leonard Milodnov, que argumenta em favor das distribuições de probabilidade nos
acontecimentos em nossa vida, das determinações sociais. E na neurociência
encontrei as evidências das determinações também genéticas. Até a reação de luta e fuga é randômica em cada indivíduo e seu próprio cérebro reptiliano.
Vejo o caos na tela. E tento aceitá-lo.
Inclusive passando pelos teóricos da complexidade, ou do caos, como Fritjof
Capra, para quem tudo está conectado. Como na pintura. Como eu no meio do caos
das muitas escolhas circunstanciais. Escolhas que pra mim passam (e angustiam),
sobretudo na área profissional. Partilhando da busca moderna de realização no
trabalho, de encontrar sentido no trabalho, da angustia diante das diversas
opções e dos olhares da minha família cujos membros encontraram a realização
sobretudo (e para eles a única válida) financeira, no meio disso tudo abandonei
o seminário, tornei-me sociólogo, dei aulas no Ensino Médio e Superior, desisti
para entrar no ramo da consultoria, o qual estou agora, mas com as devidas
angústias. Estudante de Psicologia e de Mestrado na área de Sociologia e Psicologia sigo
olhando para a tela e vejo as interconectividades nas linhas e cores e tento
encontrar o que sou profissionalmente, como quero ser. Qual a cor? Qual a
linha? As escolhas que fiz dentro das minhas possibilidades foram adequadas?
Terei novas escolhas? O quadro é caos, o quadro é dor, não aceito o não-cosmos
e as muitas possibilidades como na adolescência quando sabia (acreditava) que
podia fazer (e realizar) qualquer coisa.
Penso nos anos que ainda terei. A pintura é
feia, seria melhor a pintura imaginada por Oscar Wilde de Dorian Gray e me
prender à juventude, de não ter medo de mudar a cor, a linha. De ter uma
carreira constante, um trabalho contínuo, uma carreira vitalícia. Mas as
transformações no mundo do trabalho não deixam. Ter mais de uma profissão é
necessário, ter mais de um diploma uma crescente representação social. Os
trabalhos do momento são por projetos com começo, meio e fim, são efêmeros. E
são múltiplos os trabalhos e as carreiras. Muitas cores, muitas linhas. Lutam
entre si. E queremos que façam sentido, que nos deem comida, mas também diversão
e arte como na música. Mas o caos permanece, as bordas do quadro têm fim – como
a nossa existência. E as escolhas constantes nos tomam anos. E a vida segue sem
que eu encontre a gota de tinta inicial que caiu na tela. Nem sequer sei sua
cor.
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