MINHA MÃE LUCÍLIA


Altruísta. Seria esse o adjetivo que eu usaria para definir minha mãe em uma só palavra. Sempre dedicada aos irmãos na juventude, e aos filhos até hoje. Excelente dona de casa e “mãos de fada” na cozinha, seu talento especial, sempre fazendo guloseimas para a nossa alegria. Este ano fará 70 anos, com uma boa vitalidade, ainda que sofra de pressão alta.

De família grande e tradicional em Redenção, interior do Ceará, onde nasceu e morou a maior parte de sua vida. Bastante inteligente, estudou em colégios tradicionais de Fortaleza. Medrosa por excelência, tem medo de escuro, altura, velocidade e outros tantos mais. Sempre teve uma vida muito recatada, talvez por ser muito tímida, o que a sempre fez passar a maior parte do tempo em casa sozinha e quase nunca sair com amigas (que lhe são poucas).

Casou-se aos 22 anos e teve quatro filhos e uma filha, aos quais sempre foi muito devotada. Quase sempre parcial em seus julgamentos, coloca o amor aos filhos acima de tudo. Apego demasiado, mas sincero, às pessoas que ama, pois sempre esqueceu voluntariamente as próprias necessidades para dar-se aos filhos.

Publicado originalmente no jornal O Povo em 10 de maio de 2008.

Obs.: Encontrei a foto acima há alguns anos na coisas da minha mãe. É bem pequena, mas digitalizei e dei uma melhorada no photoshop. Infelizmente é a única foto que minha mãe tem de quando jovem.

SÃO FRANCISCO OU RONALDO?

Os que têm mais de vinte anos certamente se lembram de São Francisco, de quem tanto ouviram falar nas missas, em casa e nas conversas com os amigos. Os mais jovens talvez até já tenham ouvido falar, mas não têm certeza de quem seja. Contudo, sem dúvida conhecem Ronaldo, o Fenômeno.

Por quê? Porque o nosso modelo de herói mudou. Antes adorávamos ouvir histórias de gente rica que abandonava tudo em troca de um sonho ou de um grande amor. Hoje sonhamos com a riqueza para depois comprar o amor ou o sonho. O herói hoje é Ronaldo, que era pobre e ficou rico - não o criticando, já que ficou rico honestamente - e por ser realmente um craque. Quase diariamente vemos e aplaudimos as celebridades instantâneas e efêmeras que surgem na televisão. Nos vemos nelas. Sonhamos, através delas, nossas utopias individuais.

São Francisco hoje seria considerado louco, talvez fosse até internado ou ridicularizado em algum programa de TV por deixar a riqueza dos pais e partir em busca de seus ideais. Alguns certamente diriam ser ele um ''sonhador'', um outsider.

Roubar dos ricos e dar aos pobres como Robin Hood? Roubar tudo bem, mas para ficar rico, afinal, na nossa sociedade não importa de onde vem o dinheiro, importa que venha.

Consumir é o meio de atingir a felicidade. Os comerciais, como dizem os publicitários, não vendem mercadorias, vendem sonhos. Como alguém da periferia pode se sentir igual ao rico? Comprando o tênis ou a roupa de determinada marca, nem que sejam falsificados; sonhando é claro - e rezando -, com o dia que acertará os números da Mega-Sena.

Dinheiro é bom, concordo. Ou pode ser bom. Desde que não nos esqueçamos de que é mais importante ser do que ter, e não acreditemos em frases como: ''Dinheiro não traz a felicidade, manda buscar''. Ridículo.

Publicado originalmente no jornal O Povo em 14 de outubro de 2003.

SUPER-HERÓIS BRASILEIROS

Eles não são idolatrados, não têm revistas em quadrinhos nem filmes de Hollywood como os super-heróis americanos, mas quem acha que não existem super-heróis no Brasil está enganado.Eles existem sim, e nós os chamamos de jornalistas.E atualmente estão merecendo toda nossa admiração e respeito, pois como nunca estão denunciando, desmascarando e combatendo, por vezes sozinhos, a corrupção no Brasil. São eles que estão fazendo a sociedade brasileira sair de sua acomodação com a conjuntura política no Brasil. Se os brasileiros estão cobrando mais de seus representantes e fiscalizando suas ações é porque os jornalistas estão empenhados em revelar tudo que há de errado na política nacional.Estão, como os super-heróis da ficção, lutando por verdade e justiça.

Há quem pense que o Brasil nada mudou nas últimas décadas e há quem, absurdamente, sinta saudade da ditadura militar - claro, a memória sempre maquia o passado e a memória brasileira, sabemos, não é lá muito boa - acham que hoje tem muito mais corrupção que naquela época, mas não percebem que a corrupção no Brasil é histórica. Hoje, porém, devido ao destemor dos jornalistas, temos amplo conhecimento dela e podemos combatê-la.

O espírito jornalístico brasileiro é fortíssimo, mesmo quando forçados ao silêncio jornalistas bradaram contra as ditaduras que se estabeleceram por estas terras e agora, com a liberdade conquistada reportam ao grande público o que tem acontecido nos bastidores da democracia que ajudaram a consolidar. Além disso, mais jornalistas descomprometidos com ideologias partidárias têm surgido, o que proporciona um olhar cada vez mais objetivo dos fatos.

Hollywood tem feito filmes com Batman, Superman e Homem-Aranha, nosso cinema poderia fazer filmes com nossos super-heróis, que, melhor ainda que aqueles, são reais.

Publicado originalmente no jornal O Povo em 26 de agosto de 2006.

DESCALÇO

O pé
A pé
Descalço.

Sopé da montanha
Centro do caminho
Estrada carroçável
Fé pavimentada
Nulidades aprendidas