O AMOR NÃO ACABA QUANDO A VELHICE CHEGA

quando formos velhos
e o tempo tiver me transformado em outro
e eu já não recorde dos melhores anos de minha existência
lembre-me o quanto fui feliz com você
em quantas vezes disse que te amava num só dia
de como eu olhava para você
e nada mais importava
de como eu quis parar o tempo
ser senhor da própria história
e escreve-la apenas com você
a pessoa mais importante da minha vida
a quem amei acima de tudo e de todos
lembre-me de quem eu era
mesmo que seja de como você me via
diga-me que cumprimos a lista das coisas que faríamos juntos
que o amor proibido foi revelado
e nos casamos naquela igreja
e seguimos aquela estrada
até aquele lugar
prove-me que encontrei o que buscava
que tive a grande idéia
e não serei esquecido
ainda que me interpretem errado
e me biografem inverdades
traga a caixa com nossos retratos
momentos congelados de quem fomos
sorrisos de dias que importaram
memórias desses anos em que te disse
eu amo você meu amor
você é minha razão de viver
fomos escolhidos
viveremos felizes para sempre
até morrermos juntos
porque, prometemos um ao outro,
ou os dois vivem
ou os dois morrem

Publicado originalmente no jornal O Povo de 10 de junho de 2007

CRAZY DIAMOND

Ver o que ninguém mais vê é possível
disse-te no instante mágico
quando eu mesmo vi e olhei
para insatisfação de meu cético espírito
que não enxerga nos outros
correspondentes de existência
tua imagem rasgada
da fotografia dos demais

Vi em teus sonhos desejos
para a minha pregação agora ouvida
Crazy Diamond te batizei
em meu universo paralelo
refúgio de mim mesmo

Foste para lá na carruagem negra que fiz para ti
e choram minhas criaturas imaginárias
pelo real que representas
em meus devaneios oníricos
e quando ainda respiras por aí
quando me distraio em afazeres mundanos

Já posso brigar com Freud
e jogar fora o Prozac
converti-me a ti
a oração assindética é mais forte

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 09 (Mai/Jun de 2006) do grupo literário Luminários.

SCARCITY


The action figure of Batman is in the shelf
You know my details
The black of his uniform
He reminds me the black of your dress
Of when you came to me
Insight of the muse that made love
And the color of that night
It was added to the color of the gift not used

The same that is used to say good-bye of somebody

Your color, so white, didn't contrast with the color of the gift
That became incomplete
The image of the black dress stays and of your white color
Of the night in that we met each other

And how it contained light!
(Or not)
Impossible to contain so much shine

This is the memory that I keep

The same of when, vulnerable, I was in your lap
The same that it didn't get the kiss, perhaps childish, under water
The same of when we dreamed the world lied down at the beach
The same of when we left without a destination and happy
Of your discomfort with the silence
The same of the exaggerating kisses to each car stop
(So much will!)

The same of so much content that would break the continent

Everything that comes from you
You does me more me
You place me among the ones that they savor the life
Until when I am more pessimistic
I learned new meanings for the verb to challenge
(You like to be challenged)

It is surprised

And I like the color of the night that brought her it until me
And the one that desire is that is always night
(I am of the night, you know)

But when I had you, the sun, the sea and the wind
Until I forgot Dioniso
I wanted Apolo
A pub in the beach, hair parafinado
I always forget final of movies and books
I block the farewells
I only believe in find again

Forever and ever

He had made him the promise in the swimming pool
(The same of the kiss not given)
Modern place for fairy stories
Anything of “in a kingdom far far away”
But the promises still exist
Crazy Gods live of them
They believe in love affair

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 19 (Jan/Fev de 2008) do grupo literário Luminários.

OI

Oi,
só queria te dizer que essa noite dormi muito bem.
Seu sorriso, em nosso breve reencontro, foi meu acalanto.
Evidente,
troquei um livro por você,
algo inusitado em mim,
mas a lembrança da sinceridade de seus olhos,
iguais por todos esses anos
(quando nos falamos da última vez você era uma adolescente
hoje uma mulher, segura de si e absolutamente linda!)
Fez cegos os meus, desconcentrou-me.
Seu olhar posto em mim
como se mais nada visse em redor de onde estávamos,
em busca de meu eu passado
desconcertaram-me.
Parte daquele passado está aqui dentro,
perdido e paciente.
Sou pouco daquele que está em tua memória
ainda que, essencialmente, o mesmo.
Creio em Deus.
Creio também em você.
E tento me ver em suas lembranças,
em suas muitas perguntas.
Juntar os pedaços de mim mesmo
que há muito se partiu em muitos.
Minha busca é constante
não consigo me limitar a um só canto
nem a um só conto.
Sou poesia
pouco ficou em mim de teologia.
Nem sei se é melhor o caminho em si
ou a descoberta de um
ou a invenção de outro.
A verdade é que dormi como naquele tempo,
sem ansiedade e sem depressão
com você em meus sonhos
com a oração que fez pra mim.
Saiba apenas que as verdades que eu disse
não são menos verdades
porque hoje sou menos eu daquele que está em você.
Te adoro. Infinitamente.

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 10 (Jul/Ago de 2006) do grupo literário Luminários.

O QUE ME FAZ FELIZ?



Oscar Wilde já dizia no século XIX que “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Ele que viveu plenamente e abundantemente, com seu sarcasmo para com todos os hipócritas, nesse aforismo resume a diferença entre os que vivem felizes de acordo com suas próprias regras (os iluminados e interessantes) e os que apenas seguem o rebanho (os comuns). Por ser meu autor favorito as frases de Wilde estão sempre a me lembrar de que posso viver sempre melhor, que posso responder a mim mesmo a pergunta fundamental para nós humanos: O que me faz feliz? E respondê-la de acordo com minhas próprias vontades e desejos. O negócio da qualidade de vida de que se fala tanto hoje, meu caro, é particular de cada um.

Isso me lembra do fantástico filme Beleza Americana, que nos mostra através da fechadura como é a vida das pessoas quando estão sozinhas e quando com seus familiares. Como pensam e como, por causa da sociedade, agem diferentemente do que pensam, sentem, do que desejam. Que por trás daquela aparência de normalidade e perfeição estão infelizes e arrebentadas, vivendo hipocritamente. Vencedor de cinco Oscars, incluindo melhor filme é uma dessas obras primas que mexem conosco. Aliás, se você assistir a esse filme e continuar o mesmo, sem dúvida é uma pessoa comum, volte para o rebanho que é seu lugar. 

Mas se você está vivendo aquele momento existencial dizendo pra si mesmo como Fernando Pessoa no poemaTabacaria “Fiz de mim o que não soube e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado, conheceram-me logo por quem não era e não desmenti. E perdi-me. Quando quis tirar a máscara estava pegada à cara”, o filme é pra você. Vai ajudá-lo a sair da mesmice, da vida patética e comum. Deixar de viver o que os outros querem ver em você e dizer com o mesmo Fernando Pessoa, mas através de outro poema. “Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.”

O filme tem interpretações magistrais, especialmente de Kevin Spacey. É o primeiro e melhor filme do diretor Sam Mendes. Dê uma espiada pelo buraco da fechadura que Mendes abriu pra nós. Nos vemos lá naquelas pessoas dentro de casa, mas podemos abrir a porta e sair.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA

NA ESTRADA DO SER



Quando estava terminando minha faculdade, naquele período de escrever e defender monografia, terror de muitos, meu único desejo era, ao final, sair viajando por aí. Aprender coisas ao vivo, sair da minha cultura bibliográfica. É o que todo recém-formado deveria fazer. Não viajei tanto quanto queria porque estava já alugando sala e fazendo plano de negócios para a minha empresa, mas tive boas experiências fora da academia, provando as coisas mundo a fora.

Um universitário no cinema (e na vida real) que foi ao extremo dessa experiência pós-faculdade foi Christopher Johnson McCandless, mais conhecido como Alex Supertramp, no filme Na Natureza Selvagem (2007). Baseado em fatos reais o filme mostra esse jovem que deixa sua família rica, doa o dinheiro que tem na poupança e abandona até o carro para ir se isolar no Alasca, “sem lenço e sem documento”. No caminho ele passa por diversos estados americanos e conhece várias pessoas interessantes. O filme é magistralmente dirigido por Sean Penn, com atuações e fotografia impecáveis. Assista em Blu-ray se puder, as imagens são soberbas.

E para ampliar a experiência magnífica de ver o filme leia o livro homônimo de Jon Krakauer de onde saiu a história do filme. E ouça o disco com a magnífica trilha sonora composta por Eddie Vedder, do Pearl Jam, ideal para momentos de reflexão.

Nietszche diz que existem cinco tipos de viajantes. Os que querem ser mais vistos do que ver nas viagens; os que realmente veem algo no mundo; os que vivenciam alguma coisa em função do que é visto; os que incorporam e carregam consigo as vivências da viagem e finalmente os de maior força, aqueles que colocam as experiências incorporadas de novo para fora, através de ações e de obras tão logo retornam às suas casas. O viajante do filme provavelmente não pôde ser do tipo que queria, mas você pode escolher o seu.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA

SOBREVIVO A MIM MESMO?



Há uns anos atrás, pensando sobre o que aprendi com excelentes professores de filosofia acerca do que é a realidade, acerca do ser e outras coisas mais que tanto provocam alunos de graduação, matutei comigo mesmo se eu era real ou não. Ainda não sei, mas meu insight foi que o Batman ou o Homer Simpson são mais reais que eu. Explico. Quando eu morrer ficarei na memória de amigos próximos e familiares ainda vivos. Quando estes morrerem terei desaparecido pra sempre. Batman existe desde 1938 e me ultrapassará no tempo. Homer é mais novo que eu, mas me sobreviverá. 

A não ser que eu fique famoso como escritor ou como cientista minha existência no tempo será brevíssima. Personagens de ficção são mais perenes. E muitos deles têm subjetividades tão complexas ou mais que muitos dos mortais. Muitos desses caracteres, seja no desenho animado, nas HQS, filmes, livros, games ou séries são criações perfeitas de seres humanos. House é um deles. Sem dúvida um dos personagens mais extraordinários e bem construídos da ficção. Muito devendo dessa caracterização perfeita ao ator Hugh Laurie e sua excelente performance (o cara além de excelente ator é diretor, músico e escritor). A série, da qual eu tinha preconceito (por achar que era algo como Plantão Médico ou Greys Anatomy) e a qual não queria assistir me arrebatou quando finalmente vi o piloto. 

Não são os casos clínicos que brilham na série (ainda que interessantes, porque nunca é lúpus!). São as interações sociais de House (um misantropo brilhante, ranzinza e arrogante), com seus funcionários, superiores (sobretudo a Dra. Cuddy) e pacientes. Se não sou um personagem de ficção que sobreviverá no tempo, pelo menos me identifico muitíssimo com o House, sobretudo na ranzinzice e misantropia. Alguns amigos até me apelidaram de House. Até me transformar num personagem de minhas próprias obras como faz o Shyamalan em seus filmes continuo a me projetar em personagens que gosto muito. Todos fazemos isso. Dr. House é mais que o personagem central da série homônima, mas muito é ele. Vale a pena ver. Desde o piloto até o último episódio da oitava temporada que encerrou este ano a série com perfeição.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA