O QUE ME FAZ FELIZ?



Oscar Wilde já dizia no século XIX que “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Ele que viveu plenamente e abundantemente, com seu sarcasmo para com todos os hipócritas, nesse aforismo resume a diferença entre os que vivem felizes de acordo com suas próprias regras (os iluminados e interessantes) e os que apenas seguem o rebanho (os comuns). Por ser meu autor favorito as frases de Wilde estão sempre a me lembrar de que posso viver sempre melhor, que posso responder a mim mesmo a pergunta fundamental para nós humanos: O que me faz feliz? E respondê-la de acordo com minhas próprias vontades e desejos. O negócio da qualidade de vida de que se fala tanto hoje, meu caro, é particular de cada um.

Isso me lembra do fantástico filme Beleza Americana, que nos mostra através da fechadura como é a vida das pessoas quando estão sozinhas e quando com seus familiares. Como pensam e como, por causa da sociedade, agem diferentemente do que pensam, sentem, do que desejam. Que por trás daquela aparência de normalidade e perfeição estão infelizes e arrebentadas, vivendo hipocritamente. Vencedor de cinco Oscars, incluindo melhor filme é uma dessas obras primas que mexem conosco. Aliás, se você assistir a esse filme e continuar o mesmo, sem dúvida é uma pessoa comum, volte para o rebanho que é seu lugar. 

Mas se você está vivendo aquele momento existencial dizendo pra si mesmo como Fernando Pessoa no poemaTabacaria “Fiz de mim o que não soube e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado, conheceram-me logo por quem não era e não desmenti. E perdi-me. Quando quis tirar a máscara estava pegada à cara”, o filme é pra você. Vai ajudá-lo a sair da mesmice, da vida patética e comum. Deixar de viver o que os outros querem ver em você e dizer com o mesmo Fernando Pessoa, mas através de outro poema. “Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.”

O filme tem interpretações magistrais, especialmente de Kevin Spacey. É o primeiro e melhor filme do diretor Sam Mendes. Dê uma espiada pelo buraco da fechadura que Mendes abriu pra nós. Nos vemos lá naquelas pessoas dentro de casa, mas podemos abrir a porta e sair.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA