SOBREVIVO A MIM MESMO?



Há uns anos atrás, pensando sobre o que aprendi com excelentes professores de filosofia acerca do que é a realidade, acerca do ser e outras coisas mais que tanto provocam alunos de graduação, matutei comigo mesmo se eu era real ou não. Ainda não sei, mas meu insight foi que o Batman ou o Homer Simpson são mais reais que eu. Explico. Quando eu morrer ficarei na memória de amigos próximos e familiares ainda vivos. Quando estes morrerem terei desaparecido pra sempre. Batman existe desde 1938 e me ultrapassará no tempo. Homer é mais novo que eu, mas me sobreviverá. 

A não ser que eu fique famoso como escritor ou como cientista minha existência no tempo será brevíssima. Personagens de ficção são mais perenes. E muitos deles têm subjetividades tão complexas ou mais que muitos dos mortais. Muitos desses caracteres, seja no desenho animado, nas HQS, filmes, livros, games ou séries são criações perfeitas de seres humanos. House é um deles. Sem dúvida um dos personagens mais extraordinários e bem construídos da ficção. Muito devendo dessa caracterização perfeita ao ator Hugh Laurie e sua excelente performance (o cara além de excelente ator é diretor, músico e escritor). A série, da qual eu tinha preconceito (por achar que era algo como Plantão Médico ou Greys Anatomy) e a qual não queria assistir me arrebatou quando finalmente vi o piloto. 

Não são os casos clínicos que brilham na série (ainda que interessantes, porque nunca é lúpus!). São as interações sociais de House (um misantropo brilhante, ranzinza e arrogante), com seus funcionários, superiores (sobretudo a Dra. Cuddy) e pacientes. Se não sou um personagem de ficção que sobreviverá no tempo, pelo menos me identifico muitíssimo com o House, sobretudo na ranzinzice e misantropia. Alguns amigos até me apelidaram de House. Até me transformar num personagem de minhas próprias obras como faz o Shyamalan em seus filmes continuo a me projetar em personagens que gosto muito. Todos fazemos isso. Dr. House é mais que o personagem central da série homônima, mas muito é ele. Vale a pena ver. Desde o piloto até o último episódio da oitava temporada que encerrou este ano a série com perfeição.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA