OI

Oi,
só queria te dizer que essa noite dormi muito bem.
Seu sorriso, em nosso breve reencontro, foi meu acalanto.
Evidente,
troquei um livro por você,
algo inusitado em mim,
mas a lembrança da sinceridade de seus olhos,
iguais por todos esses anos
(quando nos falamos da última vez você era uma adolescente
hoje uma mulher, segura de si e absolutamente linda!)
Fez cegos os meus, desconcentrou-me.
Seu olhar posto em mim
como se mais nada visse em redor de onde estávamos,
em busca de meu eu passado
desconcertaram-me.
Parte daquele passado está aqui dentro,
perdido e paciente.
Sou pouco daquele que está em tua memória
ainda que, essencialmente, o mesmo.
Creio em Deus.
Creio também em você.
E tento me ver em suas lembranças,
em suas muitas perguntas.
Juntar os pedaços de mim mesmo
que há muito se partiu em muitos.
Minha busca é constante
não consigo me limitar a um só canto
nem a um só conto.
Sou poesia
pouco ficou em mim de teologia.
Nem sei se é melhor o caminho em si
ou a descoberta de um
ou a invenção de outro.
A verdade é que dormi como naquele tempo,
sem ansiedade e sem depressão
com você em meus sonhos
com a oração que fez pra mim.
Saiba apenas que as verdades que eu disse
não são menos verdades
porque hoje sou menos eu daquele que está em você.
Te adoro. Infinitamente.

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 10 (Jul/Ago de 2006) do grupo literário Luminários.