Alguns de nós garageanos adoramos a série Dois Homens e Meio. Alguns até parecem
com o Charlie e outros com o Alan. Talvez ainda alguém pareça com a Berta. Ok, não
vou continuar as suposições de quem se parece com quem senão serei expulso do
grupo, lol. Fato é que eu não gostava muito da premissa da série anos atrás. Apesar
de o Mauro sempre insistir que era interessante. Mas dois caras e uma criança
num cenário não me atraíam. Porém, com as trocas constantes de materiais entre
nós, o Amaury me passou algumas temporadas. Pra encurtar essa introdução já
longa venho vendo e revendo desde então. Até a saída de Charlie Sheen, claro.
O contraste entre os irmãos é o que dá o tom de humor na
série. Um bem sucedido e devasso, o outro problemático e certinho. Mulheres bonitas,
sacadas hilárias. Uma mãe que faria qualquer psicanalista adorar analisar, um
filho/sobrinho que muda através das temporadas, uma empregada abusada, aliás,
governanta. E claro muito álcool e sexo. Afinal, Charlie Harper é a versão
light de Charlie Sheen. E um dos
cenários em que muitas das cenas se passam é no Pavlov’s Bar. Desde a primeira
temporada é o point de Charlie. E logo
no terceiro episódio entendemos por que o bar tem esse nome. É a noite da
tequila (um adendo não necessariamente relacionado – tequila e mulheres, uma
conexão perfeita, dos dois pontos de vista, nosso e delas, mas isso é tema pra
outro post) e todos tem de tomar uma dose toda vez que o sino toca.
A gag faz
referência a um dos precursores da psicologia moderna. Ganhador do Nobel (Glawber, ele
era fisiologista), foi quem abriu os caminhos para a psicologia comportamental.
Seus experimentos laboratoriais o levaram a criação de um mecanismo que chamamos
de condicionamento clássico, ou pavloviano, ou ainda, condicionamento
respondente. A ideia é que algumas respostas comportamentais são reflexos
incondicionadas, isto é, são biologicamente estabelecidos. Mas ele percebeu que
seus sujeitos experimentais (nesse caso, cães), haviam aprendido novos reflexos.
Estímulos que não eliciavam determinadas respostas passaram a eliciá-las. Como foi
isso? O cão, naturalmente saliva diante da comida exposta. Pavlov percebeu que
a salivação ocorria até mesmo quando ele se aproximava na hora de dar a comida.
Então resolveu fazer o experimento para verificar a aprendizagem de novos
reflexos.
Medindo a quantidade de saliva através de uma fístula perto
das glândulas salivares, Pavlov tocava um sino perto do cão. Obviamente ele não
salivava. Depois emparelhou os estímulos. Som e comida. Com o condicionamento o
cão salivava só com o som do sino. Comportamento aprendido e não inato. Parece simples,
mas há quase 100 anos atrás foi uma descoberta e tanto que ajudou a estabelecer
a psicologia como ciência e até hoje ser a base inicial de um dos movimentos
mais fortes na psicoterapia, o behaviorismo. Claro que muito foi contestado,
modificado, melhorado na dialética da desconstrução e desconstrução da ciência.
Sobretudo com o condicionamento operante de Skinner.
É um bom experimento pra vender tequila. Charlie diz que
todos devem latir e beber uma dose de tequila quando o sino toca. Alan pergunta
por que. Charlie diz porque o sino toca. Simples. E você verá no vídeo abaixo,
do episódio em questão, editado pelo Amaury, que já na casa da mãe deles quando
a campainha toca eles latem e não sabem bem por que. Muito bom.