MEDICINA: CIÊNCIA INEXATA

Nenhuma ciência é exata, é verdade; mas a medicina, com sua aura de detentora da verdade e os médicos fantasiados como os heróis salva-vidas, deveriam chegar mais vezes a consenso sobre diagnósticos e tratamentos.

Um dia se vai ao médico e ele diz que o caso é grave, tem que se mudar de imediato a dieta, fazer exercícios, comprar várias caixas de remédios e mudar radicalmente a rotina diária. A angústia pessoal é passada à família, orações são feitas, relacionamentos mudados, muitas lágrimas são derramadas.

Alguém, depois de algumas semanas, sugere pedir a um outro profissional, uma segunda opinião. O segundo médico alivia a tensão dizendo que o caso é simples, um tratamento leve reverterá o problema. Alívio geral.

Mas a pergunta é inevitável: Quem está com a razão? Leigo, com medo de morrer, o enfermo recorre até à Internet em busca de informações sobre a doença, que, não raro, simplifica demais o que os médicos teimam em complicar para que os meros mortais não iniciados nas ciências ocultas da saúde não entendam.

O sofrimento permanece. Qual dos dois diagnósticos seguir, já que são baseados na subjetividade do médico e de seu conhecimento parcial sobre o ser humano e suas idiossincrasias? Com um pouco de bom senso e, naturalmente, medo de tomar uma decisão errada, tenta-se um caminho intermediário com um novo alopata, enquanto consegue pagar o plano de saúde ou mendiga vagas da rede pública. Mais confusão. Os médicos não seguem o que apregoam os orientais, isto é, o caminho do meio.

Com a imprecisão dos médicos chega a vez dos caminhos alternativos. Homeopatas, médicos espirituais e tratamentos holísticos os mais variados. Mais remédios, mais poções, mais orações, mais distantes da cura. Daí descamba para a medicina popular com suas crenças, ervas e grãos. Com um pouco de sorte se sobrevive.

SAUDADE DE FORTALEZA BOÊMIA

Sexta-feira à noite. Fortaleza. Havia convidado dois amigos do interior para uma noitada na capital. Animados, fomos a Osório de Paiva, seria bom um bar com bandas covers de rock, depois um outro com forró. Decepção. A avenida estava quase deserta. Não era um dia atípico, véspera de feriado ou algo assim. Achei que estivesse por fora da animação da cidade. É periferia, talvez fosse melhor ir logo à Praia de Iracema. Lá, o que encontramos foi bares e restaurantes fechados e pouca gente na rua. A única saída era pagar pra ficar numa boate ou clube fechado, escondidos do mundo.

O que há com nossa cidade? Lugar que se orgulhava de ser boêmio, festeiro, “melhor segunda-feira do mundo, imagine os outros dias” era o slogan. Medo da violência? Há tanta violência assim para termos tanto medo e ficarmos trancafiados em casa com nossas tvs, dvds, internet com seus programas de relacionamento, vídeo-games com jogos que simulam a vida lá fora? E quando resolvemos sair nos cercamos das paredes dos shoppings, dos clubes e de boates ou casas de amigos, com cerveja, karaokê e, na nossa consciência, segurança.

Um amigo me disse que estava querendo muito ir morar no interior, porque a violência aqui está muito grande. O interessante é que esse amigo nunca foi assaltado, nunca sofreu nenhum tipo de violência e não conhece ninguém que tenha sido. É claro que só um louco alienado diria que não há violência, porém, talvez não seja tão grande como estamos acreditando, que o mundo nunca esteve tão violento. Hoje temos amplo acesso à informação e casos isolados de violência nos chegam constantemente, nos dando a sensação de barbárie. Imagine no passado os assassinatos e lutas até a morte no coliseu, os enforcamentos em praça pública, o faroeste e, em nossas terras, cangaceiros matando pessoas pelas ruas. Fortaleza parece bem melhor agora.

NÃO QUERO TER FILHOS!

Não quero ter filhos! A reação é de estranheza em todos que me ouvem fazer tal afirmação. Muitas vezes ficam indignados e não raro parecem sentir pena de mim. Provavelmente pensando em como sou egoísta.

Mas lhes dou razão, não quero mesmo ter filhos por razões puramente egoístas. Filhos demandam muito do nosso tempo. Nosso tempo de vida é muito curto, quero fazer muitas coisas que, se tivesse filhos, não teria tempo para realizá-las. E filhos custam muito dinheiro. Prefiro gastar o que ganho realizando meus próprios desejos em vez de atender aos desejos, muitas vezes tiranos, dos filhos.

Mas você não gosta de crianças? Perguntam sempre. Pra falar a verdade, não muito. Talvez quando ainda são bebês. E, muitos parecem não ter percebido, seus descendentes não permanecem sempre crianças. Crescem e por vezes são totalmente contrários à educação que lhes foi dada, se voltando contra os pais e culpando-os por tudo que lhes acontece de mal e por quem são.

As pessoas têm filhos também por motivos egoístas. Querem “deixar sua semente”, se perpetuar através de um ser que carrega seu sangue e seus genes, que continuará o nome da família. Para mim, plantar uma árvore e escrever um livro já bastam. Além disso, é comum os pais passarem suas frustrações e sonhos para os filhos, querendo que sejam como gostariam de ter sido. Querem alguém para cuidar delas na velhice, porém quantos idosos, muitas vezes são abandonados e desrespeitados por seus filhos. Querem alguém para amar e que lhes ame, algo que nem sempre acontece. Querem, muitas vezes, exercer poder sobre alguém. Tudo isso é vaidade das vaidades.

Mas filho não é fruto do amor de um casal? Talvez. Mas esse amor é destruído quando os filhos nascem. A atenção e amor da mulher pelo marido são transferidos para o filho. E o marido passa a enxergar a esposa como mãe, não como mulher. Os apelidos carinhosos dão lugar a “pai” e “mãe”, apagando toda paixão e atração que existir. O casal perde a liberdade e a espontaneidade, pois não pode mais fazer o que quer quando bem entender.

Mas ter filhos não é o processo natural? Não devemos povoar a terra? Está na Bíblia, dizem. Mas há quanto tempo levamos vidas artificiais em todos os aspectos? Mudamos o curso de tudo. E a terra já está com superpopulação, não precisamos nos preocupar. Ademais, é natural tantas crianças abandonadas, maltratadas, vítimas de todo tipo de violência por pais que não deveriam ter tido filhos?

O curso da vida de alguém muda com seus rebentos. Muitas vezes abandona carreira, planos e sonhos para se dedicar a prole. Muitos regulam seu próprio consumo para que os filhos tenham o que desejam. E quase sempre cobram isso depois, querendo que os filhos sejam aquilo que projetaram.

Sempre que minha namorada se esquece de meus argumentos e, como a maioria das mulheres, volta ao desejo de ter filhos, esquecendo-se de outros, sempre faço a mesma pergunta, você quer ter um filho ou conhecer Paris?

14 COISAS QUE ODEIO EM SOCIOLOGIA E UMA QUE ADORO (QUE TALVEZ VALHA PELAS 14)

Primeiro peço a benção em nome de Marx, Durkheim e Weber (a Santíssima Trindade ou Os Três Porquinhos?) porque adoro sociologia. Talvez não dê pra ficar rico, mas me aponte outra profissão universitária que se consiga essa proeza sem empreendedorismo ou corrupção! Mas, afinal, não é pelo dinheiro, todos precisamos de sociologia. (Será?). E todos os outros cursos bebem da gente, então, cadê o respeito? Bom, mas vim pra odiar; cá entre nós sociólogos e futuros sociólogos.

Odeio em sociologia o fato de sociólogo odiar sociólogo. Tivemos até presidente sociólogo, mas o odiávamos. E ele nos odiava, ao que parece, ao vetar o projeto de lei (PL n° 09/00) que tornaria obrigatório o ensino de sociologia (e filosofia) no Ensino Médio, embora houvesse sido aprovado na Câmara Federal e no Senado. (Atualmente já é obrigatório, Lei sancionada pelo Presidente Lula, que diz que ler dá azia e não tem curso superior)

Odeio em sociologia não estarmos mais na dianteira das pesquisas e descobertas, perdemos espaço para a psicologia, psicologia evolutiva e para a neurociência (que tem usado em muito, e muitas vezes refutado, as teorias sociológicas).

Odeio em sociologia o fato de que ninguém paga a sociologia. Por trás de outros cursos como os de saúde e tecnologia tem-se indústrias investidoras. E para nós?

Odeio em sociologia o fato de que todos os cursos têm seus ícones, mas, céus! Marx é passado!

Odeio em sociologia essa crise de identidade. Qual é mesmo nosso objeto? A sociologia é mesmo uma p#*@ safada que se envolve com tudo?

Odeio em sociologia estarmos alegres e esperançosos com a possibilidade de sermos professores do Ensino Médio (Já é obrigatório, mas com restrições e indefinições). Isso é redutor da profissão. E a área técnica e a de pesquisa?

Odeio em sociologia essa nossa atitude anticapitalista constante. Tem gente (do meio acadêmico e fora dele) que confunde sociologia com socialismo.

Odeio em sociologia nossa desunião de classe, falta de corporativismo (isso não é pecado social!). Não temos nem conselhos. Alguns dos nossos poucos sindicatos sobrevivem pela fé (!).

Odeio em sociologia essas neuras e mania de perseguição por ser um curso sem status (curiosamente essa palavra é da sociologia, segundo o Aurélio e o Michaelis) atualmente. Sabiam que existe economia doméstica e engenharia de pesca?

Odeio em sociologia as conversas que só giram em torno de economia e política. Alguém aí já ouviu falar de cinema, de literatura, de sexo?

Odeio em sociologia esse messianismo dos alunos do curso. Achamos que somos os superiores, os detentores da salvação da humanidade. Será que poderíamos ser um pouco mais técnicos e menos utópicos? Fazer análise social e não teologia?

Odeio em sociologia o fato de não querermos trabalhar em empresas privadas. Não somos operários esclarecidos?

Odeio em sociologia que todo mundo se mete a fazer análise sociológica. Todos querem fazer mestrado e doutorado em sociologia, mas ninguém quer fazer bacharelado.

Odeio em sociologia o fato de ter caído no domínio público como a filosofia. Todo mundo usa e ninguém paga. Ou vendemos nossas análises muito barato.


Contudo, tem uma coisa que adoro. Nossa formação ampla. O especialista que entendia tudo de olho esquerdo, mas nada do direito está desempregado. Voltamos à análise da totalidade. E só o curso de sociologia prepara profissionais de visão ampla. Temos de tudo, opinamos (e às vezes fazemos ciência) sobre tudo, vemos um pouco de tudo. Por isso nossa diversidade. Temos plays, junkies, alternativos, mainstrems, niilistas, religiosos, céticos, ateus, nerds, geeks, hipsters, de esquerda (principalmente!) e de direita. Temos até alguns anarquistas. E convivemos bem. Temos de tudo pra ser a profissão mais prestigiada na nova era em que vivemos -ou na atual conjuntura, se preferir.

Saudações em nome de Florestan Fernandes, o apóstolo Paulo da sociologia.