14 COISAS QUE ODEIO EM SOCIOLOGIA E UMA QUE ADORO (QUE TALVEZ VALHA PELAS 14)

Primeiro peço a benção em nome de Marx, Durkheim e Weber (a Santíssima Trindade ou Os Três Porquinhos?) porque adoro sociologia. Talvez não dê pra ficar rico, mas me aponte outra profissão universitária que se consiga essa proeza sem empreendedorismo ou corrupção! Mas, afinal, não é pelo dinheiro, todos precisamos de sociologia. (Será?). E todos os outros cursos bebem da gente, então, cadê o respeito? Bom, mas vim pra odiar; cá entre nós sociólogos e futuros sociólogos.

Odeio em sociologia o fato de sociólogo odiar sociólogo. Tivemos até presidente sociólogo, mas o odiávamos. E ele nos odiava, ao que parece, ao vetar o projeto de lei (PL n° 09/00) que tornaria obrigatório o ensino de sociologia (e filosofia) no Ensino Médio, embora houvesse sido aprovado na Câmara Federal e no Senado. (Atualmente já é obrigatório, Lei sancionada pelo Presidente Lula, que diz que ler dá azia e não tem curso superior)

Odeio em sociologia não estarmos mais na dianteira das pesquisas e descobertas, perdemos espaço para a psicologia, psicologia evolutiva e para a neurociência (que tem usado em muito, e muitas vezes refutado, as teorias sociológicas).

Odeio em sociologia o fato de que ninguém paga a sociologia. Por trás de outros cursos como os de saúde e tecnologia tem-se indústrias investidoras. E para nós?

Odeio em sociologia o fato de que todos os cursos têm seus ícones, mas, céus! Marx é passado!

Odeio em sociologia essa crise de identidade. Qual é mesmo nosso objeto? A sociologia é mesmo uma p#*@ safada que se envolve com tudo?

Odeio em sociologia estarmos alegres e esperançosos com a possibilidade de sermos professores do Ensino Médio (Já é obrigatório, mas com restrições e indefinições). Isso é redutor da profissão. E a área técnica e a de pesquisa?

Odeio em sociologia essa nossa atitude anticapitalista constante. Tem gente (do meio acadêmico e fora dele) que confunde sociologia com socialismo.

Odeio em sociologia nossa desunião de classe, falta de corporativismo (isso não é pecado social!). Não temos nem conselhos. Alguns dos nossos poucos sindicatos sobrevivem pela fé (!).

Odeio em sociologia essas neuras e mania de perseguição por ser um curso sem status (curiosamente essa palavra é da sociologia, segundo o Aurélio e o Michaelis) atualmente. Sabiam que existe economia doméstica e engenharia de pesca?

Odeio em sociologia as conversas que só giram em torno de economia e política. Alguém aí já ouviu falar de cinema, de literatura, de sexo?

Odeio em sociologia esse messianismo dos alunos do curso. Achamos que somos os superiores, os detentores da salvação da humanidade. Será que poderíamos ser um pouco mais técnicos e menos utópicos? Fazer análise social e não teologia?

Odeio em sociologia o fato de não querermos trabalhar em empresas privadas. Não somos operários esclarecidos?

Odeio em sociologia que todo mundo se mete a fazer análise sociológica. Todos querem fazer mestrado e doutorado em sociologia, mas ninguém quer fazer bacharelado.

Odeio em sociologia o fato de ter caído no domínio público como a filosofia. Todo mundo usa e ninguém paga. Ou vendemos nossas análises muito barato.


Contudo, tem uma coisa que adoro. Nossa formação ampla. O especialista que entendia tudo de olho esquerdo, mas nada do direito está desempregado. Voltamos à análise da totalidade. E só o curso de sociologia prepara profissionais de visão ampla. Temos de tudo, opinamos (e às vezes fazemos ciência) sobre tudo, vemos um pouco de tudo. Por isso nossa diversidade. Temos plays, junkies, alternativos, mainstrems, niilistas, religiosos, céticos, ateus, nerds, geeks, hipsters, de esquerda (principalmente!) e de direita. Temos até alguns anarquistas. E convivemos bem. Temos de tudo pra ser a profissão mais prestigiada na nova era em que vivemos -ou na atual conjuntura, se preferir.

Saudações em nome de Florestan Fernandes, o apóstolo Paulo da sociologia.