TRANSIÇÃO



Em qualquer lugar em que eu estiver as estrelas serão azuis
Mesmo sem teto verei seus tons

Minha cor permanecerá a mesma
Diagnóstico preso numa canção de blues

Sempre fui temporário
O instante insatisfeito do paroxismo
Quatro passagens de tempo é só mais um número arbitrário

Nunca estive em casa, pensamento sem formas de encaixe
Disfuncionais

Na sua, talvez por um momento
Até fiz barulho, fui eu
Algo de adulto, paleta maior de cores
Para além da constância do azul

Mas eis que se apresentam um novo festival de salas
Vazios a serem imaginados
Lugares por desenhar
Chuveiros que não aplacam o calor

Sincronia dos móveis daquele que nunca teve relação com o tempo
E eu que tudo experimento no agora, sem mudanças
Porque constante, intenso – embora racional

Sinto tudo a memória inteira

Meu lugar é minha mente
Escondida, quem sabe, em algum lugar do cérebro
Pilhas de endereços paralelos

Sinestesia bagunçando sentidos
Muito mais que branco, bem mais que vermelho
Sempre presente com quem melhor se torna
Por elas feito estranho na descrição

Tudo bem agora, mas e no futuro?
Serão devir, significarão páginas escritas
Serei eu?