SCARCITY
O boneco do Batman está na estante
Você conhece meus detalhes
O preto do uniforme dele
Lembra-me o preto de seu vestido
De quando veio até mim
Insight da musa que fazia amor
E a cor daquela noite
Somou-se à cor do presente não usado
A mesma que se usa para se despedir de alguém
Sua cor, tão clara, não contrastava com a cor do presente
Que se tornou incompleto
Permanece a imagem do vestido preto e de sua cor branca
Da noite em que nos conhecemos
E como continha luz!
(Ou não)
Impossível conter tanto brilho
Eis a lembrança que guardo
A mesma de quando, vulnerável, estive em seu colo
A mesma que não conseguiu o beijo, talvez pueril, debaixo d’água
A mesma de quando sonhamos o mundo deitados na praia
A mesma de quando saíamos sem destino e felizes
Do seu desconforto com o silêncio
A mesma dos beijos exagerados a cada parada de carro
(vontade tanta!)
A mesma de tanto conteúdo que romperia o continente
Tudo que vem de você
Me faz mais eu
Você me coloca entre os que saboreiam a vida
Até quando sou mais pessimista
Aprendi novos significados para o verbo desafiar
(você mesmo adora ser desafiada)
E surpreendida
E eu adoro a cor da noite que a trouxe até mim
E o que desejo é que seja noite sempre
(sou da noite, você sabe)
Mas quando tive você, o sol, o mar e o vento
Até esqueci Dioniso
Desejei Apolo
Um bar na praia, cabelo parafinado
Sempre esqueço finais de filmes e livros
Bloqueio as despedidas
Só acredito em reencontros
Forever and ever
Ele fizera-lhe a promessa na piscina
(a mesma do beijo não dado)
Lugar moderno para contos de fada
Nada de reino muito muito distante
Mas as promessas ainda existem
Deuses loucos vivem delas
Eles acreditam em romances
Scarcity foi publicada no Zine Os Putos e as Donzelas, primeiramente em Inglês. Para ver a versão original: Scarcity - Versão Original em Inglês
Você conhece meus detalhes
O preto do uniforme dele
Lembra-me o preto de seu vestido
De quando veio até mim
Insight da musa que fazia amor
E a cor daquela noite
Somou-se à cor do presente não usado
A mesma que se usa para se despedir de alguém
Sua cor, tão clara, não contrastava com a cor do presente
Que se tornou incompleto
Permanece a imagem do vestido preto e de sua cor branca
Da noite em que nos conhecemos
E como continha luz!
(Ou não)
Impossível conter tanto brilho
Eis a lembrança que guardo
A mesma de quando, vulnerável, estive em seu colo
A mesma que não conseguiu o beijo, talvez pueril, debaixo d’água
A mesma de quando sonhamos o mundo deitados na praia
A mesma de quando saíamos sem destino e felizes
Do seu desconforto com o silêncio
A mesma dos beijos exagerados a cada parada de carro
(vontade tanta!)
A mesma de tanto conteúdo que romperia o continente
Tudo que vem de você
Me faz mais eu
Você me coloca entre os que saboreiam a vida
Até quando sou mais pessimista
Aprendi novos significados para o verbo desafiar
(você mesmo adora ser desafiada)
E surpreendida
E eu adoro a cor da noite que a trouxe até mim
E o que desejo é que seja noite sempre
(sou da noite, você sabe)
Mas quando tive você, o sol, o mar e o vento
Até esqueci Dioniso
Desejei Apolo
Um bar na praia, cabelo parafinado
Sempre esqueço finais de filmes e livros
Bloqueio as despedidas
Só acredito em reencontros
Forever and ever
Ele fizera-lhe a promessa na piscina
(a mesma do beijo não dado)
Lugar moderno para contos de fada
Nada de reino muito muito distante
Mas as promessas ainda existem
Deuses loucos vivem delas
Eles acreditam em romances
Scarcity foi publicada no Zine Os Putos e as Donzelas, primeiramente em Inglês. Para ver a versão original: Scarcity - Versão Original em Inglês
PAIXÕES
Em beijos antropofágicos
O universo cambiava
Ela dizia: "Vamos mudá-lo."
Eu dizia: "Comecemos agora!"
E planejávamos filosofias e verdades.
O CABELO DE PEDRO
Pedro sempre se olhava no espelho. Seu espelho preferido ficava na varanda de sua casa. Era um espelho grande onde ele cabia inteiro.
Em sua casa moravam também seu irmão gêmeo João e sua mãe Becca. Seu avô, pai de sua mãe, sempre vinha visitá-los. Ele gostava muito de seu avô. Ele contava para Pedro muitas histórias da África, de onde sua família tinha vindo. E de Redenção, interior do Ceará, onde morou por muito tempo. Lá foi a primeira cidade do Brasil a libertar os escravos.
A família dele havia sido escrava em engenho de cana de açúcar em Redenção há muito tempo atrás. O avô de Pedro morou lá, mas adorava o mar, por isso se mudou para Canoa Quebrada. Dizia que era só ir para a praia em qualquer lugar no Brasil para ficar mais perto da África. Era só atravessar o oceano atlântico.
Na casa de seu avô tinha somente um espelho bem pequeno no banheiro. Pedro achava estranho se olhar ali, pois sua imagem ficava sempre embaçada. Mas em qualquer espelho Pedro sempre se olhava. Dava sempre um jeito de se ver até mesmo no reflexo da água no lago onde tomava banho aos sábados com seu irmão e sua mãe.
Mas não é porque ele se achava bonito ou fosse vaidoso. Pedro não gostava do seu cabelo. Ele queria que fosse liso como dos filhos dos turistas que vinham comprar as garrafas de areia colorida que sua mãe vendia na praia. Seu irmão João sempre ria dele e dizia que era bobagem. Que seu cabelo era bonito como qualquer outro cabelo.
João nasceu dois minutos antes de Pedro. Sempre achou que por ser o irmão mais velho deveria cuidar de Pedro, que sempre chorava quando alguém ria do seu cabelo na escola. João sempre o defendia dos colegas. No caminho de volta pra casa João sempre comprava sorvete de chocolate para ver o irmão feliz.
João era mais habilidoso que Pedro. Sabia fazer direitinho as paisagens com areia colorida. Aprendeu só em ver sua mãe fazendo. Pedro não tinha paciência para fazer artesanato. O que mais gostava de fazer era correr pela praia. Imaginando sempre que seus cabelos fossem lisos e balançassem ao vento como via nos filmes na televisão.
Um dia Pedro teve de ir sozinho para a escola porque João estava doente. Voltou chorando e com a farda suja. Seus colegas o havia derrubado na areia do pátio, todos gritando que seu cabelo era feio e enrolado. Entrou correndo e foi direto para os braços de sua mãe.
Sua mãe começou a contar uma história da África, o que sempre animava Pedro. A história dizia que em algumas religiões africanas a mulher que tem filhos gêmeos é aplaudida nas ruas. Eles dizem que as almas escolhem a família a que querem pertencer. As mães de gêmeos são abençoadas por serem escolhidas por duas almas ao mesmo tempo.
– Você sabe que você e seu irmão são gêmeos, meu filho – disse Becca para Pedro. Eu sou abençoada por ter vocês dois. Vocês são lindos. E seu cabelo é muito bonito. É diferente de muitos dos seus coleguinhas da escola. Não é feio porque é diferente. Becca fez uma trança dreadlock no cabelo de Pedro que ficou muito feliz. Achou que seu cabelo estava bonito.
No outro dia João já estava melhor e foi para a escola com Pedro. Todos acharam o cabelo de Pedro muito bonito. Pedro estava contente. Alguns colegas até fizeram tranças nagô, rastafari e dreadlocks em seus próprios cabelos. Pediram a professora para ensinar a fazer.
Até os colegas que antes ficavam rindo do cabelo de Pedro. Pedro viu tranças em cabelos pretos, vermelhos, lisos, loiros, enrolados e viu que todos os tipos de cabelos são bonitos. Voltou pra casa e contou tudo a sua mãe. Naquele dia até conseguiu aprender a fazer melhor as garrafinhas de areia colorida.
Em sua casa moravam também seu irmão gêmeo João e sua mãe Becca. Seu avô, pai de sua mãe, sempre vinha visitá-los. Ele gostava muito de seu avô. Ele contava para Pedro muitas histórias da África, de onde sua família tinha vindo. E de Redenção, interior do Ceará, onde morou por muito tempo. Lá foi a primeira cidade do Brasil a libertar os escravos.
A família dele havia sido escrava em engenho de cana de açúcar em Redenção há muito tempo atrás. O avô de Pedro morou lá, mas adorava o mar, por isso se mudou para Canoa Quebrada. Dizia que era só ir para a praia em qualquer lugar no Brasil para ficar mais perto da África. Era só atravessar o oceano atlântico.
Na casa de seu avô tinha somente um espelho bem pequeno no banheiro. Pedro achava estranho se olhar ali, pois sua imagem ficava sempre embaçada. Mas em qualquer espelho Pedro sempre se olhava. Dava sempre um jeito de se ver até mesmo no reflexo da água no lago onde tomava banho aos sábados com seu irmão e sua mãe.
Mas não é porque ele se achava bonito ou fosse vaidoso. Pedro não gostava do seu cabelo. Ele queria que fosse liso como dos filhos dos turistas que vinham comprar as garrafas de areia colorida que sua mãe vendia na praia. Seu irmão João sempre ria dele e dizia que era bobagem. Que seu cabelo era bonito como qualquer outro cabelo.
João nasceu dois minutos antes de Pedro. Sempre achou que por ser o irmão mais velho deveria cuidar de Pedro, que sempre chorava quando alguém ria do seu cabelo na escola. João sempre o defendia dos colegas. No caminho de volta pra casa João sempre comprava sorvete de chocolate para ver o irmão feliz.
João era mais habilidoso que Pedro. Sabia fazer direitinho as paisagens com areia colorida. Aprendeu só em ver sua mãe fazendo. Pedro não tinha paciência para fazer artesanato. O que mais gostava de fazer era correr pela praia. Imaginando sempre que seus cabelos fossem lisos e balançassem ao vento como via nos filmes na televisão.
Um dia Pedro teve de ir sozinho para a escola porque João estava doente. Voltou chorando e com a farda suja. Seus colegas o havia derrubado na areia do pátio, todos gritando que seu cabelo era feio e enrolado. Entrou correndo e foi direto para os braços de sua mãe.
Sua mãe começou a contar uma história da África, o que sempre animava Pedro. A história dizia que em algumas religiões africanas a mulher que tem filhos gêmeos é aplaudida nas ruas. Eles dizem que as almas escolhem a família a que querem pertencer. As mães de gêmeos são abençoadas por serem escolhidas por duas almas ao mesmo tempo.
– Você sabe que você e seu irmão são gêmeos, meu filho – disse Becca para Pedro. Eu sou abençoada por ter vocês dois. Vocês são lindos. E seu cabelo é muito bonito. É diferente de muitos dos seus coleguinhas da escola. Não é feio porque é diferente. Becca fez uma trança dreadlock no cabelo de Pedro que ficou muito feliz. Achou que seu cabelo estava bonito.
No outro dia João já estava melhor e foi para a escola com Pedro. Todos acharam o cabelo de Pedro muito bonito. Pedro estava contente. Alguns colegas até fizeram tranças nagô, rastafari e dreadlocks em seus próprios cabelos. Pediram a professora para ensinar a fazer.
Até os colegas que antes ficavam rindo do cabelo de Pedro. Pedro viu tranças em cabelos pretos, vermelhos, lisos, loiros, enrolados e viu que todos os tipos de cabelos são bonitos. Voltou pra casa e contou tudo a sua mãe. Naquele dia até conseguiu aprender a fazer melhor as garrafinhas de areia colorida.
#Agradeço ao meu amigo Anilton Freires, grande ilustrador, pelo desenho de presente que fez para esse conto.
#Esse conto foi inspirado no Projeto Vizinhos de Útero da Jemima Pompeu.
Acesse: Vizinhos de Útero
WHEN?
when we can see each other?
when you can look in each other's eyes?
when you can turn around stardust?
when we can celebrate the love in the distance?
when will it be possible?
when you can look in each other's eyes?
when you can turn around stardust?
when we can celebrate the love in the distance?
when will it be possible?
PUBLICAÇÕES NA REVISTA SOCIOLOGIA
Dois artigos meus foram publicados na revista Sociologia Ciência e Vida da editora Escala. Um sobre quadrinhos e desenhos animados japoneses e sua influência no Brasil e outro sobre pesquisa eleitoral. Abaixo estão os links para baixar gratuitamente a versão digital ou para comprar as edições impressas.
Este artigo foi fruto de minha monografia de conclusão do curso em Ciências Sociais. Para baixar o texto da monografia entre no site Guia dos Quadrinhos: Guia dos Quadrinhos
HERMÉTICO
Eu caminho solitário no nada absoluto.
No princípio de tudo.
Na casa das idéias. Milhões a cada segundo. Inclusive a contagem de unidades e de tempo.
Penso criativamente em milhares de línguas a um só tempo. Inclusive o português limitado desse escritor tão distante ainda do arqué e desse suposto ponto do tempo. Na verdade em mim não há essas divisões. O escriba escreve com a sombra de minha idéia de caneta, digo isso a Platão em algum ponto da idéia de história. E mais tarde concebe o “passar a limpo”, nuances de linguagem, em seu laptop LG dentre tantas outras marcas que crio.
O autor para e pensa no que escreve, o que eu já de antemão previra. Sabia que escreveria esse texto em post it, uma das grandes sacadas que tive. Tudo pensado milimetricamente. Até fios de cabelo, como a bem empregada imagem poética do evangelho de Lucas. Aliás, autores são partes de mim que gosto muitíssimo. São minhas porções criativas. Predestinados com o gene da criação e da criatividade.
Do meu êxtase ao conceber o mundo...
Nesse ponto o autor reflete se predestinado a um destino escrito num romance que não dele ou predestinado a livres escolhas ou a sinopses pré-escritas de circunstâncias que o fazem escolher de forma não tão livre assim.
Mas segue escrevendo seguindo a inspiração da tal musa. Outra divina invenção? Ou sinapses elétricas? Ou retalhos de leituras e experiências que num caldeirão existencial o trouxeram até aqui?
No princípio de tudo.
Na casa das idéias. Milhões a cada segundo. Inclusive a contagem de unidades e de tempo.
Penso criativamente em milhares de línguas a um só tempo. Inclusive o português limitado desse escritor tão distante ainda do arqué e desse suposto ponto do tempo. Na verdade em mim não há essas divisões. O escriba escreve com a sombra de minha idéia de caneta, digo isso a Platão em algum ponto da idéia de história. E mais tarde concebe o “passar a limpo”, nuances de linguagem, em seu laptop LG dentre tantas outras marcas que crio.
O autor para e pensa no que escreve, o que eu já de antemão previra. Sabia que escreveria esse texto em post it, uma das grandes sacadas que tive. Tudo pensado milimetricamente. Até fios de cabelo, como a bem empregada imagem poética do evangelho de Lucas. Aliás, autores são partes de mim que gosto muitíssimo. São minhas porções criativas. Predestinados com o gene da criação e da criatividade.
Do meu êxtase ao conceber o mundo...
Nesse ponto o autor reflete se predestinado a um destino escrito num romance que não dele ou predestinado a livres escolhas ou a sinopses pré-escritas de circunstâncias que o fazem escolher de forma não tão livre assim.
Mas segue escrevendo seguindo a inspiração da tal musa. Outra divina invenção? Ou sinapses elétricas? Ou retalhos de leituras e experiências que num caldeirão existencial o trouxeram até aqui?
OBRIGADO, COLÉGIO PERBOYRE E SILVA
E nesses 50 anos que a escola está completando só posso agradecer por todos os frutos maravilhosos que lá colhi. Estudei com alguns colegas que foram e ainda são meus melhores amigos, como o Clodoaldo. Muito do que sou hoje são faces e facetas de minha história naqueles corredores e salas. Em estudos, conversas paralelas, fugas cinematográficas para se livrar das aulas, namoricos, discussões, brigas, elucubrações e descobertas. Foi onde descobri que não levava jeito para os esportes, mas foi também onde descobri que podia ser escritor. Aliás, foi lá que duas professoras acreditaram antes de mim mesmo que eu podia escrever. A Profa. Áurea e também a Profa. Maria Helena Russo, de quem, anos depois, eu tive a honra de ser colega.
Dois de meus melhores e queridos amigos, com quem muito aprontei nos anos de aluno se tornaram também colegas de trabalho no meu tempo de professor. Deassis e Freitas. E nesse período de professor três colegas se tornaram amigos. Allan, Paula e Ana Paula.
Vários alunos também se tornaram amigos, três deles bem próximos. Acélio, Amaury e Kellson. E juntos com Ritiélly e Vanessa, também alunas, criamos um grupo literário hoje conhecido e reconhecido na cena underground de várias partes do país, os Luminários. E folgo em dizer que todos os cinco estão hoje na faculdade, o que me deixa bastante orgulhoso deles.
Até relacionamentos amorosos tive lá.
O “colégio”, modo que nos referimos a esta querida escola, talvez por acharmos que ela seja de fato “o” colégio de Redenção, por não termos dúvida de que seja realmente o melhor, me deu, quando ainda aluno, amigos verdadeiros, aprendizagens eternas e a convicção de uma carreira através da escrita. Quando professor me deu mais amigos e também subsídios profissionais e intelectuais que emprego na política profissional do Instituto Maria Ester e da Fundação Maria Ester, as quais, entre outras áreas, atuam na assessoria educacional.
Hoje estou como admirador e agradeço por todos os encontros e desencontros que lá protagonizei e pelos episódios e cenas dos quais fui platéia. Hoje só parabenizo por suas bodas de ouro. Hoje só me delicio nas memórias de meu hipocampo. Hoje só me reencontro existencialmente nos vários colegas com quem ali contracenei como a Rosângela, o Seu Neném e a Rita. Hoje só pontuo tudo que ensinei e tudo que aprendi com meus alunos, como o Glawber, o Ézio e a Monyk (que também estão na faculdade) e tantos outros que me marcaram. Hoje declaro meu orgulho cenecista (desculpem-me as outras escolas onde já estudei, dei aulas ou oficinas). Hoje só tiro o chapéu e digo obrigado, colégio Perboyre e Silva.
Na ocasião da festa do reecontro os ex-professores foram homenageados com um cordel de autoria do poeta Ari. A estrofe que faz referência a mim, transcrevi abaixo:
Marcelo, grande amigo,
Na Literatura e Redação
Ensinava com muita garra
De acordo com a precisão,
Pois era bamba nos assuntos
Que juntando todos juntos
CURRÍCULO GEEK
Já revelei filmes fotográficos em salas escuras, tive câmeras amadoras analógicas, fiz cadeira de fotografia analógica na faculdade com câmera profissional, aprendendo a usar rolos, revelá-los e ampliá-los. E ao perguntar ao meu professor se deveria comprar uma câmera dessas pra mim ele me respondeu dizendo que só se eu estivesse louco. Aquela seria a última cadeira de fotografia que a universidade oferecia sem ser digital. Hoje só uso câmera digital. Tenho uma amadora e uma semiprofissional e namoro uma profissional que fica na vitrine de uma loja do shopping Iguatemi. Câmeras de vídeo usei várias daquelas que gravam direto no VHS seja no formato convencional ou pequeno. Hoje, claro, só uso filmadoras digitais. Contudo, ainda não tive o prazer de usar uma profissional.
Comecei a escrever meus textos numa máquina de escrever portátil que ainda guardo, dada por meu irmão mais velho. Hoje posto diretamente no blog na internet. E administro diversas contas de sites e redes sociais de clientes do meu escritório. Tive vários computadores, sendo que o primeiro deles tinha um HD com capacidade de espaço nove vezes menor que um de meus pendrives atuais. Hoje uso um notebook, um netbook (tudo, na verdade, é laptop) e um desktop e ando pesquisando smartfones. Aliás, o meu primeiro celular mais parecia um peso de papel. Hoje tira fotos, tem tocador de Mp3, rádio e gravador de voz. Quando estava na faculdade ainda usei gravador de voz para pesquisas, daqueles de mini K7. Ainda o guardo comigo e os mini K7 com as entrevistas. Já usei celulares de várias marcas e de várias operadoras.
Já li centenas de livros. Em formato convencional e físico, claro. Ainda os adoro. Nunca gostei de ler e-book no computador. Ouvi dezenas de Audiobooks e agora, com meu leitor digital, pretendo aderir aos e-books. Em breve comprarei um tablet também, para ler livros e revistas em cores, sobretudo quadrinhos, outra de minhas paixões. Já comprei livros por telefone, em diversas livrarias, hoje a maior parte das minhas compras é feita pela internet, sobretudo na Saraiva e no Submarino. Já participei até de clubes de livros e de CDs por correspondência.
Sou cinéfilo. Assisti a milhares de filmes. Minha primeira ida ao cinema foi com minha irmã e minha mãe. Era bem pequeno, fomos ver um filme dos Trapalhões. Não me concentrei muito, fiquei brincando de trocar de lugar na sala quase vazia. Não foi um momento especial em minha memória. Mas hoje acho o cinema um lugar mágico. Assisti a muitos VHS, tendo de rebobinar sempre as fitas, tenho centenas de DVDs e recentemente aderi também ao Bluray (que talvez já tenha nascido obsoleto). Mas baixo da internet muitos filmes antigos que não são encontrados à venda nem para aluguel em locadoras, em formato Avi ou RMVB.
Já usei internet discada (e lenta a 56 Kbps), participei de salas de bate papo, hoje uso o MSN, com minha Banda Larga GVT ou no modem 3G da vivo. Usei até o Cadê?, mas me rendi a todos os serviços do Google. Uso Twitter, Orkut, Facebook, Formspringme, O Livreiro e outros mais.
Tive TV em minha casa quando criança tanto preto e branco como em cores. Usei tubo de tela curva, de tela plana. Hoje tenho LCD Full HD.
Videogames já usei vários consoles e joguei dezenas de games. Desde os primeiros, como Atari e Odissey, passando por Super Nintendo e Mega Drive e agora Wii, Xbox 360 e Playstation 3. Joguei games portáteis e de celular. E também joguei vários jogos de tabuleiro com amigos, que adoro. War, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Detetive e muitos outros. Joguei até bola de gude, peão e soltei pipa. Jogo bem boliche e tênis de mesa, mas nas duas modalidades no Wii Sports Resort sou melhor ainda. Já brinquei até com tamagotchi.
Já enviei e ainda o faço, muitas cartas de amor, mas também já usei muito SMS e MMS, sou craque no teclado alfanumérico e também no QWERTY.
Tenho visto o declínio de tecnologias antigas e o surgimento de outras. Desejo assistir a esse ciclo ainda muitas e muitas vezes.
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PRISÃO PARTICULAR
Tenho cinquenta e poucos anos. Não falo dos poucos porque há muito os perdi conscientemente de minha contagem. Não faço mais anos, me escondo da inexorabilidade da velhice que me chama a cada instante. Ela não me seduz, mas com ela me casarei num amor fadado ao fim. Queria ter morrido na adolescência. Feliz e realizado. Morrido em um acidente de carro ao participar de pegas ou de overdose, tentando tirar a essência da vida, tentando descobrir quem era. Abstive-me sempre dos prazeres pequenos, de mentir, de dançar, de transar loucamente com pessoas sem nome. De perder a consciência e o juízo para o álcool. De viajar levando apenas uma mochila com coragem e curiosidade. Desde pequeno acho que nasci no corpo errado. Vejo-me no espelho e não me reconheço. Aquele não sou eu. Vejo-me diferente. E esse corpo, esse rosto, representam quem não sou e contam mentiras sobre mim para quem se aproxima. Represento um papel através dele. Queria ter sido camaleão, mutável, corpo de amante latino, suor e sedução, mas me contive covardemente com o não-eu imposto por meu físico. Não vivi o que gostaria com medo de me transformar, de sair do comum biótipo a que estive condenado a existir. De páginas amareladas de psicologias superadas numa biblioteca empoeirada aprendi que sou ectomorfo. Minha vontade era ser mesomorfo, quem sabe meu comportamento seria outro, condizente com o que sempre quis ser. Nasci no corpo errado, e para mim – fugindo do que Platão quis dizer e muitíssimo distante do que disse Paulo, o apóstolo –, ele me foi, por toda a vida, realmente um cárcere.
A REDE
Certa manhã, quando caminhava pela pastagem observando o gado e as serras em redor, o que fazia sempre quando o sol começava a dar os primeiros bons dias, notou que seu rebanho estava irrequieto, parecia que algo havia-lhe assustado. Procurou em redor mas não viu nada que pudesse causar medo, nenhum animal estranho à fazenda. Sem entender o que se passava com as vacas, aproximava-se delas, tocava-lhes com carinho, mas muitas pareciam assustadas e outras até mesmo deprimidas. Não entendendo mesmo o que havia acontecido, resolveu esquecer, pois já era hora dos peões da fazenda levarem as vacas leiteiras para a ordenha.
O tempo passou e o problema daquela manhã continuou a se repetir e as vacas começaram a emagrecer e a morrer. Com medo de perder todo o seu gado, resolveu investir em um curso de veterinária na capital, como dizia. O curso era dado por veterinários experientes o que lhe fez acreditar que seria de grande proveito para ele. Chegando à capital, logo se vislumbrou com tantas coisas novas que se refletiam em seus olhos. Começou o curso com empenho e dedicação e rapidamente fez amigos, com quem sempre saia para conhecer o mundo que não existia entre suas vacas. Para ele tudo era novidade, agora ele experimentava o mundo do qual tivera sonhos secretos antes de dormir. Nos estudos era exemplar e ficava imaginando como seu pai e ele mesmo, puderam cuidar do gado por tanto tempo sem conhecer todas aquelas técnicas que estava aprendendo. Acreditava que agora iria quadruplicar o seu rebanho e aumentar sua fazenda, e poderia, finalmente, fazer uma reforma no velho casarão. Sonhava à noite antes de dormir, com sua fazenda próspera, seu gado mais gordo, mais feliz. Sua esposa poderia ficar mais atraente com as jóias e vestidos que lhe compraria. Seus filhos iriam estudar na cidade grande, para ver como o mundo é imenso e não se restringe só a terras e gado.
O curso acabou e o vaqueiro voltou para o interior cheio de projetos para pôr em prática tudo que aprendera. Logo que chegou à fazenda fez um grande churrasco para a família e os empregados, para comemorar sua volta. Disse que a partir daquele dia todos iriam ver aquela pequena fazenda se transformar numa imensidão de terras e gado. No outro dia cuidou de suas vacas, empregou técnicas que aprendera no curso e almoçou com satisfação. À tardinha escreveu todo um projeto para a maximização de seu rebanho. Previu tempo de engorda, abate, venda e novas aquisições. No dia seguinte ordenhou as vacas leiteiras, ensinou aos empregados a nova dieta para o gado e caminhou como costumava, na pastagem. À tarde tirou uma longa soneca na rede que sempre deixava na varanda.

FORTALEZA NOS QUADRINHOS
Fortaleza foi, recentemente, cenário para uma história em quadrinhos de um dos mais famosos personagens dos gibis americanos, Wolverine, dos cultuados X-men. A história foi publicada no final de 2006 na Europa e EUA e em fevereiro deste ano traduzida no Brasil. Nas lojas especializadas em quadrinhos de Fortaleza, no entanto, só pôde ser facilmente encontrada há pouco tempo. Os autores são franceses. Jean-David Morvan e Philippe Buchet, que, curiosamente, nunca estiveram em nossa cidade.
A trama gira em torno de uma criança fortalezense com poderes especiais e que mora no Pirambu. Sua mãe, ele conta, o teve em um lixão, morrendo ali, sendo levada por um caminhão de lixo. Ele sobreviveu e foi mandado para um orfanato. Wolverine o conheceu quando o menino, de nome Xexéu, roubou sua moto logo quando desembarcou no porto. Ele se solidariza com o menino e o acompanha, depois de salvá-lo de uma gangue que tomou a moto que havia roubado. Depois se diverte tomando banho de mar e dormindo no barraco do garoto. Diz que foi melhor que ir para um hotel para turistas na Praia de Iracema.
Aliás, a cidade representada não é para turista ver. Tudo bem, temos nossos problemas, mas os cenários são totalmente inverossímeis, os autores não fizeram sequer pesquisa. Fortaleza é só mato, ruas de terra, barracos e homens armados, com carros e ônibus saídos da década de 70, quebrados e sujos.
No clímax da história o menino a quem Wolverine se apega é obrigado a trabalhos forçados na Serra Pelada. Anacrônico e sem noção de geografia. Mesmo com tudo isso, Wolverine, no final da história, já nos EUA, relembra dos tempos em que esteve na Terra do Sol e usa a palavra aprendida por aqui para expressar o que está sentindo. Saudade. Aliás a palavra da título a HQ.
Sei que é uma obra de ficção, mas porque o encantamento estrangeiro com nossa faceta pobre? Estranhamento ou ignorância?
A INDUSTRIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA
Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, interpretaram como ninguém o espírito consumista do século XX. Para eles o Capitalismo transforma arte em mercadoria, diminuindo assim o seu valor.
Entramos no século XXI seguindo a mesma lógica, isto é, qualquer coisa pode ser transformada em dinheiro. Dessa vez industrializamos e transformamos a violência, fenômeno que vem crescendo de forma significativa nas grandes cidades. Os americanos, claro, já vem representando a violência deles no cinema, tão conhecido nosso. Por aqui, em terras tupiniquins, estamos aprendendo. Com livros como “Cidade de Deus” do escritor e sociólogo Paulo Lins e “Estação Carandiru” do médico Dráuzio Varella, best-sellers que também viraram filmes de grande sucesso. Não quero, obviamente, questionar sua qualidade e importância. Mais recentemente apareceram “Abusado” e “Rota 66” do jornalista Caco Barcellos e a mini-série “Cidade dos Homens” e o documentário “Falcão” do Fantástico, ambos da Rede Globo (este foi proibido). Isso para citar só os mais conhecidos.
Tudo bem, levamos a favela à classe média, aos lares e mesas de jantar; tornamos pública a violência urbana, mas e daí? Compramos a violência, nos divertimos com ela e nos esquecemos de que ela não é uma mercadoria, mas uma realidade que precisa ser combatida. Não se distraia muito com esses produtos, alguém pode assaltá-lo.
Entramos no século XXI seguindo a mesma lógica, isto é, qualquer coisa pode ser transformada em dinheiro. Dessa vez industrializamos e transformamos a violência, fenômeno que vem crescendo de forma significativa nas grandes cidades. Os americanos, claro, já vem representando a violência deles no cinema, tão conhecido nosso. Por aqui, em terras tupiniquins, estamos aprendendo. Com livros como “Cidade de Deus” do escritor e sociólogo Paulo Lins e “Estação Carandiru” do médico Dráuzio Varella, best-sellers que também viraram filmes de grande sucesso. Não quero, obviamente, questionar sua qualidade e importância. Mais recentemente apareceram “Abusado” e “Rota 66” do jornalista Caco Barcellos e a mini-série “Cidade dos Homens” e o documentário “Falcão” do Fantástico, ambos da Rede Globo (este foi proibido). Isso para citar só os mais conhecidos.
Tudo bem, levamos a favela à classe média, aos lares e mesas de jantar; tornamos pública a violência urbana, mas e daí? Compramos a violência, nos divertimos com ela e nos esquecemos de que ela não é uma mercadoria, mas uma realidade que precisa ser combatida. Não se distraia muito com esses produtos, alguém pode assaltá-lo.
A ESQUERDA E O PODER EXECUTIVO
Demoramos, mas vamos admitir de uma vez por todas, a esquerda brasileira só tem competência no legislativo.
Ao longo dos anos a esquerda do Brasil conquistou seu espaço fazendo as leis. Avançou em questões ligadas aos direitos humanos, provou competência política, arregimentou de estudantes a intelectuais. De movimentos homossexuais a movimentos ecológicos. Acreditamos numa esquerda inteligente, capaz, que finalmente levaria o Brasil ao tão sonhado país do futuro, o medo se transformou em esperança.
Com algumas exceções que confirmam a regra, já tínhamos visto a inaptidão da esquerda para o poder executivo através dos vários prefeitos eleitos pelo país, mas ainda tínhamos fé no operário. E por que não? Na época o acadêmico não nos parecia tão bom. Mas, ao que parece, ao chegarem lá nos mandos executivos, ainda não acreditando na vitória, lembraram do poeta: "E agora José?".
No executivo, a ideologia socialista não funciona. O que vemos é um ranço da ditadura estabelecida em todos os lugares onde o marxismo-leninismo deus as cartas, através de tentativas de controlar a imprensa e as universidades. Da imposição de juros cada vez mais altos, de uma carga tributaria que envergonharia até mesmo os coletores de impostos da Idade Média. De uma enxurrada de medidas provisórias. Da compra a altos valores de votos para a aprovação de projetos que lhes são convenientes e para que se encerrem CPIs constrangedoras e perigosas. Enquanto isso, o espetáculo dos comerciais caríssimos entretém o povo, que, afinal, adora televisão e acredita em tudo que ela transmite.
E assim vamos nós, cobaias para a derradeira tentativa de mostrar que a esquerda funciona, afinal, o Muro de Berlim já não existe, a China se rendeu ao capital e Cuba é uma ilha fracassada a espera da morte de seu chefe.
Por todos os lugares do país vemos os sindicatos, os movimentos sociais e estudantis perdidos, sem força, sem referências esquerdistas. Eles que viviam da religiosidade de teorias ultrapassadas descobriram que seu deus está morto. Estão aí, com rubor no rosto, baixando a cabeça para os amigos simpáticos ao neocapitalismo que dizem: "E aí, esperamos mais um ano?".
Ao longo dos anos a esquerda do Brasil conquistou seu espaço fazendo as leis. Avançou em questões ligadas aos direitos humanos, provou competência política, arregimentou de estudantes a intelectuais. De movimentos homossexuais a movimentos ecológicos. Acreditamos numa esquerda inteligente, capaz, que finalmente levaria o Brasil ao tão sonhado país do futuro, o medo se transformou em esperança.
Com algumas exceções que confirmam a regra, já tínhamos visto a inaptidão da esquerda para o poder executivo através dos vários prefeitos eleitos pelo país, mas ainda tínhamos fé no operário. E por que não? Na época o acadêmico não nos parecia tão bom. Mas, ao que parece, ao chegarem lá nos mandos executivos, ainda não acreditando na vitória, lembraram do poeta: "E agora José?".
No executivo, a ideologia socialista não funciona. O que vemos é um ranço da ditadura estabelecida em todos os lugares onde o marxismo-leninismo deus as cartas, através de tentativas de controlar a imprensa e as universidades. Da imposição de juros cada vez mais altos, de uma carga tributaria que envergonharia até mesmo os coletores de impostos da Idade Média. De uma enxurrada de medidas provisórias. Da compra a altos valores de votos para a aprovação de projetos que lhes são convenientes e para que se encerrem CPIs constrangedoras e perigosas. Enquanto isso, o espetáculo dos comerciais caríssimos entretém o povo, que, afinal, adora televisão e acredita em tudo que ela transmite.
E assim vamos nós, cobaias para a derradeira tentativa de mostrar que a esquerda funciona, afinal, o Muro de Berlim já não existe, a China se rendeu ao capital e Cuba é uma ilha fracassada a espera da morte de seu chefe.
Por todos os lugares do país vemos os sindicatos, os movimentos sociais e estudantis perdidos, sem força, sem referências esquerdistas. Eles que viviam da religiosidade de teorias ultrapassadas descobriram que seu deus está morto. Estão aí, com rubor no rosto, baixando a cabeça para os amigos simpáticos ao neocapitalismo que dizem: "E aí, esperamos mais um ano?".
UMA HISTÓRIA REAL
Desde os dez anos, eu cultivo uma admiração especial pelos Estados Unidos da América. Minha paixão começava nos filmes, no seu governo, no seu poder, na sua supremacia e se estendia até as revistas em quadrinhos, passando, é claro, pela música. Apliquei-me até no estudo do Inglês, no colégio e em casa. E ainda conversava com vários adultos que conheciam as faces e facetas dos EUA.
Certo dia, quando eu já devia ter meus onze anos, estava folheando a lista telefônica em minha casa, quando algo prendeu minha atenção. Ali estavam, à minha frente, os códigos telefônicos internacionais. Veio de repente a tentação de ligar para meu admirável país. Mas, e o preço? Isso não seria problema, pensei, basta ligar a cobrar. Peguei um pedaço de papel. coloquei o número nove no início, logo em seguida o código de Los Angeles (minha cidade predileta), e ainda uma combinação de cinco dígitos. Fui ao telefone e liguei. Ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Adorei! (mesmo sem entender uma palavra, nem dizer nada). Liguei novamente para o mesmo número. Que legal! Seria a minha expressão infantil de entusiasmo. Repeti o processo mais três vezes.
Um mês é passado, a travessura já em algum lugar no subconsciente, esquecida. Chega a conta telefônica, surpresa! Lá estavam cinco vezes a Palavra Estados Unidos. O custo das ligações? Meus dois olhos. Eu na minha ingenuidade, pensava ter ligado a cobrar. Minha mãe, na sua cumplicidade aos filhos, apenas comentou, mas alertou sobre meu pai. Fiquei apreensivo, não sabia qual seria a sua reação, nem que respostas eu iria dar às suas perguntas. Já estava escurecendo quando ele chegou em casa e nos encontramos. Ele foi logo perguntando, mas calmamente: "Para que você ligou para os Estados Unidos"? Eu, sem uma resposta interessante e satisfatória., balbuciei: "Por... curiosidade". - "Cinco vezes"? Ele pergunta. Fico calado, e para minha felicidade ele estava de bom humor. Não bronqueou nem me pôs de castigo. Mas provavelmente, eu só voltarei a ouvir um americano ao telefone, se alguma criança de lá cometer a mesma travessura, ligando para o Brasil, e acertar o número telefônico da minha casa.
QUERO IR À ALEMANHA NA COPA*
*Artigo escrito na Copa anterior, mas seu mote vale para a da África do Sul deste ano.
Tenho sonhado todos os dias com uma dessas passagens para a Alemanha que empresas estão sorteando para promover seus produtos aproveitando a febre que ataca de quatro em quatro anos milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente no Brasil, afinal, somos pentacampeões, a tão aguardada e festejada e divulgada Copa do Mundo de Futebol.
Não leio mais as matérias de jornais e revistas nem assisto mais a meus programas favoritos na TV. Meu tempo é investido em apenas folhear os periódicos, comprando até mesmo aqueles que antes não suportava nem em consultório dentário e zapear por canais e programas inúteis em busca dessas promoções, pois que outra oportunidade eu teria de conhecer a Alemanha? Sei pouco da língua alemã, serve apenas para aquelas frases intraduzíveis que lemos nos livros de filosofia vertidos para o português, mas isso pouco importa, usarei a boa e velha língua dos sinais. Inglês nem pensar, não quero ofender ninguém.
Tenho que ser sorteado. Uma significativa parte de nossa História está lá, inclusive algo de nosso esquizofrênico socialismo que não tem tido oportunidade de trabalho e que almeja ser comunismo, mas está com os pés no neo-liberalismo. A queda do muro de Berlim acabou com a utopia que ainda defendemos como ciência em nossas universidades.
Sonho ver sua arquitetura, ouvir seus sons, sentir seus cheiros. Ir aos museus. Caminhar pelo campus da universidade onde Einstein trabalhou e conhecer mais um pouco de Nietzshe e de Kafka. Ver sua realidade capitalista de alto desemprego e centenas de prédios comerciais abandonados. Quero colaborar com sua ascensão financeira, afinal o turismo é sua esperança, mesmo para um turista sem dinheiro como eu, dependente de promoção.
Ir ao estádio ver o Brasil jogar? Quem sabe. Futebol não me interessa nem um pouco, mas posso fazer um esforço.
Tenho sonhado todos os dias com uma dessas passagens para a Alemanha que empresas estão sorteando para promover seus produtos aproveitando a febre que ataca de quatro em quatro anos milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente no Brasil, afinal, somos pentacampeões, a tão aguardada e festejada e divulgada Copa do Mundo de Futebol.
Não leio mais as matérias de jornais e revistas nem assisto mais a meus programas favoritos na TV. Meu tempo é investido em apenas folhear os periódicos, comprando até mesmo aqueles que antes não suportava nem em consultório dentário e zapear por canais e programas inúteis em busca dessas promoções, pois que outra oportunidade eu teria de conhecer a Alemanha? Sei pouco da língua alemã, serve apenas para aquelas frases intraduzíveis que lemos nos livros de filosofia vertidos para o português, mas isso pouco importa, usarei a boa e velha língua dos sinais. Inglês nem pensar, não quero ofender ninguém.
Tenho que ser sorteado. Uma significativa parte de nossa História está lá, inclusive algo de nosso esquizofrênico socialismo que não tem tido oportunidade de trabalho e que almeja ser comunismo, mas está com os pés no neo-liberalismo. A queda do muro de Berlim acabou com a utopia que ainda defendemos como ciência em nossas universidades.
Sonho ver sua arquitetura, ouvir seus sons, sentir seus cheiros. Ir aos museus. Caminhar pelo campus da universidade onde Einstein trabalhou e conhecer mais um pouco de Nietzshe e de Kafka. Ver sua realidade capitalista de alto desemprego e centenas de prédios comerciais abandonados. Quero colaborar com sua ascensão financeira, afinal o turismo é sua esperança, mesmo para um turista sem dinheiro como eu, dependente de promoção.
Ir ao estádio ver o Brasil jogar? Quem sabe. Futebol não me interessa nem um pouco, mas posso fazer um esforço.
MINHA MÃE LUCÍLIA
Altruísta. Seria esse o adjetivo que eu usaria para definir minha mãe em uma só palavra. Sempre dedicada aos irmãos na juventude, e aos filhos até hoje. Excelente dona de casa e “mãos de fada” na cozinha, seu talento especial, sempre fazendo guloseimas para a nossa alegria. Este ano fará 70 anos, com uma boa vitalidade, ainda que sofra de pressão alta.
De família grande e tradicional em Redenção, interior do Ceará, onde nasceu e morou a maior parte de sua vida. Bastante inteligente, estudou em colégios tradicionais de Fortaleza. Medrosa por excelência, tem medo de escuro, altura, velocidade e outros tantos mais. Sempre teve uma vida muito recatada, talvez por ser muito tímida, o que a sempre fez passar a maior parte do tempo em casa sozinha e quase nunca sair com amigas (que lhe são poucas).
Casou-se aos 22 anos e teve quatro filhos e uma filha, aos quais sempre foi muito devotada. Quase sempre parcial em seus julgamentos, coloca o amor aos filhos acima de tudo. Apego demasiado, mas sincero, às pessoas que ama, pois sempre esqueceu voluntariamente as próprias necessidades para dar-se aos filhos.
Publicado originalmente no jornal O Povo em 10 de maio de 2008.
Obs.: Encontrei a foto acima há alguns anos na coisas da minha mãe. É bem pequena, mas digitalizei e dei uma melhorada no photoshop. Infelizmente é a única foto que minha mãe tem de quando jovem.
SÃO FRANCISCO OU RONALDO?
Os que têm mais de vinte anos certamente se lembram de São Francisco, de quem tanto ouviram falar nas missas, em casa e nas conversas com os amigos. Os mais jovens talvez até já tenham ouvido falar, mas não têm certeza de quem seja. Contudo, sem dúvida conhecem Ronaldo, o Fenômeno.
Por quê? Porque o nosso modelo de herói mudou. Antes adorávamos ouvir histórias de gente rica que abandonava tudo em troca de um sonho ou de um grande amor. Hoje sonhamos com a riqueza para depois comprar o amor ou o sonho. O herói hoje é Ronaldo, que era pobre e ficou rico - não o criticando, já que ficou rico honestamente - e por ser realmente um craque. Quase diariamente vemos e aplaudimos as celebridades instantâneas e efêmeras que surgem na televisão. Nos vemos nelas. Sonhamos, através delas, nossas utopias individuais.
São Francisco hoje seria considerado louco, talvez fosse até internado ou ridicularizado em algum programa de TV por deixar a riqueza dos pais e partir em busca de seus ideais. Alguns certamente diriam ser ele um ''sonhador'', um outsider.
Roubar dos ricos e dar aos pobres como Robin Hood? Roubar tudo bem, mas para ficar rico, afinal, na nossa sociedade não importa de onde vem o dinheiro, importa que venha.
Consumir é o meio de atingir a felicidade. Os comerciais, como dizem os publicitários, não vendem mercadorias, vendem sonhos. Como alguém da periferia pode se sentir igual ao rico? Comprando o tênis ou a roupa de determinada marca, nem que sejam falsificados; sonhando é claro - e rezando -, com o dia que acertará os números da Mega-Sena.
Dinheiro é bom, concordo. Ou pode ser bom. Desde que não nos esqueçamos de que é mais importante ser do que ter, e não acreditemos em frases como: ''Dinheiro não traz a felicidade, manda buscar''. Ridículo.
Publicado originalmente no jornal O Povo em 14 de outubro de 2003.
Por quê? Porque o nosso modelo de herói mudou. Antes adorávamos ouvir histórias de gente rica que abandonava tudo em troca de um sonho ou de um grande amor. Hoje sonhamos com a riqueza para depois comprar o amor ou o sonho. O herói hoje é Ronaldo, que era pobre e ficou rico - não o criticando, já que ficou rico honestamente - e por ser realmente um craque. Quase diariamente vemos e aplaudimos as celebridades instantâneas e efêmeras que surgem na televisão. Nos vemos nelas. Sonhamos, através delas, nossas utopias individuais.
São Francisco hoje seria considerado louco, talvez fosse até internado ou ridicularizado em algum programa de TV por deixar a riqueza dos pais e partir em busca de seus ideais. Alguns certamente diriam ser ele um ''sonhador'', um outsider.
Roubar dos ricos e dar aos pobres como Robin Hood? Roubar tudo bem, mas para ficar rico, afinal, na nossa sociedade não importa de onde vem o dinheiro, importa que venha.
Consumir é o meio de atingir a felicidade. Os comerciais, como dizem os publicitários, não vendem mercadorias, vendem sonhos. Como alguém da periferia pode se sentir igual ao rico? Comprando o tênis ou a roupa de determinada marca, nem que sejam falsificados; sonhando é claro - e rezando -, com o dia que acertará os números da Mega-Sena.
Dinheiro é bom, concordo. Ou pode ser bom. Desde que não nos esqueçamos de que é mais importante ser do que ter, e não acreditemos em frases como: ''Dinheiro não traz a felicidade, manda buscar''. Ridículo.
Publicado originalmente no jornal O Povo em 14 de outubro de 2003.
SUPER-HERÓIS BRASILEIROS
Eles não são idolatrados, não têm revistas em quadrinhos nem filmes de Hollywood como os super-heróis americanos, mas quem acha que não existem super-heróis no Brasil está enganado.Eles existem sim, e nós os chamamos de jornalistas.E atualmente estão merecendo toda nossa admiração e respeito, pois como nunca estão denunciando, desmascarando e combatendo, por vezes sozinhos, a corrupção no Brasil. São eles que estão fazendo a sociedade brasileira sair de sua acomodação com a conjuntura política no Brasil. Se os brasileiros estão cobrando mais de seus representantes e fiscalizando suas ações é porque os jornalistas estão empenhados em revelar tudo que há de errado na política nacional.Estão, como os super-heróis da ficção, lutando por verdade e justiça.
Há quem pense que o Brasil nada mudou nas últimas décadas e há quem, absurdamente, sinta saudade da ditadura militar - claro, a memória sempre maquia o passado e a memória brasileira, sabemos, não é lá muito boa - acham que hoje tem muito mais corrupção que naquela época, mas não percebem que a corrupção no Brasil é histórica. Hoje, porém, devido ao destemor dos jornalistas, temos amplo conhecimento dela e podemos combatê-la.
O espírito jornalístico brasileiro é fortíssimo, mesmo quando forçados ao silêncio jornalistas bradaram contra as ditaduras que se estabeleceram por estas terras e agora, com a liberdade conquistada reportam ao grande público o que tem acontecido nos bastidores da democracia que ajudaram a consolidar. Além disso, mais jornalistas descomprometidos com ideologias partidárias têm surgido, o que proporciona um olhar cada vez mais objetivo dos fatos.
Hollywood tem feito filmes com Batman, Superman e Homem-Aranha, nosso cinema poderia fazer filmes com nossos super-heróis, que, melhor ainda que aqueles, são reais.
Publicado originalmente no jornal O Povo em 26 de agosto de 2006.
Há quem pense que o Brasil nada mudou nas últimas décadas e há quem, absurdamente, sinta saudade da ditadura militar - claro, a memória sempre maquia o passado e a memória brasileira, sabemos, não é lá muito boa - acham que hoje tem muito mais corrupção que naquela época, mas não percebem que a corrupção no Brasil é histórica. Hoje, porém, devido ao destemor dos jornalistas, temos amplo conhecimento dela e podemos combatê-la.
O espírito jornalístico brasileiro é fortíssimo, mesmo quando forçados ao silêncio jornalistas bradaram contra as ditaduras que se estabeleceram por estas terras e agora, com a liberdade conquistada reportam ao grande público o que tem acontecido nos bastidores da democracia que ajudaram a consolidar. Além disso, mais jornalistas descomprometidos com ideologias partidárias têm surgido, o que proporciona um olhar cada vez mais objetivo dos fatos.
Hollywood tem feito filmes com Batman, Superman e Homem-Aranha, nosso cinema poderia fazer filmes com nossos super-heróis, que, melhor ainda que aqueles, são reais.
Publicado originalmente no jornal O Povo em 26 de agosto de 2006.
DESCALÇO
O pé
A pé
Descalço.
Sopé da montanha
Centro do caminho
Estrada carroçável
Fé pavimentada
Nulidades aprendidas
A pé
Descalço.
Sopé da montanha
Centro do caminho
Estrada carroçável
Fé pavimentada
Nulidades aprendidas
O OUTRO
o heterossexual criticou o
homossexual que estranhou o
bissexual que não entendeu o
pansexual que riu do
transexual que denunciou o
pedófilo que se indignou com o
zoófilo que repudiou o
masoquista que ridicularizou o praticante de
swing que desaprovou o
voyeur que se enojou com o
coprófilo, que censurou o
gerontófilo, que se surpreendeu com o
necrófilo, que rejeitou o
heterossexual que...
Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # Edição Extra (Setembro de 2007) do grupo literário Luminários.
homossexual que estranhou o
bissexual que não entendeu o
pansexual que riu do
transexual que denunciou o
pedófilo que se indignou com o
zoófilo que repudiou o
masoquista que ridicularizou o praticante de
swing que desaprovou o
voyeur que se enojou com o
coprófilo, que censurou o
gerontófilo, que se surpreendeu com o
necrófilo, que rejeitou o
heterossexual que...
Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # Edição Extra (Setembro de 2007) do grupo literário Luminários.
ESCOLHAS PROGRAMADAS
Seu brado será para montanhas distantes
Num dia frio que ela resolver subir o topo do mundo
Ela talvez o odeie
Ela talvez pense que ele foi seu único e verdadeiro amor
Coisa de mulher
Quem sabe trará consigo netos
Ela pensará nas escolhas dele
Fragmentos de dias passados dançarão em câmera lenta
Um desejo por um cigarro a incomodará
Ela se dará um abraço sentindo sua pele flácida
Algo a dirá que já foi feliz
Com novo sorriso pensará nas escolhas
E questionará se há destino
Terá esperança de uma nova vida
Sonhará com recomeços
Lembrará de seu jovem rosto
Dos olhos que a desejavam
Quererá voltar nas eras
Desejo de parar no tempo
Naquele dia que tudo pareceu perfeito
Que o beijo dele a apresentou aos devaneios
Seus olhos estarão no horizonte
Mas ela só verá os olhos sinceros dele
Ela saberá que foi de verdade
Ele a amou
Mas ele não se encaixava em planos
Não era possível decifrá-lo
Talvez não fosse possível que ele gostasse de alguém
Como se espera que se goste
Ele fora dado ao mundo
Um de seus netos talvez pergunte por que ela chora
Ela pensará na benção da vida
Efeito de perguntas inocentes
E pensará por que ele não acreditava
Por que ele se angustiava tanto
Que segredos existenciais ele sabia
Porém, mais que tudo,
Ela pensará se poderia ter dado certo entre eles
Se poderiam ter sido um casal comum
Se ele poderia consertar objetos caseiros quebrados
(O homem com quem casou é assim)
Concluirá que não, que quem ela amou
Amou por ser assim indecifrável e indeciso
Indiferente a problemas práticos e cotidianos
Que ele não caberia numa só ficção
Ele mesmo criava histórias
E algumas de suas melhores escrevera com ela
Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 18 (Nov/Dez de 2007) do grupo literário Luminários.
Num dia frio que ela resolver subir o topo do mundo
Ela talvez o odeie
Ela talvez pense que ele foi seu único e verdadeiro amor
Coisa de mulher
Quem sabe trará consigo netos
Ela pensará nas escolhas dele
Fragmentos de dias passados dançarão em câmera lenta
Um desejo por um cigarro a incomodará
Ela se dará um abraço sentindo sua pele flácida
Algo a dirá que já foi feliz
Com novo sorriso pensará nas escolhas
E questionará se há destino
Terá esperança de uma nova vida
Sonhará com recomeços
Lembrará de seu jovem rosto
Dos olhos que a desejavam
Quererá voltar nas eras
Desejo de parar no tempo
Naquele dia que tudo pareceu perfeito
Que o beijo dele a apresentou aos devaneios
Seus olhos estarão no horizonte
Mas ela só verá os olhos sinceros dele
Ela saberá que foi de verdade
Ele a amou
Mas ele não se encaixava em planos
Não era possível decifrá-lo
Talvez não fosse possível que ele gostasse de alguém
Como se espera que se goste
Ele fora dado ao mundo
Um de seus netos talvez pergunte por que ela chora
Ela pensará na benção da vida
Efeito de perguntas inocentes
E pensará por que ele não acreditava
Por que ele se angustiava tanto
Que segredos existenciais ele sabia
Porém, mais que tudo,
Ela pensará se poderia ter dado certo entre eles
Se poderiam ter sido um casal comum
Se ele poderia consertar objetos caseiros quebrados
(O homem com quem casou é assim)
Concluirá que não, que quem ela amou
Amou por ser assim indecifrável e indeciso
Indiferente a problemas práticos e cotidianos
Que ele não caberia numa só ficção
Ele mesmo criava histórias
E algumas de suas melhores escrevera com ela
Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 18 (Nov/Dez de 2007) do grupo literário Luminários.
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