Desde os dez anos, eu cultivo uma admiração especial pelos Estados Unidos da América. Minha paixão começava nos filmes, no seu governo, no seu poder, na sua supremacia e se estendia até as revistas em quadrinhos, passando, é claro, pela música. Apliquei-me até no estudo do Inglês, no colégio e em casa. E ainda conversava com vários adultos que conheciam as faces e facetas dos EUA.
Certo dia, quando eu já devia ter meus onze anos, estava folheando a lista telefônica em minha casa, quando algo prendeu minha atenção. Ali estavam, à minha frente, os códigos telefônicos internacionais. Veio de repente a tentação de ligar para meu admirável país. Mas, e o preço? Isso não seria problema, pensei, basta ligar a cobrar. Peguei um pedaço de papel. coloquei o número nove no início, logo em seguida o código de Los Angeles (minha cidade predileta), e ainda uma combinação de cinco dígitos. Fui ao telefone e liguei. Ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Adorei! (mesmo sem entender uma palavra, nem dizer nada). Liguei novamente para o mesmo número. Que legal! Seria a minha expressão infantil de entusiasmo. Repeti o processo mais três vezes.
Um mês é passado, a travessura já em algum lugar no subconsciente, esquecida. Chega a conta telefônica, surpresa! Lá estavam cinco vezes a Palavra Estados Unidos. O custo das ligações? Meus dois olhos. Eu na minha ingenuidade, pensava ter ligado a cobrar. Minha mãe, na sua cumplicidade aos filhos, apenas comentou, mas alertou sobre meu pai. Fiquei apreensivo, não sabia qual seria a sua reação, nem que respostas eu iria dar às suas perguntas. Já estava escurecendo quando ele chegou em casa e nos encontramos. Ele foi logo perguntando, mas calmamente: "Para que você ligou para os Estados Unidos"? Eu, sem uma resposta interessante e satisfatória., balbuciei: "Por... curiosidade". - "Cinco vezes"? Ele pergunta. Fico calado, e para minha felicidade ele estava de bom humor. Não bronqueou nem me pôs de castigo. Mas provavelmente, eu só voltarei a ouvir um americano ao telefone, se alguma criança de lá cometer a mesma travessura, ligando para o Brasil, e acertar o número telefônico da minha casa.