FORTALEZA NOS QUADRINHOS


Fortaleza foi, recentemente, cenário para uma história em quadrinhos de um dos mais famosos personagens dos gibis americanos, Wolverine, dos cultuados X-men. A história foi publicada no final de 2006 na Europa e EUA e em fevereiro deste ano traduzida no Brasil. Nas lojas especializadas em quadrinhos de Fortaleza, no entanto, só pôde ser facilmente encontrada há pouco tempo. Os autores são franceses. Jean-David Morvan e Philippe Buchet, que, curiosamente, nunca estiveram em nossa cidade.

A trama gira em torno de uma criança fortalezense com poderes especiais e que mora no Pirambu. Sua mãe, ele conta, o teve em um lixão, morrendo ali, sendo levada por um caminhão de lixo. Ele sobreviveu e foi mandado para um orfanato. Wolverine o conheceu quando o menino, de nome Xexéu, roubou sua moto logo quando desembarcou no porto. Ele se solidariza com o menino e o acompanha, depois de salvá-lo de uma gangue que tomou a moto que havia roubado. Depois se diverte tomando banho de mar e dormindo no barraco do garoto. Diz que foi melhor que ir para um hotel para turistas na Praia de Iracema.

Aliás, a cidade representada não é para turista ver. Tudo bem, temos nossos problemas, mas os cenários são totalmente inverossímeis, os autores não fizeram sequer pesquisa. Fortaleza é só mato, ruas de terra, barracos e homens armados, com carros e ônibus saídos da década de 70, quebrados e sujos.

No clímax da história o menino a quem Wolverine se apega é obrigado a trabalhos forçados na Serra Pelada. Anacrônico e sem noção de geografia. Mesmo com tudo isso, Wolverine, no final da história, já nos EUA, relembra dos tempos em que esteve na Terra do Sol e usa a palavra aprendida por aqui para expressar o que está sentindo. Saudade. Aliás a palavra da título a HQ.

Sei que é uma obra de ficção, mas porque o encantamento estrangeiro com nossa faceta pobre? Estranhamento ou ignorância?