ESCOLHAS PROGRAMADAS

Seu brado será para montanhas distantes
Num dia frio que ela resolver subir o topo do mundo
Ela talvez o odeie
Ela talvez pense que ele foi seu único e verdadeiro amor
Coisa de mulher
Quem sabe trará consigo netos
Ela pensará nas escolhas dele
Fragmentos de dias passados dançarão em câmera lenta
Um desejo por um cigarro a incomodará
Ela se dará um abraço sentindo sua pele flácida
Algo a dirá que já foi feliz
Com novo sorriso pensará nas escolhas
E questionará se há destino
Terá esperança de uma nova vida
Sonhará com recomeços
Lembrará de seu jovem rosto
Dos olhos que a desejavam
Quererá voltar nas eras
Desejo de parar no tempo
Naquele dia que tudo pareceu perfeito
Que o beijo dele a apresentou aos devaneios
Seus olhos estarão no horizonte
Mas ela só verá os olhos sinceros dele
Ela saberá que foi de verdade
Ele a amou
Mas ele não se encaixava em planos
Não era possível decifrá-lo
Talvez não fosse possível que ele gostasse de alguém
Como se espera que se goste
Ele fora dado ao mundo
Um de seus netos talvez pergunte por que ela chora
Ela pensará na benção da vida
Efeito de perguntas inocentes
E pensará por que ele não acreditava
Por que ele se angustiava tanto
Que segredos existenciais ele sabia
Porém, mais que tudo,
Ela pensará se poderia ter dado certo entre eles
Se poderiam ter sido um casal comum
Se ele poderia consertar objetos caseiros quebrados
(O homem com quem casou é assim)
Concluirá que não, que quem ela amou
Amou por ser assim indecifrável e indeciso
Indiferente a problemas práticos e cotidianos
Que ele não caberia numa só ficção
Ele mesmo criava histórias
E algumas de suas melhores escrevera com ela

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 18 (Nov/Dez de 2007) do grupo literário Luminários.