EM NOME DO NADA

Ei, você!
Que pensa que tá indo tudo bem na sua vida,
Que comprou um celular último modelo e pensa que realizou o último sonho,
Que acha que só a sua religião levará para o céu,
Que arranja algumas mulheres por causa de uma moto ou carro e se acha o gostoso,
Que tenta casar com um homem rico pra resolver o futuro,
Que trepa nas noites de quinta depois da novela das oito, sem nenhuma emoção,
Que não se emociona com um filme ou uma música,
Que nunca leu um livro sequer,
Que não sabe nada de política e economia,
Que vai trabalhar todos os dias tomando o mesmo caminho,
Que tem uma profissão que odeia, só pelo dinheiro,
Que não confia em ninguém nem é confiável,
Que acha que ser nacionalista é ver o jogo da seleção de futebol,
Que nunca reivindica seus direitos,
Que tem raiva de quem se destaca,
Que acha que o dinheiro é solução pra tudo e compra a todos,
Que se conforma com a mediocridade,
Que já não sonha na cama antes de dormir,
Que não é o que pensa e sente por vergonha ou medo,
Que não vive a própria vida pensando na dos outros,
Que não conhece nada além de seu próprio mundinho,
Que vive criticando por inveja o que adoraria fazer,
Que não tem nem consciência de que está vivo,
Ei, você!
Ser patético e desprezível,
Acorde!
Sinta de verdade,
Ame de verdade,
Trepe de verdade,
Saiba de verdade,
Seja de verdade,
Sinta de verdade!

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 05 (Set/Out de 2005) do grupo literário Luminários.