"ATYPICAL" DA NETFLIX


Mandei um SMS agora há pouco pra minha amiga Iara especialista em TEA, pois é, quem ainda usa SMS, mas ela está desconectada do WhatsApp, tá magoada comigo. Eu disse na mensagem que quando ela vir Atypical, que ela leia algumas das frases do Sam (Keir Gilchrist)  como frases que eu mesmo poderia dizer pra ela, ou que já tentei dizer. Sobretudo quando ele diz que as pessoas acham que autistas (ou pessoas com autismo, tanto faz, a série também traz essa discussão), não têm empatia, que não percebem quando magoam alguém, já ouvi isso, que não gosto de ninguém.

A verdade é, diz Sam, é que percebem, mesmo sem saber as vezes o porquê, mas percebem muito mais intensamente que neurotípicos. É só lembrar de episódios com o House ou o Sheldon. Acabei de maratonar a série que estreou ontem. Que pena que é tão curtinha, somente oito episódios.

Ainda a reverei para pensar em mais detalhes, mas gostei muitíssimo. E se eu colocasse numa só palavra do que trata a série, seria de amor. De relacionamentos e de família. Não importa que o protagonista seja alguém com autismo, a série fala a todos. Mas é ótimo poder ver o tema em uma série tão bem produzida, dirigida e tão bem interpretada (por todos da família). Imagino até que algum dos roteiristas deva ter autismo ou tem algum familiar, porque a série tem sutilezas que só quem convive de perto sabe, tanto da questão da topografia dos sintomas (muito bem representadas), quanto de questões familiares e políticas.. 

Sam é de alto funcionamento, tem altas habilidades, quem sabe em outras temporadas (Netiflix por favor renove!) veremos outros exemplos do espectro. Quem sabe autistas reais como autores, o que seria ainda melhor.

Vale a pena ver, uma ótima maneira pra pensar sobre famílias que convivem com filhos autistas (que viram muitas vezes o centro das atenções e todos sofrem com isso), com seus conflitos, dramas, sobre inclusão escolar (que ideia incrível pro baile!), sobre aceitação na sociedade. Uma série sobre pessoas. Sobre todos nós.

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TEMA AUTISMO NA NETFLIX

Estreia essa semana na Netflix, no dia 11 de agosto, a série Atypical, que foca o cotidiano de um adolescente autista e suas dificuldades em lidar com as demandas da vida, típicas de um jovem entrando na idade adulta. Falarei mais da série futuramente.


E pra quem gosta da Netflix, existem outros filmes e séries que tocam na temática do autismo. Um deles, Asperger’s Are Us (2016), é um divertido documentário sobre um grupo de jovens autistas (dos que se consideram aspergers ou aspies) americanos que fazem apresentações de comédia. Sim! Comédia feita por autistas, vale a pena assistir. As cenas gravadas das performances são hilárias, assim como o próprio processo de criação e suas dificuldades, foco do filme.


Outro filme interessante, nesse caso na categoria ficção, mas baseado em fatos reais é O Farol das Orcas, produção espanhola e argentina de 2016 que narra a história de uma mãe que leva seu filho autista de 11 anos da Espanha para a Patagônia argentina depois que ele viu um documentário sobre um santuário de baleias e demonstrou uma reação emocional pela primeira vez. Um excelente exemplo de como pais de crianças com autismo fazem de tudo para ajudar no desenvolvimento de seus filhos.


Também disponível no serviço de streaming com personagem autista é a série Touch, de 2012, anteriormente exibido pela Fox, tendo duas temporadas. Focada mais no estereótipo do autista com altas habilidades matemáticas, a série traz bom divertimento, mas pouco conhecimento sobre o autismo real.


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VIDA ANIMADA


Em fevereiro deste ano, a 89ª edição do Oscar trouxe o documentário Vida, Animada (Life, Animated - EUA/França, 1h29min), como um dos indicados na categoria Melhor Documentário em Longa-Metragem.

O filme, disponível na Netflix, não conquistou o prêmio, mas ajudou a trazer mais visibilidade para o tema Autismo. Contando a história de Owen Suskind, um menino autista que ficou sem falar por anos, e que aos poucos passou a se comunicar através dos conteúdos de filmes animados da Disney, o documentário emociona por vermos a família engajada na luta para se comunicar com ele e ajudá-lo a se tornar funcional.

Com cenas reais gravadas pelo pais quando ainda era criança a narrativa se mescla ao Owen já um jovem adulto, se preparando para se formar no Ensino Médio (High School), ir morar sozinho e trabalhar.

O documentário se baseia no livro Vida Animada: Uma História sobre Autismo, Heróis e Amizade, lançado este ano no Brasil pela editora Objetiva. O autor é o pai de Owen, Ron Suskind, jornalista americano famoso e premiado com um Pulitzer, um dos mais importantes do jornalismo americano.

A narrativa da experiência de sua família desde o diagnóstico até a idade adulta de Owen é tocante, inspiradora e tem uma escrita agradabilíssima. Vale a pena ler.  E pra quem, assim como eu, sempre foi fã da Disney, tando das animações quanto dos quadrinhos, se torna ainda mais interessante.

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MEU MENINO VADIO


Tem sido comum encontrarmos livros de relatos de mães e pais de crianças com autismo sobre sua trajetória com essas pessoas especiais que muitas vezes transformam famílias inteiras.

No entanto, é claro que nem tudo é alegria e mudanças existenciais. O caminho é por vezes acidentado, cheio de dúvidas e sofrimento. Nem todos os familiares experienciam somente as alegrias de tem um filho “diferente”, e muitas vezes até se sentem culpados por não sentirem a exultação descrita por outros pais.

No livro Meu Menino Vadio (Intríseca) do jornalista Luiz Fernando Vianna encontramos um relato de uma sinceridade tocante. Muitas vezes descrevendo com um tom realístico que chega a causar incômodo, situações vividas por ele e seu filho com autismo, bem diferente dos relatos em geral românticos, de superação e redenção final. Nada contra estes, mas assim como cada autista é único, cada família experiencia a situação de modo distinto.

Um livro que causa desconforto, como causam todos os bons livros, que nos faz pensar em todas as transformações trazidas por essas pessoas especiais sobre as quais ainda estamos aprendendo acerca de seus mundos. E que nos ensinam constantemente também sobre nós mesmos.

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REVISTA MENTE & CÉREBRO - AUTISMO


Todos os meses cumpro o ritual de ir à Megastore Saraiva do Shopping Iguatemi pra comprar a revista Mente e Cérebro (E também a Psique) pra saber das atualizações nas áreas neuro e psi.

Nos últimos meses, a maioria dos números traz algo sobre Autismo. Na edição 289 há uma matéria sobre pesquisas genéticas em Saúde Mental, financiadas por comunidades religiosas (!) amish e menonitas nos EUA, que podem ajudar a entender e prevenir transtornos como autismo. Lembrando que essas comunidades vivem praticamente isoladas e com casamentos consanguíneos, que favorece transtornos mentais (o que seria uma linha a que eu utilizaria nas minhas pesquisas nos Kanindé de Aratuba, cujos matrimônios e constituições familiares são sempre circunscritas à comunidade).

No número 290, conhecemos o projeto 29 Acres em Dallas, no Texas, que pretende abrigar autistas adultos, previsto para inciar ainda este ano de 2017. A futura vida adulta é uma das preocupações constantes de pais de crianças autistas.

E essa preocupação também pode ser vista na edição 291, na matéria que fala sobre os desafios para jovens adultos autistas entrarem no mercado de trabalho. Projetos também nos EUA estão atendendo a esse público e ajudando-os a se preparar para o ingresso no mundo do trabalho, inclusive via Universidade.

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OUTRA SINTONIA


Um dos meus lugares favoritos certamente é a livraria. Várias em Fortaleza, incluindo sebos como o do Geraldo no centro da cidade. Tenho percepções diferentes quando vou à Livraria Cultura, Leitura e Saraiva, cada uma gosto de ir em uma situação/humor específicos.

Sempre li de tudo, creio que como sociólogo e psicólogo tenho de estar por dentro de vários assuntos, mas, claro, tenho minhas predileções e, muitas vezes, meus hiperfocos e manias. No momento obviamente é o Autismo, por questões acadêmicas e de trabalho.

E muita coisa tem saído sobre o tema, tendo tanto ótimos trabalhos quanto descarados caça niqueis dos pais e interessados no assunto. Tem até prateleiras nas livrarias dedicadas exclusivamente ao tema.

Mas essa semana tive uma ótima surpresa ao achar da editora (uma de minhas favoritas) Cia. das Letras o livro  Outra Sintonia: A História do Autismo, de John Donvan e Caren Zucker, jornalistas americanos que contam em quase 700 páginas, numa narrativa fascinante, a história do autismo.

Ainda não acabei de ler, mas estou extremamente entusiasmado pela narrativa e quantidade de informações históricas e discussões que me interessam diretamente em termos de saúde mental e educação. Certamente será um dos livros que mais citarei na minha dissertação e demais trabalhos acadêmicos sobre o tema.

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A DIFERENÇA INVISÍVEL


Nunca consegui me aproximar de um tema de estudo sem ir em busca de tudo que estivesse relacionado, seja em qualquer mídia. Nem sempre temos o melhor entendimento de um assunto só através de textos acadêmicos. Muitas vezes um texto de divulgação científica ou uma matéria para leigos ajudam muito mais. Além de músicas, filmes, literatura de ficção, games e HQs…

Sim, HQs, Histórias em Quadrinhos, que, ao contrário do que muita gente pensa, não são só para crianças e adolescentes. Têm de diversos gêneros e para todas as idades. Um dos que mais gosto são as HQs autorais (sou fã e colecionador de quadrinhos, além de já ter pesquisado na área também, mais especificamente mangás, os quadrinhos japoneses), normalmente com histórias baseadas na própria experiência do autor, narradas em primeira pessoa.

Publicada recentemente pela Editora Nemo, que tem lançado diversas HQs de cunho mais autoral e pessoal dos artistas, A Diferença Invisível das francesas Mademoiselle Caroline e Julie Dachez traz a história de Marguerite (alter ego de Dachez), que foi diagnosticada como tento Asperger aos 27 anos.

A narrativa tem uma sensibilidade tocante e poética e consegue ser, ao mesmo tempo, informativa sobre esse tom do espectro autista. Lembrando que nem todos concordam em ainda usar o termo Asperger (ou Síndrome de Asperger), cunhado por Lorna Wing em 1981, psiquiatra inglesa e mãe de uma criança autista em homenagem a Hans Asperger que em 1944 descreveu formas leves de autismo.

Muitos dizem, a partir do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Quinta Edição na sigla em Inglês), que o Transtorno do Espectro Autista descreve todas as características de qualquer nível. Porém muitos outros, sobretudo pessoas com esse tipo de autismo gostam de se identificar como aspergers, ou aspies, como a própria autora da HQ. Nesse sentido me identifico em muito com a HQ num nível pessoal.

Além de uma gostosa leitura, certamente estando agora na minha lista das melhores HQS de qualquer gênero na minha opinião, é um excelente modo de aprender mais sobre alguns tons do fascinante mundo do Transtorno do Espectro Autista.

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VEJA AUTISMO


A despeito das diversas controvérsias entre meus colegas de ciências da saúde e ciências humanas acerca da parcialidade/imparcialidade da revista Veja em relação à política, fiquei feliz ao saber que a edição dessa semana trazia como matéria de capa o Autismo.

Fui ainda ontem (sábado) à uma banca da Praça Portugal (Fortaleza) ver se já havia chegado, mesmo sabendo que o dia normal de chegada à banca é hoje. Mas a viagem não foi totalmente perdida, coincidentemente o dono da banca é pai de um menino com autismo. Tivemos uma boa conversa, ele, Iara (que estava comigo e tem conexões pessoais e profissionais comigo e com o Autismo) e eu. Aliás, Iara, obrigado por comprar a revista hoje cedo pra mim!

A matéria é bem curta, mas bem fundamentada no que se sabe (e no que ainda não se sabe) sobre o TEA. Todas as redes sociais de associações de pais e amigos de autistas têm repercutido a matéria, inclusive ontem mesmo já havia o PDF da matéria circulando pelos grupos do WhatsApp.

A matéria traz ainda mais visibilidade para o assunto, inclusive com pistas interessantes para pesquisas acadêmicas interessantes para mim.

Link para a Revista: Autismo: os avanços científicos por trás de um grande enigma

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TEMPLE GRANDIN


Temple Grandin é uma celebridade mundial, tanto por suas contribuições ao campo da Zootecnia, quanto por suas pesquisas e ativismo em relação ao TEA (Transtorno do Espectro Autista. O filme Temple Grandin, de 2010, produzido pela HBO, conta uma parte de sua trajetória, sobretudo a acadêmica, que vai do diagnóstico médico na infância de que nunca falaria, até sua entrada no mestrado. Posteriormente Temple também obteve seu doutorado em Zootecnia.

A superação do diagnóstico inicial se deveu sobretudo a forte atuação de sua mãe, que reflete em grande medida o ativismo intenso de pais de filhos com TEA em todo mundo, que tem conseguido visibilidade, legislação especifica e políticas públicas para os autistas.

O filme é inspirador par qualquer pessoa, mesmo sem contato com TEA. E eu diria especialmente para se pensar também questões de saúde mental e de gênero, já que Temple precisa em sua jornada superar tanto o preconceito com sua condição mental, quanto também o preconceito por ser mulher numa área profissional dominada por homens.

A atriz que faz o papel de Temple Grandin está espetacular, tendo ganho diversos prêmios, assim como o próprio filme. Claire Danes é conhecida por sua atuação na série Homeland e no filme Romeu + Julieta de 1996 em que contracena com Leonardo Dicaprio, entre vários outros.

Feito para TV e não para o cinema, teve um alcance menor no grande público, ainda assim com bom reconhecimento. Pode ser visto pela HBO Now e HBO Go, além de outros vídeos sobre os bastidores e entrevistas com o elenco. Link: http://www.hbo.com/movies/temple-grandin

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UM (A) ANTROPÓLOGO (A) EM MARTE


A primeira vez que tive alguma leitura sobre TEA foi com o livro do neurologista Oliver Sacks Um Antropólogo em Marte, em que, no capítulo com o mesmo título, narra seu encontro com Temple Grandin.

Temple é citação obrigatória em palestras e textos sobre TEA, pelo menos dos cálculos de minha própria estatística subjetiva. Autista notável, tem PhD em Zootecnia e é responsável por muitos dos protocolos de tratamento humanizado no manejo e abate de gado.

Comprei o livro por acaso, daqueles que compramos simplesmente por causa do título, na época estava na faculdade de Ciências Sociais e embora soubesse que Oliver Sacks era neurologista, achei que houvesse alguma referência à Antropologia como ciência. Não havia. E o livro foi esquecido na estante.

Já na faculdade de Psicologia, onde somente uma única professora falou sobre TEA, numa única aula, e de forma bem superficial e caricata, voltei a me interessar pelo assunto. Sobretudo porque, paralelamente estava fazendo meu primeiro mestrado, cujo foco era Políticas Públicas e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade). E o autismo, quando se fala em TDAH, naturalmente vem à tona. Tanto por questões de diagnóstico diferencial, quanto de comorbidade.

Voltei a consultar o livro esquecido, mas não tão empoeirado, dado as diversas mudanças de lugar de minha biblioteca nos últimos anos. Porém fiquei no capítulo “Prodígios”, em que o autor fala de savantismo, que para muitos é um tipo de TEA – Inclusive para Sacks, aqueles com capacidades intelectuais bem acima do normal. Como entre meus interesses de pesquisa a inteligência é um dos principais, o capítulo se tornava mais interessante.

Porém, há alguns dias, por causa das minhas novas pesquisas acadêmicas, li o capítulo “Um antropólogo em Marte”, que, como disse, dá nome ao livro, que reúne histórias de casos neurológicos incomuns, característica dos livros de Sacks, que, é bom ressaltar, tem uma escrita deliciosa. Vale a pena ler seus livros, até para refletirmos sobre nós mesmos, nossas identidades e subjetividades a partir de casos que destoam do esperado. Seu mais famoso é Tempo de Despertar que deu origem ao filme de mesmo nome, com com Robert De Niro e Robin Williams. Mais recentemente também publicou, um pouco antes de sua morte em 2015, sua autobiografia chamada Sempre em Movimento: Uma Vida. No Brasil todos os seus livros são publicados pela editora Cia. das Letras.

Temple diz para Sacks que a maior parte do tempo se sente como uma “antropóloga em marte”, dada a dificuldade de entender as emoções complexas e jogos emocionais em que as pessoas se envolvem. Daí o título tão curioso. Embora na tradução o mais correto fosse uma antropóloga em marte, contudo na nossa linguagem e cultura muitas vezes machista o título poderia não ser “vendável”, mas pelo menos não leríamos uma mulher se chamando de antropólogo no texto. Como anthropologist é neutro em inglês como neurologista ou psiquiatra em português os editores poderiam ter feito uma adaptação mais adequada.

No entanto, o capítulo é uma ótima aproximação inicial sobre TEA, sobretudo por ter informações científicas, mas contadas numa narrativa agradável, com uma personagem real e interessante em muitos aspectos, inclusive em sua especificidade autista.

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Sd – R – Sr+

O peso da sua espontaneidade
Sobrecarregou meus protocolos

Sua força gravitacional em minha existência
Desvelou meu espectro
Forçou a atração do meu casulo

Do meu eu otaku
De mim comigo mesmo
Do meu próprio mundo
Do meu eu DSM e CID
Medos disfuncionais

Bagunçou meus livros na estante
Classificados segundo Dewey
Me fez ver DivertidaMente
Apontou minhas emoções
E eu as procurei nos indexadores acadêmicos
Descritores racionais da poesia do agora

Você é peso, é força
Contestação de minha metodologia

Pela primeira vez a caminho do sol
Mistério da criação de vida
Com uma ou outra explicação científica
Da força de sua presença
“Do bem que você promove a este ser antes estéril”
Como na canção de Erick Oliveira* que mandei pra você

Sd – R – Sr+
Caos beijando cosmos
Perdi minhas referências
Embaralhei minhas crenças

Meu devir porém
Deseja sua espontaneidade constante
A capturar meu sorriso

Não me limito mais aos conceitos
Experencio a existência
Mesmo através da raiva
Amor...
Tomás de Aquino não é só mais um livro na estante
Não mais só aula de filosofia

Você decolonizou minhas paixões
Oprimidas há tempos pelo meu tão concreto cérebro

Grafitou minha neurobiologia
Poetizou meu ser tese
Coloriu meus tons de azul

Estou andando sem meus mapas
Sem meu Waze
Sentindo e não só pensando
Chega de trilhos de trem
Quero trilhas com você


*O Bem-Ser, canção perfeita do meu amigo e cantor incrível. Curta: Erick Oliveira

NOVA PLAYBOY, NOVA SOCIEDADE

Em minha pré-adolescência não havia internet como a conhecemos agora. Desde os anos 1960 que ela vem sendo aperfeiçoada, mas somente na década de 90 é que o protocolo World Wide Web (WWW) foi criado, o que tornou acessível seu uso para todos nós. No fim da minha adolescência a gente precisava esperar dar meia noite para pagar apenas um pulso local na internet discada com aquele barulhinho mágico que lembramos com saudosismo (ou ansiedade causada por sua lentidão). Dizem que (pesquisas sérias) a velocidade da internet só tem aumentado cada vez mais por causa da difusão da pornografia e da nudez. Faz sentido.

Nos meus tempos de pré-adolescência ver mulheres nuas só através de revistas compradas em bancas. Homens nus nem se falava, não haviam revistas especializadas em nudez para o público feminino. Na verdade, acho que ainda nem existem, algumas que foram criadas atendem mais ao público gay masculino. Hoje qualquer adolescente tem em seu smartphone via internet acesso ao que bem quiser de material de nudez ou pornográfico. E gratuitamente. Nos meus idos anos tínhamos de comprar as revistas. E por sermos menores de idade a coisa dificultava.

Todos os dias eu ia a banca de revista de minha cidade para comprar HQs. Lia de tudo, tempos bons. Era apaixonado por quadrinhos. Ainda sou, mas agora estou chato e seletivo, chatice vem com a idade. E sempre via as revistas masculinas por lá, mas não podia comprar. A dona da banca jamais venderia. Então dois amigos e eu tivemos uma ideia, vamos comprar uma Playboy, basta pedir a um amigo maior de idade. Fomos até a banca, compramos algumas HQs e escolhemos olhando de longe a Playboy que nos abriria para aquele mundo até então desconhecido. E lá tinha a Playboy Bar. Eu disse, se a Playboy é boa imagina a Playboy Bar. Pedimos ao amigo e ele comprou. Fomos meus dois amigos e eu vê-la, empolgados, a caminho da escola.

A Playboy foi uma revista revolucionária, inclusive para muitos estudiosos ajudou enormemente a mudar a cultura sexual no ocidente, abrindo mentes para uma sexualidade mais natural e saudável. Afinal a Playboy não era só nudez, mas falava de cultura e estilo de vida. Quem nunca disse que comprava a Playboy pelas entrevistas e matérias e ninguém acreditava? (Mesmo que fosse verdade!). Tem um documentário muito bom no canal History sobre a importância da Playboy na cultura sexual ocidental. Vale a pena ver.

Ao abrirmos o plástico que protegia a revista a emoção aumentava a medida que calmamente fomos folhando suas páginas. Porém, com o passar das páginas cadê a nudez? A revista, garotos ingênuos, falava de bebidas! Claro, Playboy Bar! Que decepção. Rasgamos a revista frustrados e jogamos suas páginas pelas ruas da escola (eram tempos politicamente incorretos, ainda fazíamos esse tipo de coisa com o meio ambiente). Fomos pra aula e aquilo sempre foi uma cômica frustração nas minhas memórias acerca da Playboy.

Anos se passaram e muitas delas eu pude ver (sobretudo pelas entrevistas e matérias!). Teve até a edição americana cuja capa era a Marge Simpson. Histórica. E nesses anos tanta coisa mudou. Inclusive nossa maneira de entender a nudez feminina. E também de como acessá-la. As novas tecnologias proporcionaram acesso a esse material como nunca. Nosso acesso mudou e, ainda bem, nossa percepção também. Entendemos que objetificar a mulher não é algo legal e, muito menos, querer restringir-lhes o que fazem de seus corpos. Aprendemos com Foucault sobre biopoder. Ainda que, como diz aquela filósofa linda e inteligente da revista VIP, Carol Teixeira, a mulher exposta nas revistas é que tem o poder sobre o homem. Boa discussão.

Mas o fato é que tanto a chegada das novas tecnologias quanto nossas mudanças culturais, entendendo melhor sobre gênero, mudaram a Playboy. Antes ela influenciou a cultura, agora está sendo influenciada por ela. E a discussão de gênero vem sendo promovida sobretudo pelas ciências humanas. E discussão e luta social que tem mudado vidas. É o que digo para quem pergunta pra que servem as ciências humanas, digo para isso, melhorar a vida das pessoas.

No caso da Playboy americana a decisão foi de não mais publicar nudez. Não dá pra a competir com a internet.  E a primeira capa depois da mudança foi de uma jovem (que parece ainda mais jovem que a idade, imagino algo proposital da revista), que lembra uma foto do Snapchat. Claro, hoje pra quê comprar revista de alguém que você não conhece se pode ver os nudes de seu coleg@ de sala da faculdade? As redes sociais proporcionaram isso.


Aqui no Brasil a revista anunciou no fim do ano passado o seu encerramento. Novos investidores compraram a franquia e fizeram um reposicionamento de mercado. Focando na nossa nova percepção e entendimento sobre mulheres e gênero. As modelos não serão mais pagas, porque não se pode por preço nas mulheres, com isso também não haverá mais disputa de ver quem ganha maior cachê, as mulheres são iguais em seu valor. Como não serão remuneradas elas é que vão escolher como serão fotografadas, se terá nudez completa, parcial ou nenhuma e quais fotos irão compor a revista. O foco estará na mulher toda, não somente em seu corpo. Ganharão financeiramente através de contratos publicitários. 

Isso é só o capitalismo se reinventando para se adequar ao mercado? Talvez, mas mostra também que estamos avançando como sociedade. Para a primeira capa chamaram a Luana Piovani, símbolo brasileiro de mulher madura, linda, inteligente e independente. Uma espécie de arquétipo da nova mulher. Ou de um novo tipo de mulher, existem muitos, o que é ótimo. 
Esse reposicionamento de mercado da Playboy foi um ótimo tema de discussão com meus alunos da faculdade de Administração numa discussão sobre gênero na disciplina de Cultura e Cultura Organizacional.


Baixei na internet (em alta velocidade e não mais há tempos, discada) a revista para ver as mudanças, fiquei curioso, mas normalmente na internet só tem as fotos. Queria ver toda (além de não só piratear), e fui até uma banca comprar a edição, como fazia em anos passados. Foi simbólico pra mim. Relembrei da Playboy Bar. Acho que a revista precisa melhorar ainda na apresentação da mulher de forma mais completa, mas é um avanço. Estamos progredindo. 

SOBREPOSTOS

Sua espontaneidade captura meu sorriso
E eu a invado de sonhos de menina
Desconstruímos o que era posto
Agora sobrepostos autenticamente
Significando cada momento
Paroxismo predestinado ao fim do dia
Ou a noite dos espíritos livres

Diferenças subvertidas por desejos
Verdades reveladas por olhares
Confeccionamos planos loucos
Sem nunca desenhar a normalidade
Nossa condição para a existência

Narrativa natural e exclusiva
Impensada pelos comuns
Cenários e roteiros inusitados
A duvidar que não há câmeras
Ou personagens criados em alucinações

Pode-se falar de sentimentos?
De pensamentos?
Ou até de estímulo e resposta?
Discutir Kant
Crítica da Razão Pura
Perguntas fundamentais
A mim que sou tão racional
E até se converter
Ao material mágico da realidade
A que for plausível à percepção
A que for criatividade

O que for nosso
O que for
Porque já é

PERDIDOS NO TEMPO


Estivemos por todo o tempo assíncronos
No hipertexto de nossa narrativa
Desde que soube primeiro seu nome
E você desconhecia meu olhar
Dos códigos das redes sociais
Lugar primeiro da nossa sala existencial
À saudação em ciclos distintos de Morfeu
Mas o tempo se formou em nova tela
E a chuva superabundou as cores
E a física quântica deu espaço a química
E a bioquímica invadiu a neurociência
Disputando em filosofias da mente
Tornando termodinâmica a psicologia dos corpos
Ao som das minhas canções secretas
Nos perdemos no tempo como dimensão
Reforçadores absolutos de cada pulsar
Mesmos que sobre poucos dias até aqui criados
Temos distância dos passos sobre os anos
Partilhamos até princípios de incerteza
Mas enquanto as águas vierem dos sonhos
Fenomenologicamente fotografadas
Em nossos pensamentos num único instante
Sua existência não mais será suposição
Não mais desconfiarei dos ponteiros imóveis do relógio

Fonte da Foto: sagittariusssss

PLANO ESPONTÂNEO

quebrada a maldição
o plano encontrou o jogo
green background
tequila from Tequila
atração vulcânica 

sua pele a cor mais quente
seu cheiro chama e inflama
convulsiona a neuroquímica

e seus olhos confirmam
o erro de Descartes
ou sua incompletude

coisa de psicoterapia
coisa de discutir psicologia
coisas interessantes
como você
confirmação narcisista
sensopercepção apurada
em meios aos outros
o acerto de Oscar Wilde

Casillero del Diablo
pra guardar o momento
pra tatuar a existência
significar com Aristóteles
zoé e bios

UMA RESPOSTA POSSÍVEL (E TRANSITÓRIA)

Toda vez que você está na praia (ou em qualquer outro lugar), vendo aquele #clichê maravilhoso pôr-do-sol, o que você está vendo na verdade é o passado, já que a luz do sol chega com oito minutos de atraso a Terra. Seguindo o raciocínio a partir da astrofísica, vemos o céu azul por causa da atmosfera terrestre, uma vez passada vemos o céu negro, como visto da Enterprise. Isto é, nossa percepção da “realidade” é influenciada até por questões como essas. Fizemos duas perguntas em textos anteriores. Quem somos nós? (Uma simples primeira pergunta complexa). E o que é real (Uma simples segunda pergunta complexa). Agora conversaremos sobre uma resposta possível (e transitória).

A Teoria do Caos (ou da complexidade), diz que o bater de asas de uma borboleta no Brasil provoca um furacão no Texas, ou seja, tudo está interconectado numa grande rede. Além de sermos seres bio-psico-sociais-existenciais-espirituais no modelo integral-sistêmico de homem (diferente do modelo biomédico que só vê a fisiologia), somos seres relacionados a tudo e a todos. Tudo que fazemos e pensamos afeta a nós mesmos, a quem conosco se relaciona e seus relacionados (essa ideia gerou as redes sociais virtuais) e ao meio ambiente. Nossas decisões – talvez não somos nós mesmos que decidimos, como discutimos nos outros textos – afetam o futuro. Pra um melhor entendimento da complexidade é só assistir Efeito Borboleta. Somente o primeiro porque os outros dois são terríveis.

Tudo bem, temos de pensar, o futuro realmente existe pra que nossas decisões presentes o afetem? E o passado? Tem gente que vê no passado essa resposta que buscamos. A Psicanálise e a Reencarnação, por exemplo. Tem gente que vê no futuro, como os religiosos que acreditam que depois da morte colheremos os frutos de nossas decisões aqui e agora. Já para a Filosofia Budista e para a Gestal-Terapia o que importa é o presente.

E é aí que me situo. Que vejo uma resposta. O passado e o futuro não existem. O passado nossa memória, já tem mostrado a neurociência, modifica e reorganiza. E o futuro só podemos imaginar. Isto é, o passado só pode nos afetar se o significarmos no presente de forma a nos fazer mal. E viver no futuro só causa ansiedade. Só o aqui e o agora importa, portanto. Como disse Jesus Cristo, “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:34). Só o caminho importa, não a chegada. E nos privamos tanto de viver o momento, de aproveitar o dia (Carpe Diem, já dizia o filósofo Horácio e repercutida pelo professor entusiasta de Sociedade dos Poetas Mortos), por conta de acharmos que no futuro usufruiremos de algo. Precisamos dizer mais sim e menos não. Não tanto como Jim Carrey no filme Sim Senhor, mas ele seguiu pelo caminho certo.

Quem somos e o que é real dependem de nossa resposta à existência, porque na verdade não existe Verdade. Mas verdades. Ou fragmentos da verdade. Viver no presente anula os males do passado e a ansiedade pelo futuro. Essa é uma resposta possível. Mas também transitória, parte da verdade, subjetiva, temporal. Porém uma resposta possível e válida.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA

UMA SIMPLES SEGUNDA PERGUNTA COMPLEXA

Convido-o a fazer uma escolha nesse momento. Entre a pílula azul e a vermelha, como no filme Matrix. Se azul, você sai desse texto e vai ler/ouvir/ver outras coisas do blog. Se vermelha permanece um pouquinho aqui para pensar sobre o que é real. Semana passada fizemos a primeira pergunta complexa. Quem somos nós? (Leia o post abaixo). Agora é hora de perguntar o que é a realidade. A minha nesse exato minuto em que escrevo é de alguém com a cabeça a mil com as minhas múltiplas atividades acadêmicas e de trabalho, que, apesar de convergirem a certos momentos partem e chegam de/a caminhos variados. É noite e estou cansado. Mas o dia foi ativo e cheio de bons momentos. O seu pode ter sido negativo/positivo dependendo dos acontecimentos e da sua percepção.

Aliás, é a percepção que nos faz interagir com a chamada realidade. Cheiramos, tocamos, vemos, ouvimos. E o cérebro interpreta. Isso considerando a neurofisiologia normal. Agora considere quem tem transtornos como a sinestesia, onde alguém pode ouvir cores ou cheirar números. Ou coisas mais simples, considere um míope sem óculos. A realidade para estes indivíduos (eu inclusive)  é diferente. Assista ao documentário Janela da Alma. E, mais ainda, nossa percepção muda quanto ao lugar que estamos, a época que estamos e os amigos e família que temos. Não à toa antropólogos alertaram para o etnocentrismo, quando julgamos outras etnias a partir da nossa própria. Como o eurocentrismo, no período das grandes navegações. Exemplo disso, navegadores cristãos portugueses identificaram nas práticas indígenas religiosas elementos da demonologia cristã. Coisas que os nativos não faziam a menor ideia do que fosse.

Por essas e outras se fala em estranhamento (para o bem ou para o mal). Vemos o outro a partir de nossas lentes. E falando em lentes, mesmo a fotografia (ou o vídeo, que nada mais é do que fotografias em sequência), não capta o real. O enquadramento, a iluminação, o tipo de lente mudam a realidade. Congela um sorriso fora do contexto, um abraço teatral.  “Não vemos as coisas como são, mas como somos”, disse com perfeição a escritora Anaïs Nin (que tem excelentes livros eróticos, inclusive que viraram filmes, como Delta de Vênus)Por isso a Fenomenologia prega o ir às coisas mesmas e despir-se dos a prioris como queria Husserl.  Enxergar o fenômeno em si mesmo e não por nós mesmos. Os positivistas achavam possível a objetividade do conhecimento. Pope já subverte com a falseabilidade. Conhecimento científico (e filosófico), mas tem as lentes do senso-comum (empírico), da religião (teológico). Ideologias e representações sociais tentam dar conta da realidade e são exteriores a nós e coercitivas. É só lembrar de Durkheim e Moscovici. 

E as ciências sociais/humanas e naturais ainda enxergam de modos distintos (e são temporais). As naturais estudam também coisas que não vemos com nossa percepção comum, como a microbiologia e a física de partículas. Os microrganismos e os átomos (e suas divisões) fazem parte da realidade. O campo eletromagnético também. Assim como, para muitos, o espiritual. Ou, para outros, delírios. E os sonhos? E o cérebro que não distingue claramente imaginação e realidade perceptiva? O esquizofrênico e o médium veem algo que outros não veem. O drogadito tem uma experiência diferente da realidade. Ou quem faz uso de medicamentos. Psicofármacos e drogas tem na farmacodinâmica e na farmacocinética relação com o que experenciamos do mundo. E o mundo pode ser surreal como no quadro do Dali, acima, que se chama Sonho Causado Pelo Voo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar  (título real!).

E a realidade, para os técnicos, ainda precisa ser pensada na média, não nos casos particulares ou anômicos. Mais estatística e menos casos. Dados, metadados explicam a realidade. A física quântica tenta explicar várias realidades paralelas. Mas no experimento da fenda dupla se percebeu que ao ato de observar modifica a realidade. Não é só nas ciências sociais que sujeito-objeto se confunde. O que é real? Qual a sua percepção da realidade?  O tempo está bonito para chover, na percepção dos lugares onde tem muita escassez de chuva e o tempo está ruim para lugares onde chove muito. Esse texto foi perfeito para alguns e detestável para outros. Palavras se tornam realidade, dizem.


Continuaremos...

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UMA SIMPLES PRIMEIRA PERGUNTA COMPLEXA

Cada um de vocês vai ler e absorver esse texto de uma maneira diferente. Os teóricos da Escola de Frankfurt iriam dizer que eu o (a) influenciarei e você absorverá passivamente essas linhas. Já Martin-Barbero em Dos Meios às Mediações diria que depende de como você vai absorver, a depender de seu meio sócio-cultural-geográfico.

E a neurociência vai dizer, juntamente com a psicologia da percepção, que as interpretações feitas por nosso cérebro a partir do que percebemos com a visão (no caso da leitura, no córtex occipitotemporal esquerdo), irá alterar também as suas aquisições do texto. E o que vimos, ouvimos, tocamos, cheiramos determinam também quem somos e como você é hoje, no instante que lê essas linhas. E o que aqui escrevo faz parte da minha história de vida. O que você lê também depende disso. E sua compreensão do que aqui está sendo dito depende de outros conhecimentos pré-adquiridos dizia Piaget. Até ter absorvido os conteúdos da Garagem Dinâmica altera o produto você/eu. 

Fazemos parte de uma consciência coletiva dizia Durkheim, sociólogo. Ou de um inconsciente coletivo, dizia Jung, psicólogo. Passamos por processos de socialização e de aculturação, dizem sociólogos e antropólogos. A cultura nos define em grande medida, nosso ambiente, onde nascemos e nos desenvolvemos, até nossa língua é determinante. Muito do que fazemos parece advir disto, muito parece ser comportamento aprendido, como diriam os behavioristas. Outro tanto parece automatismo guiado pelo inconsciente, dizem os teóricos do novo inconsciente (não é o Freud!). Maior parte do tempo você não se dá conta nem do que faz nem do como faz.

Algumas vezes parece que escolhemos e decidimos sobre a vida, como pregavam os filósofos existencialistas, Sartre e Camus, por exemplo, mas muitas vezes parecemos pela vida ser controlados, afinal muito da nossa existência é determinada, seja por acaso, seja por destino. Pra Calvino tudo estava predestinado. Para alguns os signos do Zodíaco influenciam quem somos, para outros há forças divinas que nos guiam e nos dão propósito. Para Leonard Mlodnow nosso andar é de bêbados. Armínio confrontou Calvino e disse que temos livre-arbítrio.

Nosso comportamento e mais profundamente quem somos é determinado também biológica e geneticamente. Nem sabemos o que é genético e o que é ambiente. Nosso cérebro é complexo, nossa cultura idem. Até em nível genético-molecular nosso comportamento é determinado. Parece que somos um quadro abstrato, não inteligível ao leigo, como a imagem acima, do quadro The Moon Woman, de Pollock. Somos algo como Truman, no filme O Show de Truman. Parece que sabemos bastante a respeito de nós, mas uma vez confrontados com algumas questões não conseguimos responder de imediato a uma simples primeira pergunta complexa. Quem somos nós?


Continuaremos com outras perguntas. Aguarde...

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DOIS HOMENS E MEIO E A PSICOLOGIA?



Alguns de nós garageanos adoramos a série Dois Homens e Meio. Alguns até parecem com o Charlie e outros com o Alan. Talvez ainda alguém pareça com a Berta. Ok, não vou continuar as suposições de quem se parece com quem senão serei expulso do grupo, lol. Fato é que eu não gostava muito da premissa da série anos atrás. Apesar de o Mauro sempre insistir que era interessante. Mas dois caras e uma criança num cenário não me atraíam. Porém, com as trocas constantes de materiais entre nós, o Amaury me passou algumas temporadas. Pra encurtar essa introdução já longa venho vendo e revendo desde então. Até a saída de Charlie Sheen, claro.

O contraste entre os irmãos é o que dá o tom de humor na série. Um bem sucedido e devasso, o outro problemático e certinho. Mulheres bonitas, sacadas hilárias. Uma mãe que faria qualquer psicanalista adorar analisar, um filho/sobrinho que muda através das temporadas, uma empregada abusada, aliás, governanta. E claro muito álcool e sexo. Afinal, Charlie Harper é a versão light de Charlie Sheen.  E um dos cenários em que muitas das cenas se passam é no Pavlov’s Bar. Desde a primeira temporada é o point de Charlie. E logo no terceiro episódio entendemos por que o bar tem esse nome. É a noite da tequila (um adendo não necessariamente relacionado – tequila e mulheres, uma conexão perfeita, dos dois pontos de vista, nosso e delas, mas isso é tema pra outro post) e todos tem de tomar uma dose toda vez que o sino toca.

A gag faz referência a um dos precursores da psicologia moderna. Ganhador do Nobel (Glawber, ele era fisiologista), foi quem abriu os caminhos para a psicologia comportamental. Seus experimentos laboratoriais o levaram a criação de um mecanismo que chamamos de condicionamento clássico, ou pavloviano, ou ainda, condicionamento respondente. A ideia é que algumas respostas comportamentais são reflexos incondicionadas, isto é, são biologicamente estabelecidos. Mas ele percebeu que seus sujeitos experimentais (nesse caso, cães), haviam aprendido novos reflexos. Estímulos que não eliciavam determinadas respostas passaram a eliciá-las. Como foi isso? O cão, naturalmente saliva diante da comida exposta. Pavlov percebeu que a salivação ocorria até mesmo quando ele se aproximava na hora de dar a comida. Então resolveu fazer o experimento para verificar a aprendizagem de novos reflexos.

Medindo a quantidade de saliva através de uma fístula perto das glândulas salivares, Pavlov tocava um sino perto do cão. Obviamente ele não salivava. Depois emparelhou os estímulos. Som e comida. Com o condicionamento o cão salivava só com o som do sino. Comportamento aprendido e não inato. Parece simples, mas há quase 100 anos atrás foi uma descoberta e tanto que ajudou a estabelecer a psicologia como ciência e até hoje ser a base inicial de um dos movimentos mais fortes na psicoterapia, o behaviorismo. Claro que muito foi contestado, modificado, melhorado na dialética da desconstrução e desconstrução da ciência. Sobretudo com o condicionamento operante de Skinner.

É um bom experimento pra vender tequila. Charlie diz que todos devem latir e beber uma dose de tequila quando o sino toca. Alan pergunta por que. Charlie diz porque o sino toca. Simples. E você verá no vídeo abaixo, do episódio em questão, editado pelo Amaury, que já na casa da mãe deles quando a campainha toca eles latem e não sabem bem por que. Muito bom. 



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SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (E VIVOS)

Final de julho, final de férias. Mês amado pelos estudantes, menos os que estão em programas de mestrado como alguns de nós garageanos. Em vez de fotos de viagem temos colocado fotos das pesquisas nos perfis pessoais do Facebook. Mas adoramos estudar, o que pode ser um problema, lol. Preciso estudar mais biologia molecular pra saber a causa desse comportamento.

Mas o mês de julho trouxe-me duas coisas ótimas. Lançamentos de livros dos meus dois escritores favoritos. Oscar Wilde e Neil Gaiman. Não, o Dândi não voltou do além. É que saiu no Brasil a tradução da versão em inglês de O Retrato de Dorian Gray editada direto dos manuscritos de Wilde. Sem as censuras a que foi submetido quando de sua edição original (única que conhecíamos até agora). O lançamento no Brasil é da editora Biblioteca Azul. Já Gaiman lançou O Oceano no Fim do Caminho (Intrínseca), que meu amigo garageano Mauro Vieira leu de um só fôlego, virando uma noite inteira. Legal que foi lançado simultaneamente no EUA e no Brasil. Estamos saindo da periferia.

Um escritor favorito morto. Um escritor favorito vivo. Não são poetas, embora tenham tentado algumas coisas nesse sentido. Formam a minha sociedade inglesa. Wilde era irlandês, mas tudo é Reino Unido para nós ingleses, né Glawber Kiedis?

Wilde infelizmente morreu (mas ainda com senso estético apurado, detestando o papel de parede da espelunca que viveu seus últimos dias). Fico imaginando sua mente brilhante pensando os dias de hoje. Gaiman acompanho através do Facebook e Twitter, os quais ele usa bastante. É legal porque podemos nos sentir próximos. Sei em tempo real algo que ele tá curtindo/pensando/fazendo.

Não li tudo dos dois. De Wilde tenho as obras completas, mas ainda estou no processo. Outras coisas aparecem. Gaiman também tenho tudo que já foi lançado, mas ele é múltiplo. Quadrinhos, livros infantis, juvenis, adultos, e tem até cantado ao lado de sua esposa/gata/louca/cantora Amanda Palmer. Além dos filmes que ele faz e dos que fazem da obra dele. Oscar Wilde também tem versões. Só de filmes de O Retrato de Dorian Gray têm três. E várias versões em quadrinhos das obras. Compro tudo. Leio/vejo quase tudo. Tem até o livro Oscar Wilde para Inquietos. Por que não tive essa ideia antes? Lol.

Vale a pena, portanto, pegar as economias da caixinha da gaveta ou pedir dinheiro pra avó. Dois autores charmosos no estilo literário e no estilo de vida. Adoro isso, afinal eu não consigo separar autor e obra. Creio que estão ligados. Quero ser assim quando crescer. Que alguém diga o mesmo de mim e de meus livros. E com o hoje é o dia do escritor, falar dos meus dois favoritos torna o mês de julho ainda melhor.

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LANÇAMENTO DA COLEÇÃO DE LITERATURA DO PAIC

Lançamento da Coleção de Literatura do PAIC 2012 - Secretaria de Educação do Ceará na Assembleia Legislativa, no dia 05 de julho último. Meu livro Quero Meu Cabelo Assim, faz parte da coleção. Da coleção 2011 faz parte Café Com Pão, Bolacha Não.




DEXTER E O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL (Parte 2/2)


Não tenho saudade do fim dos anos 1980 e dos anos 1990 quando quase só via filmes e séries pela TV Aberta. Tínhamos de esperar a boa vontade dos canais para comprarem os pacotes que passavam a conta gotas na programação. E com cortes. E dublados. Mas era o jeito pra quem gostava de cultura pop americana. Não havia a Amazon. E nem era comum ter TV por assinatura (quando eu chegava à casa do meu irmão que tinha Directv – lembra disso? eu assistia até a NHK em japonês!). Certo, mas o que isso tem a ver com o psicodiagnóstico do Dexter? É que assisti na última segunda baixado da Internet o primeiro episódio da oitava e última temporada. Não, não sou defensor da pirataria, tenho SKY pacote completo HD, mas convenhamos, eu não ia esperar uma semana pra assistir no FX Brasil.

O episódio foi ótimo. Como disse um amigo meu no Facebook,  Sávio, foi simplesmente fodido. E pra mim, a ideia de ter uma neurocientista envolvida tornou a série Não tenho saudade do fim dos anos 1980 e dos anos 1990 quando quase só via filmes e séries pela TV Aberta. Tínhamos de esperar a boa vontade dos canais para comprarem os pacotes que passavam a conta gotas na programação. E com cortes. E dublados. Mas era o jeito pra quem gostava de cultura pop americana. Não havia a Amazon. E nem era comum ter TV por assinatura (quando eu chegava à casa do meu irmão que tinha Directv – lembra disso? eu assistia até a NHK em japonês!). Certo, mas o que isso tem a ver com o psicodiagnóstico do Dexter? É que assisti na última segunda baixado da Internet o primeiro episódio da oitava e última temporada. Não, não sou defensor da pirataria, tenho SKY pacote completo HD, mas convenhamos, eu não ia esperar uma semana pra assistir no FX Brasil.

O episódio foi ótimo. Como disse um amigo meu no Facebook,  Sávio, foi simplesmente fodido. E pra mim, a ideia de ter uma neurocientista envolvida tornou a série mais interessante. Finalmente haverá a discussão na série se Dexter é ou não um psicopata. E não é uma neuropsiquiatra qualquer que simplesmente irá caçar o nosso serial killer favorito, pai do fofo Harrison, mas spoiler alert! Alguém que sabe quem é o Dexter e o conhece desde a infância. Do c@&%$#*!. Ok, mas e aí? Eu prometi na primeira parte desse post (clique aqui pra ler) que discutiria se o Morgan “certinho” (a outra Morgan, Debra, é porra louca e nesse episódio de estreia tá pirada, afinal você lembra, ela matou a LaGuerta no fim da sétima temporada) é ou não psicopata? Let’s see.

Num dos trechos do episódio de estreia você verá que é dito pela neurocientista aos policiais da Miami Metro Police que psicopatas não tem empatia. Dexter concorda. Empatia é a capacidade natural que temos de identificar o que outra pessoa está pensando ou sentindo e responder com a emoção apropriada. Num dos episódios antigos de Dexter ele está vendo uma comédia romântica com sua então namorada Rita. Ela está chorando, sensibilizada e ele não sabe como reagir. Então decide não piscar os olhos na tentativa que lhe escorram lágrimas e ela pensar que ele sente algo. Segundo alguns pesquisadores de psicologia e neurociências a empatia está envolvida em mais de dez regiões cerebrais, chamadas de circuito da empatia. O sistema límbico (umas das três grandes áreas do cérebro. As outras são o cérebro reptiliano – porção mais antiga e o neocórtex – porção mais nova) e suas conexões com o córtex pré-frontal estão envolvidos na empatia. Nos psicopatas a empatia é zero, inclusive por anomalias anatômicas no córtex pré-frontal, como falei na primeira parte do post. Existem outras partes do cérebro implicadas na fisiopatogenia do Transtorno de Personalidade Antisocial, mas ainda são amostras pequenas e associadas a comorbidades.  O Dexter muitas vezes tem forte empatia por quem ele gosta. Ponto a menos pro psicodiagnóstico. Além disso, psicopatas não têm alucinações. Então não faz sentido que ele converse com o seu pai constantemente, como se ele fosse um Grilo Falante da consciência. Aliás, psicopatas não sentem culpa. Mais um ponto perdido. Vale ressaltar que nos livros, segundo o garageano Clodoaldo, que os leu, o pai de Dexter não aparece dessa forma.


Mas, finalmente, o nosso analista de sangue se enquadra no DSM-IV? Vejamos o que diz o manual. Você pode comparar com você mesmo também, lol.

A. Padrão global de desrespeito e violação aos direitos dos demais que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três (ou mais) dos seguintes critérios:

1) incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicada pela execução  repetida de atos que constituem motivo de detenção. (Dexter é certinho e segue as leis. Trabalha na polícia e tenta ser “normal”).
2) propensão a enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer. (Dexter fez isso em muitos episódios).
3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. (Nem tanto).
4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.(Em alguns episódios).
5) desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia. (De jeito nenhum).
6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras. (Não mesmo).
7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém. (Não. Ele sempre se sente mal por machucar a Deb e outras pessoas próximas).

B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. (Sim, claro).

C. Existem evidências de transtorno de conduta com início anterior aos 15 anos de idade. (Sim!)

D. A ocorrência do comportamento antissocial não se manifesta durante a existência de esquizofrenia ou episódio maníaco. (Dexter tem alucinações, então pode ser esquizofrênico, então não teria psicopatia).

Portanto, pelos critérios do DSM-IV Dexter não seria psicopata. Mas aí é culpa dos roteiristas e das licenças poéticas para que a série funcione. Com possíveis erros de continuidade essa última temporada deve resolver isso, creio que ele será realmente retratado como psicopata. Mas continua a dúvida. As tendências dele foram agravadas com o Código de Harry? Possivelmente. O irmão dele era “mais” psicopata? Provavelmente. Dexter é preso, foge ou morre? Aí já é outra questão. Vamos ver no que vai dar.

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DEXTER E O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOICIAL (Parte 1/2)


Conheci o Dexter através do meu bestfriend e também garageano Clodoaldo Queiros. Lembro-me que ele me passou há alguns anos uns rmvbs (aleluia! Agora existe o mkv) péssimos gravados em DVD (o que é isso?). Assisti aos primeiros dez minutos do piloto sem muito entusiasmo por causa da péssima gravação. Desisti. Mas os anos e as temporadas foram passando e a pregação constante do Clodoaldo sobre a série me converteu. Com o presente de aniversário do Box com as primeiras cinco temporadas da minha namorada rendi-me totalmente. E lá se Conheci o Dexter através do meu bestfriend e também garageano Clodoaldo Queiros. Lembro-me que ele me passou há alguns anos uns rmvbs (aleluia! Agora existe o mkv) péssimos gravados em DVD (o que é isso?). Assisti aos primeiros dez minutos do piloto sem muito entusiasmo por causa da péssima gravação. Desisti. Mas os anos e as temporadas foram passando e a pregação constante do Clodoaldo sobre a série me converteu. Com o presente de aniversário do Box com as primeiras cinco temporadas da minha namorada rendi-me totalmente. E lá se foram sete temporadas. A oitava e última que estreia neste domingo dia 30 elicia mais ansiedade a cada dia em nós. 

Não é de agora que adoramos psicopatas na ficção, seja em séries ou em filmes. Mas a pergunta constante entre nós garageanos tem sido se Dexter é realmente um psicopata. Serial Killer sem dúvida, afinal as placas de vidro de microscópio que ele guarda com o sangue das vítimas são muitíssimas. Nem todo psicopata (ou sociopata) se torna violento e assassino. Muitos se tornam políticos, empresários, religiosos, advogados etc., algumas das profissões que mais atraem psicopatas segundo estudos. E vale dizer que nem todo criminoso é psicopata. 

Os portadores de transtorno da personalidade anti-social, que supostamente o Dexter tem (ele teria o tipo psicopatia), demonstram comportamentos que a sociedade consideraria inaceitáveis, tendem a ser irresponsáveis, impulsivos e falsos. São predadores sociais que encantam, manipulam e progridem na vida de modo implacável. Demonstram ausência completa de consciência e empatia, apossam-se de modo egoísta daquilo que desejam e fazem o que bem entendem. Não sentem culpa ou arrependimento. Contudo, no dia a dia parecem perfeitos e interessantes, sempre elogiam os outros e parecem se interessar realmente por quem está perto. São eloquentes e encantadores. Levam rosquinhas para os colegas como Dexter! São dois mundos distintos. O da aparente perfeição em meio aos outros e monstros em seus universos paralelos. O certinho Dexter se parece muito com essa descrição geral, ainda que não tenha todos os itens que listei, o que não seria necessário para um psicodiagnóstico. 

A grande questão explicitada na série é se a psicopatia é causada por questões genéticas ou ambientais. O bárbaro assassinato da mãe de Dexter, o qual ele assistiu, tá sempre presente. E a motivação, mesmo que bem intencionada de seu pai adotivo em ensiná-lo a matar sem ser pego é algo a se pensar. Afinal ele aprendeu a ser assassino assim? Numa perspectiva behaviorista, talvez. Mas e o impulso que ele tinha desde adolescência? A psicopatia afeta 1% das mulheres e 4% dos homens no mundo e começa em geral por volta de 13 anos. A série tá correta nesse sentido. Em estudos com gêmeos houve correspondência genética em 30% dos casos, mesmo sem ambiente compartilhado. O irmão do Dexter como vimos é até pior que ele. As tendências psicopáticas parecem ser herdáveis na infância, sem influência do ambiente. Há casos de crianças psicopatas mesmo antes dos 13 anos. Ainda que o ambiente sempre seja um fator importante, o comportamento antissocial é em grande parte genético. 


Em pesquisas de genética molecular sobre a personalidade (algo novo em que as ciências do comportamento estão inseridas), há relatos sobre uma associação entre um marcador de DNA para um determinado gene receptor (DRD4, receptor de dopamina D4) e o traço de personalidade de procura de novidade, que está relacionada com indivíduos impulsivos, inconstantes, nervosos, exaltados e extravagantes. A procura por novidade envolve diferenças genéticas na transmissão de dopamina. Ou seja, traços da personalidade são detectáveis em nível molecular! Além disso, em relação à neurofisiologia, psicopatas tem menos conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial, uma parte do cérebro responsável por sentimentos como empatia e culpa e a amígdala, relacionada ao medo e ansiedade.

Para um psicodiagnóstico do Dexter usarei os critérios do DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) já que obviamente não posso entrevistá-lo ou aplicar testes psicológicos ou usar quaisquer outros critérios de uma avaliação psicológica. Mas só no próximo post, depois da season première de domingo. Aguarde. 

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