UMA SIMPLES PRIMEIRA PERGUNTA COMPLEXA

Cada um de vocês vai ler e absorver esse texto de uma maneira diferente. Os teóricos da Escola de Frankfurt iriam dizer que eu o (a) influenciarei e você absorverá passivamente essas linhas. Já Martin-Barbero em Dos Meios às Mediações diria que depende de como você vai absorver, a depender de seu meio sócio-cultural-geográfico.

E a neurociência vai dizer, juntamente com a psicologia da percepção, que as interpretações feitas por nosso cérebro a partir do que percebemos com a visão (no caso da leitura, no córtex occipitotemporal esquerdo), irá alterar também as suas aquisições do texto. E o que vimos, ouvimos, tocamos, cheiramos determinam também quem somos e como você é hoje, no instante que lê essas linhas. E o que aqui escrevo faz parte da minha história de vida. O que você lê também depende disso. E sua compreensão do que aqui está sendo dito depende de outros conhecimentos pré-adquiridos dizia Piaget. Até ter absorvido os conteúdos da Garagem Dinâmica altera o produto você/eu. 

Fazemos parte de uma consciência coletiva dizia Durkheim, sociólogo. Ou de um inconsciente coletivo, dizia Jung, psicólogo. Passamos por processos de socialização e de aculturação, dizem sociólogos e antropólogos. A cultura nos define em grande medida, nosso ambiente, onde nascemos e nos desenvolvemos, até nossa língua é determinante. Muito do que fazemos parece advir disto, muito parece ser comportamento aprendido, como diriam os behavioristas. Outro tanto parece automatismo guiado pelo inconsciente, dizem os teóricos do novo inconsciente (não é o Freud!). Maior parte do tempo você não se dá conta nem do que faz nem do como faz.

Algumas vezes parece que escolhemos e decidimos sobre a vida, como pregavam os filósofos existencialistas, Sartre e Camus, por exemplo, mas muitas vezes parecemos pela vida ser controlados, afinal muito da nossa existência é determinada, seja por acaso, seja por destino. Pra Calvino tudo estava predestinado. Para alguns os signos do Zodíaco influenciam quem somos, para outros há forças divinas que nos guiam e nos dão propósito. Para Leonard Mlodnow nosso andar é de bêbados. Armínio confrontou Calvino e disse que temos livre-arbítrio.

Nosso comportamento e mais profundamente quem somos é determinado também biológica e geneticamente. Nem sabemos o que é genético e o que é ambiente. Nosso cérebro é complexo, nossa cultura idem. Até em nível genético-molecular nosso comportamento é determinado. Parece que somos um quadro abstrato, não inteligível ao leigo, como a imagem acima, do quadro The Moon Woman, de Pollock. Somos algo como Truman, no filme O Show de Truman. Parece que sabemos bastante a respeito de nós, mas uma vez confrontados com algumas questões não conseguimos responder de imediato a uma simples primeira pergunta complexa. Quem somos nós?


Continuaremos com outras perguntas. Aguarde...

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA