ZUMBIS ESTÃO POR AÍ


Nós da Garagem Dinâmica adoramos zumbis. E não é de hoje por causa do frenesi dos novos produtos relacionados. É desde A Noite dos Mortos-Vivos do Romero de 1968, que só assistimos anos depois obviamente, já que todos somos da Geração Y (ou quase todos).

The Walking Dead, claro, é a nova sensação com o tema, que ciclicamente na cultura pop sempre volta à tona (como anjos, vampiros e lobisomens). Com a série consegui até ter um programa de fã em comum com minha namorada Juliana, que também adora e, como todas (ou quase todas) as mulheres se derrete pelo Daryl e eu, como muitos namorados, queremos que ele morra, lol. O Leonard tentou ter um programa de fã com a Penny num episódio recente de The Big Bang Theory, mas não deu muito certo. Ele sugeriu que assistissem juntos à Buffy, mas a Penny não gostou muito. 

Enfim, o Apocalipse Zumbi se aproxima! Pelo menos nos sonhos malucos de gente louca como os garageanos, fãs de cultura pop, mesmo que não tenham nenhuma possibilidade de sobreviver fora de seus consoles de videogame, tablets, smartphones, laptops, fastfoods e que também não saibam atirar (eu pelo menos já estou treinando isso, minha pontaria tá ótima!).

E enquanto os zumbis não chegam sigo estudando psicopatologias na expectativa de ser um psicólogo e neuropsicólogo de sucesso (alguém se consultará comigo no caos hipotético que se instalará?). E lendo os gigantescos manuais da psicologia e assistindo de camarote as brigas sobre o DSM-V que tá pra sair (que é o manual de diagnóstico de doenças mentais, que vem com tanta doença nova que tá difícil ser “normal”), encontrei a Síndrome de Cotard, descobrindo que sim, existem zumbis por aí! Ou pelo menos na realidade delirante dos portadores da doença.

Identificada no final do século XIX pelo neurologista Jules Cotard, os indivíduos que apresentam o transtorno acreditam que estão mortos! Figurativa ou literalmente. Acham que não existem, que estão em estado de putrefação, ou que perderam todo o sangue e os órgãos internos. A semiologia da doença apresenta principalmente o delírio de negação. Os portadores negam que existem ou que certas partes do seu corpo existem. Foram identificados três estágios da doença. Germination (onde os pacientes apresentam depressão psicótica e hipocondria); Blooming (desenvolvimento da síndrome da negação) e a terceira, Chronic (caracterizada por depressão crônica e delírios graves).

Para os iniciados que estão lendo esse post, sim, há semelhanças com esquizofrenia. Neurofisiologicamente está associada a lesões no lobo parietal e atrofia no lobo frontal. Alguns sugerem que a Síndrome de Cotard pode ter a ver com danos que resultam na não capacidade para espelhar os circuitos de neurônios, fazendo com que uma pessoa perca a capacidade da autoconsciência, inclusive. Como assim?  É que há um grupo de neurônios chamados de neurônios-espelho ou neurônios-empatia. São células nervosas que são ativadas quando realizamos uma ação ou quando observamos alguém realizar uma ação. O que nos torna capazes (e evolutivamente foi e é necessário) de identificar os nossos pares e por eles sentir empatia. E imitar o seu comportamento.  

Você não verá tantos “zumbis” por aí, afinal a síndrome (também conhecida como Síndrome do Cadáver Ambulante) é bem rara. Mas é curioso que eles estão por aí, além do papel e dos pixels da cultura pop. 

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LIDERANÇA E CULTURA POP


Relaxando com meu colega de Garagem e de Neurociências Glawber Kieds outro dia no McDonald’s (sim, comemos lá e andamos em shopping!), inventamos de comprar o McLanche Feliz pra ganharmos os bonecos dos ThunderCats na nova promoção.   Obviamente os dois escolhemos o Mumm-Ra, o de vida eterna, lol. Que não está na forma decadente, como você pode ver na foto.

Na conversa e na sessão de fotos (momento PVT, como diz o Glawber), eu falei que até pensei em pegar o Lion-O, mas ele é chato. Como todos os líderes de equipe do universo pop que lembramos. Capitão América (chato), Ciclope (chato e bobo), Super-Homem na Liga da Justiça (chato e escoteiro, como diz o Batman), Kirk (chato e canastrão). E por aí vai, você entendeu meu ponto e deve tá lembrando de vários.

Obviamente precisamos desses chatos, tudo precisa de liderança. Como empreendedor fico lendo às vezes sobre liderança corporativa. Livros chatos. E eu mesmo sou chato muitas vezes com minhas equipes. Aliás, eu sempre falo nas palestras por aí, sobre ambiente corporativo, que todas as empresas precisam das figuras dos chatos burocratas como a Lisa Cuddy e os chatos visionários como o House. Sem qualquer um dos dois o Princeton-Plainsboro Teaching Hospital da série não teria a mesma excelência. As equipes precisam de ciclopes e de wolverines.

Teorias sobre liderança têm várias. Há até a novidade da neuroliderança, que aplica conceito das neurociências (Glawber, lembre-se do curso que ministraremos. Fãs da garagem, inscrições abertas, rsrsr). Mas sempre gosto de voltar aos clássicos. Neste caso do meu cientista social (entre os três porquinhos) favorito: Max Weber. Os outros dois são Marx e Durkheim.

Weber distingue três tipos de dominação (e liderança). A legal, a tradicional e a carismática. A dominação ou autoridade racional-legal, ou burocrática, se baseia mais em leis impessoais do que em lealdade pessoal. Obedece-se a um estatuto legal, baseado em regras criadas racionalmente. Utiliza funcionários especializados.

A tradicional repousa no respeito ao que real, alegada ou presumivelmente sempre existiu. Os dominados (súditos) seguem o “senhor”, legitimado pela história e tradição. Obedece-se fielmente à pessoa em face de sua dignidade. O quadro administrativo é formado de dependentes pessoais do senhor, não pela competência.

E a carismática se baseia nas qualidades peculiares de um líder. Baseia-se na crença de um poder extra-comum, extra-cotidiano do líder, a seus supostos poderes mágicos. Obedece-se à figura do líder e não a seu poder legal ou de uma tradição instituída. O líder não tem servidores ou funcionários, mas apóstolos, partidários ou discípulos.

Sociologicamente falando liderança passa por esses tipos ideais, normalmente os líderes da cultura pop são carismáticos, ainda que chatos por serem tão certinhos. Por isso adoramos os anti-heróis e os vilões, eles parecem mais sem regras. E todos as temos, talvez por isso idealizamos os que vivem sem muitas delas. Contudo, o bom líder precisa muitas vezes quebrar regras para liderar com eficiência e derrotar o Mumm-Ra em mais um episódio.

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ANGELINA JOLIE E A PSICO-ONCOLOGIA


Angelina Jolie é um dos ícones sagrados da Garagem Dinâmica (que muitas vezes é iconoclasta). Mas quando se trata de deusas lindas e talentosas, além de exemplo na luta por liberdade, democracia e cidadania dos menos favorecidos como é a ativista Jolie, não poderíamos deixar de reverenciá-la. Por isso meu brother Glawber Kieds e colega de Neurociências está certíssimo em não deixar passar em branco o fato de uma das mulheres mais admiradas de todos os tempos, encarnação perfeita dos ideais de Simone de Beauvoir, ter retirado os seios depois de descobrir que tinha quase 90% de chance de desenvolver câncer de mama.

Mas como somos pesquisadores de áreas diferentes abordamos o assunto de pontos de vista diferentes. Como já dizia Leonardo Boff, todo ponto de vista é a vista de um ponto. Nem que seja tudo em tons vermelhos como o de Ciclope. Nós da sociologia e da psicologia imaginamos primeiro as representações socioculturais envolvidas com o câncer, enquanto que Glawber e Cia. pensarão nos aspectos fisiológicos. E aqui na garagem você tem a visão do todo! Como na Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier. O câncer, diferentemente de outras doenças, tem uma carga de representações sociais, culturais e até religiosas. Por exemplo, ninguém fica se perguntando existencialmente por que teve um infarto. Ou pelo menos não por muito tempo. Ninguém gosta de ficar doente seja do que for, mas o câncer envolve questões mais profundas da psique humana. Os indivíduos que se descobrem com a doença imaginam por que estão sendo punidos, imaginam castigos divinos, imaginam que aquela doença veio de dentro de si mesmo e são, portanto, pessoas más (em amplo sentido) intrinsecamente. Não à toa existem vários exemplos na cultura pop com tema câncer. A série Breaking Bad, o filme Um Amor pra Recordar e a HQ premiada Our Cancer Year do extraordinário Harvey Pekar, são apenas três bons exemplos.

O Câncer pode ser definido como uma doença degenerativa resultante do acúmulo de lesões no material genético das células, que induz o processo de crescimento, reprodução e dispersão anormal das células no qual o controle sobre a proliferação e morte celular está alterado. Existem mais de  800 tipos diferentes de câncer, muitos deles curáveis, se detectados precocemente. O Câncer é uma doença que até hoje, mesmo com os constantes avanços tecnológicos na sua detecção e tratamento, ainda é extremamente temida e fortemente associada à morte. Desde o diagnóstico até o fim do tratamento, o paciente sofre danos tanto físicos quanto psicológicos, pois além de submeter-se a procedimentos médicos geralmente agressivos, tem sua vida totalmente transformada pela presença da doença.

Pacientes com Câncer tem necessidades diferentes de outros enfermos, o que traz uma carga extra de sofrimento psíquico e que necessita ainda mais de atendimento psicológico. E por tudo que cerca o Câncer, os mitos que o envolvem, as representações sociais, o sofrimento psíquico causado foi criada a Psico-Oncologia, uma das minhas favoritas áreas da psicologia, que trata de pessoas com essa terrível doença. Pra Angelina Jolie, portanto, não deve tá sendo fácil com todas essas questões envolvidas, além do que se refere a uma das partes mais sensíveis, ontologicamente falando, da mulher, que são os seios, símbolo de feminilidade, sensualidade, vida, saúde. Não somente corpos de gordura. Para as mulheres é o câncer mais carregado de representações. Nossas energias positivas da Garagem estão com ela, que, exemplo em tudo que faz, o possa ser novamente para tantas mulheres que sofrem com o mesmo tipo de Câncer. 

P.S.: My friend Glawber, Jojô é só para os verdadeiramente íntimos como eu, lol.

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LANÇAMENTO DO LIVRO QUERO MEU CABELO ASSIM


Saiu meu novo livro infantil pela Secretaria de Educação do Ceará, através do PAIC. Os livros são destinados aos programas da Secretaria, distribuídos em todas as escolas do Estado, com tiragem de 30 mil exemplares. Quero Meu Cabelo Assim faz parte da coleção 2012, que está sendo distribuído este ano. Em 2011 Café Com Pão Bolacha Não também com tiragem de 30 mil exemplares foi distribuído nas escolas ano passado. A ideia para Quero Meu Cabelo Assim surgiu a partir de um post anterior aqui do blog: O Cabelo de Pedro

ESCOLHAS PROGRAMADAS


Jackson Pollock
(1912-1956)

Number 18, 1950. Oil and enamel on Masonite, 22 1/16 × 22 5/16 inches (56.0 × 56.7 cm)


Sou apreciador de Pollock há bastante tempo, desde minhas investidas do final da adolescência, quando seminarista, ampliadas pelo filme biográfico de 2000 (Pollock), quando com 22 anos já pós-abandono do seminário, e na faculdade de Ciências Sociais.

Olho pra esta pintura e vejo o caos da existência. Minha e coletiva. E tento aceitá-lo. Para alguém que foi da religiosidade ao ceticismo, que acreditava em propósitos divinos e encontrou a filosofia existencialista e a liberdade (angustiante) de escolha, o cosmos (em oposição ao caos) fazia sentido. Havia um projeto pra mim dentro do programa geral, mesmo entre as muitas linhas de cores sobrepostas, crer intelectualmente na teologia da predestinação me fazia seguir em frente.

Agora olho pra mesma pintura e só enxergo o acaso. A multiplicidade de linhas e cores caóticas no fundo cinza (o mundo não é preto e branco como eu pensava). O acaso que faz o papel de destino e limita minhas escolhas existenciais, profissionais, amorosas. Hoje não sei se sou livremente influenciado por Sartre ou predestinado a ser calvinista. Saí da crença em propósitos para a da livre escolha e hoje vejo que nossas escolhas são circunstanciais, passando até pelo determinismo do behaviorismo.

Não acreditava em destino, mas em predestinação, o que é diferente. Pensava num livre-arbítrio dentro desse propósito, mas o que vejo agora é destino, que pode ser chamado de acaso, como no livro O Andar do Bêbado, do físico Leonard Milodnov, que argumenta em favor das distribuições de probabilidade nos acontecimentos em nossa vida, das determinações sociais. E na neurociência encontrei as evidências das determinações também genéticas. Até a reação de luta e fuga é randômica em cada indivíduo e seu próprio cérebro reptiliano.

Vejo o caos na tela. E tento aceitá-lo. Inclusive passando pelos teóricos da complexidade, ou do caos, como Fritjof Capra, para quem tudo está conectado. Como na pintura. Como eu no meio do caos das muitas escolhas circunstanciais. Escolhas que pra mim passam (e angustiam), sobretudo na área profissional. Partilhando da busca moderna de realização no trabalho, de encontrar sentido no trabalho, da angustia diante das diversas opções e dos olhares da minha família cujos membros encontraram a realização sobretudo (e para eles a única válida) financeira, no meio disso tudo abandonei o seminário, tornei-me sociólogo, dei aulas no Ensino Médio e Superior, desisti para entrar no ramo da consultoria, o qual estou agora, mas com as devidas angústias. Estudante de Psicologia e de Mestrado na área de Sociologia e Psicologia sigo olhando para a tela e vejo as interconectividades nas linhas e cores e tento encontrar o que sou profissionalmente, como quero ser. Qual a cor? Qual a linha? As escolhas que fiz dentro das minhas possibilidades foram adequadas? Terei novas escolhas? O quadro é caos, o quadro é dor, não aceito o não-cosmos e as muitas possibilidades como na adolescência quando sabia (acreditava) que podia fazer (e realizar) qualquer coisa. 

Penso nos anos que ainda terei. A pintura é feia, seria melhor a pintura imaginada por Oscar Wilde de Dorian Gray e me prender à juventude, de não ter medo de mudar a cor, a linha. De ter uma carreira constante, um trabalho contínuo, uma carreira vitalícia. Mas as transformações no mundo do trabalho não deixam. Ter mais de uma profissão é necessário, ter mais de um diploma uma crescente representação social. Os trabalhos do momento são por projetos com começo, meio e fim, são efêmeros. E são múltiplos os trabalhos e as carreiras. Muitas cores, muitas linhas. Lutam entre si. E queremos que façam sentido, que nos deem comida, mas também diversão e arte como na música. Mas o caos permanece, as bordas do quadro têm fim – como a nossa existência. E as escolhas constantes nos tomam anos. E a vida segue sem que eu encontre a gota de tinta inicial que caiu na tela. Nem sequer sei sua cor. 

MULHERES: NOVOS PARADIGMAS NA FICÇÃO E EM OUTRAS REALIDADES


Há dias aguardo ansioso meu novo jogo Tomb Raider chegar. Comprei em pré-venda pela Saraiva e até compartilhei em nossa fanpage no Facebook a ordem de venda. A data oficial de lançamento é hoje, dia 08 de março, não por acaso o Dia Internacional da Mulher, afinal, quem melhor representa nos games as mulheres e seus novos papéis sociais senão a forte, sexy, independente, inteligente e bem sucedida Lara Croft?


A franquia de games da antropóloga (me too! Lol)/arqueóloga “saqueadora de tumbas” fez um gigantesco sucesso global e arregimentou milhões de fãs em todo o planeta. Finalmente era possível ver uma mulher como protagonista de um game de aventura (Princesa Zelda e Princesa Peach não contam). Obviamente os seios fartos (aumentando a medida que novos jogos eram lançados) e o shortinho mostrando as compridas pernas agradava muitíssimo ao público adolescente masculino. Mas Lara tinha algo mais, era inteligente e destemida, o que também conquistou o público feminino. Uma versão feminina de Indiana Jones incialmente, mas que ganhou identidade própria à medida que as próprias mulheres do mundo real foram conquistando seu espaço. O primeiro Tomb Raider foi lançado em 1996; muito da sociedade mudou nesse tempo.

Comecei a jogar (e a me apaixonar) por Lara em Tomb Raider II, lançado em 1997, que eu jogava no meu PC (que hoje deve estar no céu dos PCs ultrapassados), madrugada adentro, deixando de lado minhas leituras de Nietzsche, Ricoeur, Gadamer, Heidegger e Sartre da faculdade de teologia de lado. E a toda hora ligava pro meu brother garageano Mauro, que com sua memória eidética para jogos me ajudava quando eu me perdia nos caminhos de Lara.


Lara que foi vivida no cinema por Angelina Jolie (outra por quem sou apaixonado). Não podia ter sido ser nenhuma outra a interpretar essa icônica personagem, afinal, na mudança de paradigmas sociais das mulheres no mundo (mais especificamente no Ocidente, claro), Jolie é uma excelente representante. Mãe, ativista, profissional, inteligente, sexy. Atriz ganhadora do Oscar em 2000 por Garota Interrompida. E que teve também sua fase porra louca, algo hoje permitido às mulheres, afinal elas também precisam experimentar o mundo. Os filmes (Lara Croft: Tom Raider  e Lara Croft Tomb Raider: A Origem da Vida) não são obras primas, mas são bem bacanas, sobretudo o primeiro. Representam bem a personagem, encarnada com perfeição por Angelina Jolie (que também protagoniza outros filmes de ação, gênero antes dominado por homens). Não percebeu as mudanças ainda? Preste atenção na publicidade, nas pesquisas, nas faculdades, nos shoppings, nas empresas. Women Power. Ou Pink Power.


E as mulheres continuam sua evolução social, que nós garageanos apoiamos veementemente, sendo inclusive interessante que nesse novo jogo da franquia (intitulado apenas de Tomb Raider), que faz um reboot para os novos tempos, Lara é a ainda jovem aprendiz de aventureira, sem shortinhos e com seios que não atentam à gravidade. Um modelo anatômico mais apropriado à nova mulher dos anos 2000, bonita sem dúvida, porém mais que um corpo físico, um corpo psicológico, sociológico, filosófico. Um ser completo no mundo. Protagonista de sua história de vida.

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VOCÊ

Hoje vi mais uma vez
O vídeo que fiz de você
Primeiríssimo plano de sua beleza
Do seu sorriso que extrai o melhor de mim.

Vejo o que guardarei de você
Mesmo que o tempo faça novos desenhos
Que meus olhos me enganem em novas percepções
Que minha memória mude as cores e os gestos.

Lembrarei com a alma
A felicidade de ser amado por você
Do quanto seu rosto continha luz ao estar comigo.

Mesmo que eu tema o fim de minha existência
Em você encontrei meu significado
Ficarei em alguém
Que dirá para muitos sobre mim
E já não serei tão rapidamente esquecido.

E mesmo quando pararem de falar
A energia imortal do nosso amor
Contaminará novos grandes encontros
Pelas múltiplas eras que virão.

INCONSCIENTE

Inconsciente I

Inconsciente II

GERAÇÃO Y, SONHOS E TRABALHO

Há ainda bastante controvérsia acerca dos posicionamentos no calendário de onde estão as gerações X, Y, Z, etc. A posição mais aceita é para os que nasceram entre 1978 e 1990 (Para o alívio de alguns garageanos que tentam desesperadamente achar um retrato como o de Dorian Gray). Antes disso estariam os X e depois de 1990 os Z.

É essa galera (nós, afinal só tenho quase trinta e estou na lista, lol), representados na cultura pop pelos gênios Sheldon Cooper, Leonard Hofstadter, Howard Wolowitz e Rajesh Koothrappalli de The Big Bang Theory e no mundo real (há diferença?) por Mark Zuckerberg do Facebook e Alex Kipman (brasileiro) criador do Kinect para o X-Box que estão dando as cartas no trabalho, na cultura, na moda e nos relacionamentos. 
Os Millennials (outro nome para geração Y) adoram o conhecimento relacionado à ciência, à cultura pop, a coisas desconhecidas dos demais. Novamente os nerds estão em evidência na sociedade, dessa vez positivamente. Não são mais os loosers que não são atletas e nem pegam a líder de torcida (só no final do filme). Agora são os ricos, poderosos e evidentes na imprensa, nas empresas, na fagocultura. Nerds em todas as suas variações. Geeks, Hipsters, Gamers, Trekkers, Otakus, Cinéfilos, Hackers etc. No more freaks.

Sim, eu sei, ainda tem muito millennial por aí ruminando os versos do Fernando Pessoa do poema Tabacaria:

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.

Eis o problema. Somos insubordinados e queremos sempre dar sentido a tudo. Não aceitamos trabalhar em algo que não faça sentido. Queremos mais que dinheiro, queremos mudar o mundo.  “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte” já cantavam os Titãs (da geração X). E nesse ponto precisamos pensar num híbrido de Nikola Tesla e Thomas Edison. Dois gênios rivais, duas posturas, duas histórias. O primeiro morreu falido e esquecido. O segundo, milionário e celebrado. Prefiro o primeiro, como a maioria dos nerds, afinal ele representa o gênio desapegado e romântico que quer mudar o mundo. Mas gosto da visão de negócio do segundo. Será que sou assim por ter nascido logo no começo da geração y e, portanto, na transição?

O que acredito é em convergência. E estamos vivendo um tempo favorável a isso. Artistas sim, mas com visão de negócio. Idealistas, sim, mas com contas bancárias condizentes com nosso perfil de detentores de conhecimento. Hugh Jackman e Anne Hathaway podem ser o Wolverine e a Mulher-Gato num Blockbuster e grandes atores dramáticos em Os Miseráveis. George Clooney, Brad Pitt, o diretor Steven Soderbergh (e os demais de Onze Homens e Um Segredo) conseguem manter a postura de fazer filmes pra ganhar dinheiro (mas bons, claro) e filmes de arte. E o grande mestre ocidental dos quadrinhos, Will Eisner foi um grande empreendedor. Curiosamente o mestre oriental Osamu Tesuka também foi.

Criar, transformar, significar, amar, diferenciar, são verbos caros aos millennials. Mas que não sejamos poetas do romantismo que morriam sozinhos e com tuberculose, mas apaixonados que mudam o mundo e conseguem viver (financeiramente) dessa paixão. 

Aqui um vídeo bem legal sobre Nikola Tesla:


E a música-homenagem da cantora Amanda Palmer, mulher do Neil Gaiman (outro nerd de sucesso) à Nikola Tesla.


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CÂMBIO



tudo muda
todas as coisas
mutantes
mutação mutila
meu mutismo
clichê permanente
crisálida ávida
medrosa
gelo na fotografia
geléia na geladeira
desbota
desbravador desbrio
debrea
a troca
Dorian Gray chora
        eu e eu mesmo
        análogo
        nisso tudo
        similar
        niilista
        nimboso
        stop motion
        monção sem moção
              fim de mês
              fim de ano
              a fim de mim

INTERESSANTE

olho pra você constantemente
na inútil tentativa de decifrar a mágica
coreografada em minha memória
no primeiro momento que te percebi
soube como sei ainda mais agora
que faria parte de minha vida
contribuiria com o que sou
porque em si você contém
quase transbordante
o ato interessante
da atriz que há um só tempo
deseja e é
vários papéis, aventuras diversas
inconstantes personas
eis-me como tua platéia
na primeira fila
mentes para mim?
verdades absolutas?
representações diversas?
sou roteirista, sou diretor
criador de mundos
moldador de talentos
ouça minha voz
você tem o dom
quer ser estrela?
fazer de sua existência espetáculo?
siga-me

TECNOLOGIA PRA LER


Deixei o pacote dos correios fechado em cima da minha mesa do quarto, como você vê na foto, criando ainda mais expectativa e esperando o melhor momento do dia pra abri-lo.  Era o pacote com meu Kindle que chegou há umas semanas. Depois de tanto tempo de espera (minha e de tantos fãs) a Amazon chegou ao Brasil. E com ela o tão aguardado leitor digital.

Certo, poderia tê-lo comprado há tempos na Amazon americana, mas o peso dos impostos de importação me desanimava. E esperava ter aquela sensação nerd de comprar assim que fosse lançado no Brasil, afinal, para um leitor compulsivo, conhecer novas tecnologias de leitura é um prazer imenso. Já havia outros leitores por aqui, mas é claro que eu queria o pioneiro, o mais famoso. Assim como quando comprei o iPad, não queria um tablet qualquer, mas o iPad, que é sem dúvida o melhor tablet pra ler. O Kindle disponível no Brasil ainda é o primeiro lançado, o mais barato, mas a ideia da Amazon é conquistar clientes e com os impostos por aqui o preço fica salgado. Mas estou ansioso que eles lancem também o Kindle Paper White.


Nessas semanas de teste tenho adorado a experiência de leitura. Sem falar que lembro de há alguns anos quando eu precisava de um livro pras minhas pesquisas tinha de peregrinar pelas livrarias de Fortaleza. Depois do advento das lojas virtuais melhorou ainda mais. Mas imagine precisar de um livro urgente, entrar no loja da Amazon pelo Kindle e em minutos estar com o livro disponível. Certamente o Gutemberg não sabia a semente que estava plantando há quase seis séculos.

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CÉREBRO DIVIDIDO


Who am I? You sure you wanna know?Peter Parker faz essa pergunta retórica para o espectador no primeiro Homem-Aranha da trilogia de Sam Raimi, pra responder explicando quem é ele e o que o torna especial, único. No caso dele poderes que geraram grandes responsabilidades. E no meu, quem sou? E no seu?

Sempre nos pareceu óbvio que cada um de nós é um indivíduo único, especial, provavelmente com uma alma ou espírito independente do corpo que nos torna singulares. Será mesmo? Já sabemos, com os avanços da neurociência e da psicologia que nossa percepção, cognição, linguagem e emoções têm raízes no nosso cérebro. Mas somos só seres fisiológicos? Como se forma nossa consciência? Por programas gravados geneticamente, interdependentes e conflituados que comandam nosso eu/pessoa/self? Ou por interações com o ambiente em que vivemos? O consenso hoje parece ser o meio termo. Somos, como diz o poeta Ferreira Gullar parte permanente, parte que se sabe de repente, influenciadas por nossas bases biológicas e culturais.

Contudo, muitas questões fisiológicas ainda são intrigantes, como o cérebro dividido. Até onde se sabe nosso cérebro é constituído por um hemisfério esquerdo que se distingue pelo pensamento intelectual, racional, verbal e analítico e um hemisfério direito que se destaca na discriminação sensorial e no pensamento emocional, não-verbal, intuitivo. Entretanto, num cérebro normal a interação entre os dois é tão complexa que é difícil dissociar claramente as funções especializadas (E pluribus unum). Através da comissurotomia, que é a desconexão cirúrgica dos dois hemisférios que é feita cortando os feixes de axônios cerebrais do corpo caloso (que une os hemisférios) é que podemos perceber diferenças. Essa cirurgia é feita em pacientes com epilepsia de tratamento medicamentoso ineficaz.

Enfim, humanos comissurotomizados (sim, diversas vezes o procedimento foi feito em gatos pra teste), são normais em quase todos os aspectos, mas existe uma assimetria enorme na sua capacidade de verbalizar respostas a questões colocadas para os dois hemisférios. Desde o século XIX é conhecida a especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem na maioria das pessoas, a chamada área de Broca. A questão está na linguagem. E de que são feitos os pensamentos? Linguagem. E de que somos constituídos? Também de linguagem? A season finale de House, quinta temporada, traz um caso ilustrativo do cérebro dividido. E de nós mesmos. Um homem comissutorizado que passa a ter personalidades distintas e nenhum controle sobre suas ações.

O exame feito pela equipe de House pra verificar as questões de linguagem reproduz o experimento dos cientistas Gazzaniga e LeDoux. Isto é, se uma pessoa comissutorizada vê uma palavra no seu campo visual esquerdo, dirá que não vê nada. Isso ocorre porque o hemisfério esquerdo, que normalmente controla a fala, não viu a palavra, e o hemisfério direito, que viu a palavra é mudo, não verbaliza. Contudo, o direito agirá conforme o que está escrito. Se palavra for "ande", o sujeito andará sem saber por que e não conseguirá dizer por que está a andar. Não somos mais os ingênuos do passado que acreditavam em espíritos do “eu”. Somos nosso cérebro. Somente? Por ora, só posso verbalizar como Peter Parker.Who am I? You sure you wanna know?

Nota: A foto desse post foi tirada por mim nas aulas de anatomia quando era inciante de psicologia. Desde lá as questões acima me intrigam, filosofando com o "cadáver desconhecido" do laboratório, lol. 

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AMIGOS COM BENEFÍCIOS



A chamada Geração Y, na qual se inserem 85,8% dos garageanos (sorry os demais, time is a bitch!), tem produzido diversas mudanças sociais. Os também chamados na sociologia de Millennials são os inquietos, multitarefas e vorazes consumidores  jovens adultos de hoje, que estão transformando e comandando o mundo.

E estão, claro, namorando, como sempre foi também na Geração X, na Baby Boom e até entre os Neandertais. Mas uma característica da Geração Y é a Amizade Colorida. Claro, o casamento está meio fora de moda, em geral só quem quer casar sãos os que não podem, como os gays e padres. A economia não precisa mais do contrato/negócio casamento para produzir, afinal estamos consumindo muito mais que antes e nós Millenials (alguns ainda moram com os pais, como o Howard de The Big Bang Theory, que apesar de casar recentemente ainda não cortou o cordão umbilical), consumimos tanto que já há agências de publicidade e institutos de pesquisa especializados nessa faixa de idade.

A amizade colorida é um arranjo social interessantíssimo (assim como foi tempos atrás o casamento arranjado). Ter intimidades físicas e sexuais com alguém que confia é saudável e já há pesquisas com casais de amigos que se relacionam sexualmente  mas sem compromisso de estabilidade, casa, comida e roupa lavada, até que a morte os separe, que mostram que isso tem funcionado bem. Com as exceções, obviamente, que comprovam a validade positiva do fenômeno. A amizade colorida é diferente do chamado ficar, que antes eu dizia para os meus alunos que era uma boa invenção, dado que você não tinha que casar com o primeiro que namorasse, como foi em gerações passadas, sobretudo para as mulheres. Contudo, é uma relação meio promíscua e vazia. Na amizade colorida há de fato amizade e lealdade. É algo mais profundo. E também não é amante. Isso é outra história e, para alguns, pecado de adultério. Um bom exemplo de amizade colorida é a dos psicólogos Charlie e Kate, da nova série do Charlie Sheen Anger Management.

Prefiro, porém, a expressão em Inglês para este fenômeno, Friends with Benefits (Amigos com Benefícios), descreve melhor e soa bem mais humorado. Aí o chato de plantão diz, “mas isso acaba magoando alguém”. Pode ser, mas todo tipo de relacionamento causa, paradoxalmente, felicidade e dor. Mas a regra é simples. Não há nesse tipo de relação envolvimento amoroso. Emocional sim, claro, mas sem comprometimento de casal, somente de amigos. Não tem casais de namorados que não são amigos e nem tem lealdade um para com o outro? Então, por que o drama? Amigos com benefícios podem ser leais, companheiros, fazem sexo e ainda ajudam a você arranjar um namorado ou namorada. Parece-me interessante, assim como pareceu ao racional Sheldon quando conversou com a Penny e ela lhe explicou do que se trata, não de pagar o plano de saúde do amigo.

Gostou da ideia? Tem um amigo ou amiga que você sente atração? (não paixão!). Pode começar convidando pra verem juntos o filme Amizade Colorida (com o Justin Timberlake e a gata da Mila Kunis), como exemplo bem sucedido desse tipo de relação e Sexo sem Compromisso (com Ashton Kutcher e a também gata Natalie Portman), como um exemplo que não termina tão bem. Sociologicamente falando.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA

MEMÓRIA

as músicas que eu ouvia
não ouço mais
os filmes que me inspiravam
não inspiram mais
os livros que me marcavam
não marcam mais
onde estão os amigos e as experiências de outrora?
o que acontece com o passado
por nós maquiado
causador de saudade?

pra que tanta gente
pra que tanta fala
pra que tanto tempo
se desaparecemos
se nos transformamos
se somos quem devíamos ser
não quem queremos

por que não podemos por nas mãos as lembranças?
por que deixar coisas e pessoas pelo caminho?
por que não podemos ser inteiros?

por qual motivo temos de ter consciência?

o que quero é férias de mim mesmo
e um pouco de riso
amigos com tempo
beijos sinceros
relacionamentos sem jogos

não tenho, mea culpa, obsessão pelo sofrimento
quero tudo de volta
viver de novo, não errar mais
pedir perdão aos que magoei
não sou sacerdote, desculpe
sou profeta da liberdade

preciso do que restou na caixa de Pandora
e ter esperança
de um céu particular onde me esperam
um sábio pra responder minhas perguntas
e o tal do Livro da Vida
com tudo que fiz, senti e pensei
pra que eu descubra, finalmente, quem sou

Publicado originalmente no zine Os Putos e as Donzelas # 10 (Jul/Ago de 2006) do grupo literário Luminários.

X BIENAL DO LIVRO DO CEARÁ


Estive presente na X Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada entre os dias 08 e 18 de novembro de 2012,  lançando meus livros infantis publicados pelo Instituto Maria Ester. Aproveitando o tema da bienal deste ano, Padaria Espiritual, lançamos a segunda edição de Café com Pão, Bolacha Não. Anteriormente publicado pela Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), com tiragem de 30 mil exemplares e distribuição em todas as escolas públicas do Estado. No estande da SEDUC todos os dias foram realizadas oficinas para as crianças utilizando o Café com  Pão Bolacha Não, aproveitando também o tema.
Além desse, lancei Luiz Lua e sua Sanfona Mágica, inspirado em Luiz Gonzaga e no centenário de seu nascimento, que será em 13 de Dezembro.



TECNOLOGIAS PARA VER FILMES


Alguns vão lembrar como eu da “era” em que alugar filmes em VHS era super complicado. E já informando aos que estão rindo e pensando em idade, não faz assim tanto tempo. Em locais atrasados como a província em que nasci (né, Glawber Kiedis?) a única locadora que alugava filmes também alugava os videocassetes. É, nem todo mundo tinha grana pra comprar um. Eu mesmo só fui ter um em casa quando minha irmã comprou um pra ela. Eu, claro, monopolizava, já que ela nunca gostou muito de cinema. Quem não passou por isso não sabe o “prazer” que era rebobinar a fita antes de devolver.

O tempo passou e os DVDs chegaram. Em 1998 no auge de Titanic comprei meu último VHS. Em versão especial! Claro, hoje nego, mas adorava o filme. Com os DVDs veio também a pirataria mais fácil. Camelôs enchendo as ruas e nossa paciência por não podermos andar nas calçadas. Nessa época comprei minha primeira TV (só 20 polegadas, de tubo e tela curva!) e meu primeiro DVD. Era da hoje inexpressiva marca Gradiente. Ainda funciona. Gastei uma grana alugando filmes, sobretudo quando abriram uma Distrivídeo na Unifor, onde eu estudava. Afinal, somente lá tinha os filmes que eu gostava, as locadoras de bairro e camelôs só tinham os “grandes” filmes do Steven Seagal.

Além de cinéfilo sou também colecionador, infelizmente. Boa parte da minha grana vai pra comprar filmes que nunca mais verei, só as traças das minhas casas (sim, moro em dois lugares, como alguns dos colegas garageanos, que se dividem em Redenção (Smallville) e Fortaleza (Metrópolis). Substituí meus VHS todos por DVDs. Uma grana. Mas felizmente não preciso trocá-los por Blu-rays. Economia de grana. Os aparelhos de blu-ray também leem DVDs.

E como cinéfilo preciso acompanhar as tecnologias de leitura de vídeo (e de captação, mas isso será falado em outro post). Comprei minha primeira TV LCD há uns anos, 22 polegadas somente, e substituí meu velho Gradiente por um Samsung Full HD. Fiquei emocionado quando assisti The Big Bang Theory em alta resolução pela primeira vez. Meu número cabalístico era 1080p. Logo comprei outra TV LCD, dessa vez de 32”. E um aparelho Blu-ray. Queria mais nitidez que meu DVD Full HD (que hoje não é mais encontrado à venda nas lojas). Quem chegava na minha casa eu logo mostrava Avatar, influenciando-os para também jogarem fora suas imensas TVs de tubo fora. Nessa época descobri que comprar filmes na Amazon mesmo em dólar saía mais barato que comprar por aqui. E o melhor, sem legenda em português, desculpa para não emprestar (lol).  Infelizmente meus amigos passaram a estudar Inglês também.

Ainda não contente comprei outra TV, dessa vez de LED, Smart TV e 3D. E outro Blu-ray. Moro em dois lugares lembra? E um PS3, melhor custo benefício pra assistir filmes em 3D. E ainda dá pra jogar, entre outros, Arkhan City e me sentir o Batman. Infelizmente a tecnologia blu-ray é natimorta, afinal, o bacana do momento é alugar os filmes on-line via iTunes, Netflix, Saraiva, ou Sky e outros mais. Pra colecionadores, insuficiente, claro, já que gosto de ter também os objetos com encartes e boxes especiais. Mas limito-me hoje a comprar somente os filmes que mexem realmente comigo. Assim como fazia com Avatar hoje mostro Hugo como melhor exemplo de magia 3D.

E quem não quer comprar ou alugar acaba pirateando na internet (não recomendo!). Versões piratas em mkv não deixam em nada a desejar aos blu-rays em definição. E em avi pra os menos exigentes lembram os DVDs. Mas nada de rmvb, sempre detestei.  E com o cerco se fechando aos pirateiros nos servidores de internet, melhor baixar em Torrent. Mas o aluguel on-line hoje é tão barato e prático (não precisa pegar trânsito pra ir à locadora, nem pagar a taxa de entrega) que não vejo motivo pra piratear. As locadoras estão fechando. O bacana mesmo é usar a Apple TV, que comprei e me arrependi, ou a própria Smart TV para, além de alugar on line, ver vídeos no You Tube e Vimeo, por exemplo. Inclusive ouvir e assistir à Garagem Dinâmica.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA

O SER PARA O OUTRO



A frase central do filme O Feitiço do Tempo de 1983 é Today is tomorrow. É dita pelo protagonista no ponto alto do filme, onde o mundo percebido por ele torna-se diferente. Seu personagem é Phill Connors, apresentador meteorológico. Ou homem do tempo.
Nesse filme vemos a importância de ser para o outro. Seguindo a linha de enredosnonsense de seriados clássicos como Além da Imaginação, o protagonista se vê acordando todos os dias no mesmo lugar e no mesmo dia. Enquanto todos os outros experimentam e percebem o dia como se fosse apenas mais um como outro qualquer.
O objeto fenomenológico para Phill é a experiência do dia repetido, registrando todas as experiências e interações sociais da manhã até a noite. Ele conhece, ao longo das centenas de dias repetidos, os dramas, histórias de vida e aspirações das pessoas com quem interage. Com algumas delas tem até experiências sexuais. Mas no dia seguinte, para ele o mesmo, ninguém mais se lembra do que viveram com ele. Ele percebe os outros através de memórias que os outros não as têm. E esses outros o percebem sem as experiências. Ele não é para os outros, não há acúmulo de trocas simbólicas entre eles. O ser para o outro desaparece. Como dizia Sartre, "O ser Para-si só é Para-si através do outro". Sozinhos somos constantes "tornar-se", "vir a ser" que nunca se completam.
Viver sem a memória do outro acerca de nós é solidão infinita. É ser invisível à percepção do outro. Por isso mesmo o protagonista diz que é um deus. O Deus cristão sabe, teologicamente falando na questão da onisciência, tudo acerca de nós, pensamentos e atos. Somos objetos fenomenológicos conhecidos por Ele, em nossa essência e existência, mas não o conhecemos a não ser, para os religiosos que acreditam, através dos relatos de sua palavra revelada, através dos livros considerados canônicos da Bíblia. E para outros, através da natureza. Da beleza do chamado Design Inteligente. Mas não o percebemos por completo. Deus seria, portanto, solitário. Sem falar que poderia fazer tudo, como o protagonista do filme, sem prestar contas a ninguém.
Claro que seguindo as tramas hollywoodianas o filme termina com o amor solucionando tudo. A percepção do dia de Phill Connors é pessimista. A la Schopenhauer. Percebe a si mesmo, nessas sequências repetidas como vaidoso e arrogante. Personagem que casa bem com as caras e bocas de Bill Muray que está ótimo no filme. Parece até que levou o mesmo personagem para outro filme que fez mais tarde, Encontros e Desencontros da premiada diretora Sophia Copolla, que assisti antes de O Feitiço do Tempo. Em Encontros e Desencontros a percepção da existência e do amor também é pessimista. O dia mal visto e repetitivo do protagonista (“Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias” nas palavras de Fernando Pessoa) se torna bom quando ele encontra o amor em sua assistente. O dia se torna outro. Today is tomorrow.
E Phill pôde finalmente apreciar a letra da música que todos os dias o acordava no rádio-relógio, infernizando-o.Babe I got You Babe I got you babe...

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VINHOS E PESSOAS INTERESSANTES



Sair com amigos e/ou amigos e amigas com benefícios em viagens e aprender algo no caminho, tendo a própria viagem por metáfora. Eis o mote dos roadie movies. No caminho, belas paisagens, descobertas, lugares exóticos, pessoas interessantes. Tem algo melhor? Imagine então uma viagem de dois amigos, um deles apreciador de vinhos, escritor frustrado, meio depressivo, recém separado. O outro, ator pouco conhecido, extrovertido, bonitão e meio bronco. A viagem é de despedida de solteiro deste último e passa pela Costa Central da Califórnia em vinhedos deslumbrantes. Esse é o plot de Sideways, uma comédia meio drama sobre vinhos e amizade. No Brasil acrescentaram o subtítulo Entre umas e outras. Péssimo.

O filme foi vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado. E de dois globos de ouro, melhor filme e melhor roteiro. Paul Giamatti no papel principal está soberbo (como sempre é). Um papel deprimido, profundo, introvertido e inteligente. Em meio a várias garrafas de Cabernet Sauvignon, Carménère, Pinot noir e Merlot os diálogos são afiados e interessantes. O encontro com duas mulheres, cada uma compatível com um dos amigos apimentam a trama do filme.  Apreciadores de vinho, conversas inteligentes e, claro, sexo. Mas nada de enochatos que falam coisas ridículas como “percebo folhas de outono revestidas de caramelo”, mas seres no mundo como diária Sartre, que sabem apreciar as coisas boas da vida, uma delas vinho, que com companhia ideal se torna catalizador de grandes momentos existenciais.

Já usei até uma das cenas do filme como desculpa (válida) para uma amiga quando me esqueci de levar para o nosso encontro as taças de vinho. Miles, o protagonista tem uma garrafa de vinho rara que guarda há tempos para uma ocasião especial. Ele é cheio de rituais para tomar vinho, mas acaba tomando esse num copo do McDonald’s comendo sanduiche, tudo por uma questão que não vou contar por ser spoiler. Mas é o momento Carpe Diem dele. Usei isso com a amiga, e estava sendo sincero. Tomamos o vinho naquele dia singular em copos de cerveja. Meus amigos sabem que odeio trocar os tipos de copo. Tenho que beber no adequado para cada bebida. Mas foi o nosso momento Carpe Diem.

Convide amigos e amigas interessantes pra assistir a esse filme encantador com você. Escolha um bom vinho. Apreciá-los é como apreciar obras de arte. Mas veja, não dê uma de conhecedor de vinhos sem ser. Por exemplo, é clichê dizer que vinho quanto mais velho melhor. Bobagem. Eles chegam num ponto excelente em determinada idade, dependendo do tipo, depois só decaem. Ou estragam mesmo. Como algumas pessoas. Outra coisa, nem todo vinho é ruim por ser barato, mas fuja dos baratos demais, eles realmente são péssimos. Nada de vinho “suave”, isso é a cara de quem não saca nada de vinhos. Os bons vinhos são secos. Se você quer um não tão encorpado peça um leve. Harmonização também é importante com o tipo de comida, mas pra ver o filme alguns petiscos são suficientes. Mas se for comer algo mais elaborado sempre pense em vinhos tintos para carnes vermelhas, branco para carnes brancas e rosé para coisas (ruins) como camarão (detesto). Mas, regra geral: se tiver com uma amiga colorida vendo o filme com você, meu caro, beba o que ela quiser. Até em copo de cerveja.

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A VIDA É AQUI E AGORA



Um dos melhores períodos da vida é sem dúvida a adolescência. Essa coisa deaborrecentes deprimidos e rebeldes acontece, sim, sem dúvida, mas no geral é o período das grandes experimentações, em que tudo é novo e atraente. E apesar do saco que é muitas vezes estar em sala de aula, é na escola que experienciamos alguns dos mais interessantes momentos da vida. Beijo, sexo, amizades, festas, álcool e outras coisas mais. E fugimos das aulas, matamos, gazeamos, aí depende do contexto geográfico como chamamos o ato, mas é um dos mais excitantes.

Um clássico da Sessão da Tarde da TV Globo, trata exatamente disso, tirar um dia de folga matando aula. Quem ainda não assistiu a Curtindo a Vida Adoidado? Uma tradução legal do título em inglês,  Ferris Bueller’s Day Off. Ferris (inesquecível interpretação de Matthew Broderick) é o cara boa vida que só se preocupa em curtir, é o cool do colégio e Cameron seu amigo travado e ansioso representa o loser.

Viver o presente como diz Ferris, eis uma tarefa difícil. Constantemente pensamos no passado, nos perguntando por que tomamos determinadas decisões e ansiamos o futuro, achando que a felicidade está lá. A realidade, contudo, é que não existe passado e futuro literais, pelo menos na perspectiva de temporalidade da fenomenologia e do existencialismo. O tempo é estabelecido na relação entre o sujeito e o objeto. O mesmo dia vivido por duas pessoas pode ter significados bem diferentes para cada um. No caso do filme, para Ferris e sua namorada foi um grande momento o dia de folga da escola, para Cameron a preocupação constante com a punição pelo que estava fazendo e a ansiedade por isso provocada fez com que a experiência não fosse nada agradável, apesar de alguns flashes de alegria. Mas ele não estava vivendo o momento.

Não há controle sobre o incontrolável. Não há resposta a por que nos acontece algo, bom ou ruim, mas há o como lidamos com o que nos acontece. Coisas acontecem o tempo todo, boas e ruins. O pior dia da sua vida é o melhor na vida de milhões. Não temos controle como o Cameron gostaria, temos o momento como Ferris prega.  Viver o momento é o desafio. Não se preocupar com o fim da jornada, mas com o caminho. Até Jesus dizia: “Basta a cada dia seu próprio mal”!

Cameron diz pra namorada de Ferris, Sloane, num dos momentos clássicos do filme, em que Ferris dança Twist and Shout na parada em Nova York que o amigo sabe lidar com tudo, e ele gostaria de ser assim. Eis onde está a resposta. É como lidamos com o incontrolável. Sloane pergunta a Cameron o que acha que Ferris será um dia. Cameron diz, sei lá, cozinheiro em Vênus. Sim, Ferris pode qualquer coisa. Sim, nós também. É só viver o momento. 

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RESISTIR À VIDA



Quando a Globo criou sua loja virtual para vender produtos relacionados à sua programação e também DVDs e Blu-rays de séries e novelas, fiquei entusiasmado com a possibilidade de rever a novela Tieta. Há muito esperava que eles lançassem em DVD.  Minha espera chegou ao fim há algumas semanas atrás. Comprei o Box com 11 discos e a revi toda em duas semanas. A novela é de 1989 e antes que algum engraçadinho diga que estou velho saiba que eu assisti na reprise em Vale à Pena Ver de Novo.

A melhor novela que já assisti. Roteiro impecável, trilha sonora memorável, atuações perfeitas. Quem não se lembra de Perpétua magistralmente interpretada por Joana Fomm? Você sabe o que ela guardava na caixa, né? Ou da tia maravilhosa, sonho de adolescentes, inclusive eu, mas não tive uma Tieta infelizmente. Ou de Seu Modesto Pires e sua Teúda e Manteúda. Enfim, personagens extraordinários, concebidos na mente brilhante de Jorge Amado, de cujo livro homônimo Aguinaldo Silva construiu seu roteiro.

Tieta, ou Antonieta Esteves, Antonieta Cantarelli, ou ainda Madame Antoinette (você verá o porquê de tantos nomes dados à personagem vivida por Betty Faria), é uma personagem símbolo de superação. Foi expulsa a pauladas da cidadezinha Santana do Agreste por seu Pai Zé Esteves que não tolerava o comportamento liberal da filha, influenciado pelas intrigas de Perpétua, a irmã invejosa. A jovem vai com a roupa do corpo, humilhada na frente de várias pessoas da cidade que nada fizeram para ajudá-la. Vinte anos depois ela volta à cidade, rica e poderosa, causando admiração, estupefação, inveja e respeito. A partir daí, a trama se desenrola em pontas que irão ser amarradas até o fim de seus 139 capítulos.

Tieta é uma resiliente. Que é como se chama na Psicologia alguém capaz de recompor-se, de renascer das adversidades e sair fortalecido, com recursos que o levam a seguir um caminho saudável. O termo vem da Física, significando a propriedade de um corpo que, deformado, volta ao estado original quando cessam as fontes de tensão. O conceito tem sido usado pela Psicologia há pouco mais de 20 anos e está ligado ao movimento da Psicologia Positiva, que investiga aspectos potencialmente saudáveis do ser humano, e não a psicopatologia como o faz a psicologia tradicional. Num dos diálogos que Tieta tem com Imaculada, uma personagem que se tornou central na novela (no livro é secundária), diz que nunca esperou que um príncipe viesse salvá-la, ela mesma se salvou. Resiliência é isso, muito mais que sobreviver, instinto natural. É uma capacidade que permite ir em frente de modo saudável e organizado. Jorge Amado sempre concebeu mulheres fortes em seus livros, Tieta sem dúvida é a que mais se destaca. Como disse o hilário bêbado da cidade de Santana do Agreste, Bafo de Bode, Tieta não é só uma mulher é uma plantação inteirinha de xibiu.

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VIDA AO VIVO



Imagine-se descobrindo um dia que sua vida é um grande reality show, que tudo que você vive, desde o seu nascimento, é uma espécie de Big Brother assistido por milhões de pessoas. Que a cidade em que você mora é um gigantesco estúdio, que sua mulher, pais, amigos e colegas de trabalho são atores que foram contratados para interagirem com você e lhe dar a impressão de viver num “mundo real”. E pior, mais profundamente, que no campo das suas subjetividades, seus medos, seus gostos, seus modos de ser e de pensar foram “implantados” em você através de anos de interações sociais falsas, construídas na exatidão para moldar seu comportamento. Foi o que Truman, no inesquecível filme O Show de Truman, de 1998, descobriu.

Tema absurdo? Não na sociedade em que vivemos, onde cada vez menos conseguimos distinguir o que é público e o que é privado. E tomando o filme como metáfora você nunca imaginou que sua vida fosse falsa e que intimamente há um eu gritando desesperadamente em busca de algo mais? De algo mais próximo do que você deseja? A beleza do filme reside aí. Truman, interpretado magnificamente por Jim Carrey, tem um desejo profundo de sair de sua vidinha e sua cidadezinha e ver como é o mundo para além do que está à sua frente. Motivado por um amor do passado ele começa a perceber que tem algo estranho em sua vida e passa a sentir um desejo incontrolável de mudança.

Tudo na existência de Truman é um empecilho pra que ele viaje, afinal, o cenário tem limites geográficos. Ele é moldado em medos que o fazem sempre desistir da viajem que sonha, como medo de avião e medo do mar. E sempre há a propaganda oficial que o bombardeia diariamente de que a cidade em que mora é a melhor dos EUA e que seu emprego é ótimo, sua casa linda, sua mulher perfeita, tudo para que se conforme. Parece sua vida? Sim, não é mera coincidência. Veja o filme e se identifique ainda mais. Eu mesmo me vi lá na cidade de Seaheaven quando o assisti pela primeira vez há 14 anos, mas abri a porta (como Truman) que separava a minha vida construída até então para a que eu queria de fato ter. Ao ver o filme você entenderá por que eu disse isso. E torço pra que, ao vê-lo, se você também sentir que há algo errado na sua vida, não mais dê ouvidos a seja o que for que te impedir de ter uma vida plena, e abra sua porta.

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