VINHOS E PESSOAS INTERESSANTES



Sair com amigos e/ou amigos e amigas com benefícios em viagens e aprender algo no caminho, tendo a própria viagem por metáfora. Eis o mote dos roadie movies. No caminho, belas paisagens, descobertas, lugares exóticos, pessoas interessantes. Tem algo melhor? Imagine então uma viagem de dois amigos, um deles apreciador de vinhos, escritor frustrado, meio depressivo, recém separado. O outro, ator pouco conhecido, extrovertido, bonitão e meio bronco. A viagem é de despedida de solteiro deste último e passa pela Costa Central da Califórnia em vinhedos deslumbrantes. Esse é o plot de Sideways, uma comédia meio drama sobre vinhos e amizade. No Brasil acrescentaram o subtítulo Entre umas e outras. Péssimo.

O filme foi vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado. E de dois globos de ouro, melhor filme e melhor roteiro. Paul Giamatti no papel principal está soberbo (como sempre é). Um papel deprimido, profundo, introvertido e inteligente. Em meio a várias garrafas de Cabernet Sauvignon, Carménère, Pinot noir e Merlot os diálogos são afiados e interessantes. O encontro com duas mulheres, cada uma compatível com um dos amigos apimentam a trama do filme.  Apreciadores de vinho, conversas inteligentes e, claro, sexo. Mas nada de enochatos que falam coisas ridículas como “percebo folhas de outono revestidas de caramelo”, mas seres no mundo como diária Sartre, que sabem apreciar as coisas boas da vida, uma delas vinho, que com companhia ideal se torna catalizador de grandes momentos existenciais.

Já usei até uma das cenas do filme como desculpa (válida) para uma amiga quando me esqueci de levar para o nosso encontro as taças de vinho. Miles, o protagonista tem uma garrafa de vinho rara que guarda há tempos para uma ocasião especial. Ele é cheio de rituais para tomar vinho, mas acaba tomando esse num copo do McDonald’s comendo sanduiche, tudo por uma questão que não vou contar por ser spoiler. Mas é o momento Carpe Diem dele. Usei isso com a amiga, e estava sendo sincero. Tomamos o vinho naquele dia singular em copos de cerveja. Meus amigos sabem que odeio trocar os tipos de copo. Tenho que beber no adequado para cada bebida. Mas foi o nosso momento Carpe Diem.

Convide amigos e amigas interessantes pra assistir a esse filme encantador com você. Escolha um bom vinho. Apreciá-los é como apreciar obras de arte. Mas veja, não dê uma de conhecedor de vinhos sem ser. Por exemplo, é clichê dizer que vinho quanto mais velho melhor. Bobagem. Eles chegam num ponto excelente em determinada idade, dependendo do tipo, depois só decaem. Ou estragam mesmo. Como algumas pessoas. Outra coisa, nem todo vinho é ruim por ser barato, mas fuja dos baratos demais, eles realmente são péssimos. Nada de vinho “suave”, isso é a cara de quem não saca nada de vinhos. Os bons vinhos são secos. Se você quer um não tão encorpado peça um leve. Harmonização também é importante com o tipo de comida, mas pra ver o filme alguns petiscos são suficientes. Mas se for comer algo mais elaborado sempre pense em vinhos tintos para carnes vermelhas, branco para carnes brancas e rosé para coisas (ruins) como camarão (detesto). Mas, regra geral: se tiver com uma amiga colorida vendo o filme com você, meu caro, beba o que ela quiser. Até em copo de cerveja.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA