ANGELINA JOLIE E A PSICO-ONCOLOGIA


Angelina Jolie é um dos ícones sagrados da Garagem Dinâmica (que muitas vezes é iconoclasta). Mas quando se trata de deusas lindas e talentosas, além de exemplo na luta por liberdade, democracia e cidadania dos menos favorecidos como é a ativista Jolie, não poderíamos deixar de reverenciá-la. Por isso meu brother Glawber Kieds e colega de Neurociências está certíssimo em não deixar passar em branco o fato de uma das mulheres mais admiradas de todos os tempos, encarnação perfeita dos ideais de Simone de Beauvoir, ter retirado os seios depois de descobrir que tinha quase 90% de chance de desenvolver câncer de mama.

Mas como somos pesquisadores de áreas diferentes abordamos o assunto de pontos de vista diferentes. Como já dizia Leonardo Boff, todo ponto de vista é a vista de um ponto. Nem que seja tudo em tons vermelhos como o de Ciclope. Nós da sociologia e da psicologia imaginamos primeiro as representações socioculturais envolvidas com o câncer, enquanto que Glawber e Cia. pensarão nos aspectos fisiológicos. E aqui na garagem você tem a visão do todo! Como na Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier. O câncer, diferentemente de outras doenças, tem uma carga de representações sociais, culturais e até religiosas. Por exemplo, ninguém fica se perguntando existencialmente por que teve um infarto. Ou pelo menos não por muito tempo. Ninguém gosta de ficar doente seja do que for, mas o câncer envolve questões mais profundas da psique humana. Os indivíduos que se descobrem com a doença imaginam por que estão sendo punidos, imaginam castigos divinos, imaginam que aquela doença veio de dentro de si mesmo e são, portanto, pessoas más (em amplo sentido) intrinsecamente. Não à toa existem vários exemplos na cultura pop com tema câncer. A série Breaking Bad, o filme Um Amor pra Recordar e a HQ premiada Our Cancer Year do extraordinário Harvey Pekar, são apenas três bons exemplos.

O Câncer pode ser definido como uma doença degenerativa resultante do acúmulo de lesões no material genético das células, que induz o processo de crescimento, reprodução e dispersão anormal das células no qual o controle sobre a proliferação e morte celular está alterado. Existem mais de  800 tipos diferentes de câncer, muitos deles curáveis, se detectados precocemente. O Câncer é uma doença que até hoje, mesmo com os constantes avanços tecnológicos na sua detecção e tratamento, ainda é extremamente temida e fortemente associada à morte. Desde o diagnóstico até o fim do tratamento, o paciente sofre danos tanto físicos quanto psicológicos, pois além de submeter-se a procedimentos médicos geralmente agressivos, tem sua vida totalmente transformada pela presença da doença.

Pacientes com Câncer tem necessidades diferentes de outros enfermos, o que traz uma carga extra de sofrimento psíquico e que necessita ainda mais de atendimento psicológico. E por tudo que cerca o Câncer, os mitos que o envolvem, as representações sociais, o sofrimento psíquico causado foi criada a Psico-Oncologia, uma das minhas favoritas áreas da psicologia, que trata de pessoas com essa terrível doença. Pra Angelina Jolie, portanto, não deve tá sendo fácil com todas essas questões envolvidas, além do que se refere a uma das partes mais sensíveis, ontologicamente falando, da mulher, que são os seios, símbolo de feminilidade, sensualidade, vida, saúde. Não somente corpos de gordura. Para as mulheres é o câncer mais carregado de representações. Nossas energias positivas da Garagem estão com ela, que, exemplo em tudo que faz, o possa ser novamente para tantas mulheres que sofrem com o mesmo tipo de Câncer. 

P.S.: My friend Glawber, Jojô é só para os verdadeiramente íntimos como eu, lol.

PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA