UM (A) ANTROPÓLOGO (A) EM MARTE
A primeira vez que tive alguma leitura sobre TEA foi com o livro do neurologista Oliver Sacks Um Antropólogo em Marte, em que, no capítulo com o mesmo título, narra seu encontro com Temple Grandin.
Temple é citação obrigatória em palestras e textos sobre TEA, pelo menos dos cálculos de minha própria estatística subjetiva. Autista notável, tem PhD em Zootecnia e é responsável por muitos dos protocolos de tratamento humanizado no manejo e abate de gado.
Comprei o livro por acaso, daqueles que compramos simplesmente por causa do título, na época estava na faculdade de Ciências Sociais e embora soubesse que Oliver Sacks era neurologista, achei que houvesse alguma referência à Antropologia como ciência. Não havia. E o livro foi esquecido na estante.
Já na faculdade de Psicologia, onde somente uma única professora falou sobre TEA, numa única aula, e de forma bem superficial e caricata, voltei a me interessar pelo assunto. Sobretudo porque, paralelamente estava fazendo meu primeiro mestrado, cujo foco era Políticas Públicas e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade). E o autismo, quando se fala em TDAH, naturalmente vem à tona. Tanto por questões de diagnóstico diferencial, quanto de comorbidade.
Voltei a consultar o livro esquecido, mas não tão empoeirado, dado as diversas mudanças de lugar de minha biblioteca nos últimos anos. Porém fiquei no capítulo “Prodígios”, em que o autor fala de savantismo, que para muitos é um tipo de TEA – Inclusive para Sacks, aqueles com capacidades intelectuais bem acima do normal. Como entre meus interesses de pesquisa a inteligência é um dos principais, o capítulo se tornava mais interessante.
Porém, há alguns dias, por causa das minhas novas pesquisas acadêmicas, li o capítulo “Um antropólogo em Marte”, que, como disse, dá nome ao livro, que reúne histórias de casos neurológicos incomuns, característica dos livros de Sacks, que, é bom ressaltar, tem uma escrita deliciosa. Vale a pena ler seus livros, até para refletirmos sobre nós mesmos, nossas identidades e subjetividades a partir de casos que destoam do esperado. Seu mais famoso é Tempo de Despertar que deu origem ao filme de mesmo nome, com com Robert De Niro e Robin Williams. Mais recentemente também publicou, um pouco antes de sua morte em 2015, sua autobiografia chamada Sempre em Movimento: Uma Vida. No Brasil todos os seus livros são publicados pela editora Cia. das Letras.
Temple diz para Sacks que a maior parte do tempo se sente como uma “antropóloga em marte”, dada a dificuldade de entender as emoções complexas e jogos emocionais em que as pessoas se envolvem. Daí o título tão curioso. Embora na tradução o mais correto fosse uma antropóloga em marte, contudo na nossa linguagem e cultura muitas vezes machista o título poderia não ser “vendável”, mas pelo menos não leríamos uma mulher se chamando de antropólogo no texto. Como anthropologist é neutro em inglês como neurologista ou psiquiatra em português os editores poderiam ter feito uma adaptação mais adequada.
No entanto, o capítulo é uma ótima aproximação inicial sobre TEA, sobretudo por ter informações científicas, mas contadas numa narrativa agradável, com uma personagem real e interessante em muitos aspectos, inclusive em sua especificidade autista.
Publicado Originalmente em: Tons de Azul
Sd – R – Sr+
O peso da sua espontaneidade
Sobrecarregou meus
protocolos
Sua força gravitacional em
minha existência
Desvelou meu espectro
Forçou a atração do meu
casulo
Do meu eu otaku
De mim comigo mesmo
Do meu próprio mundo
Do meu eu DSM e CID
Medos disfuncionais
Bagunçou meus livros na
estante
Classificados segundo Dewey
Me fez ver DivertidaMente
Apontou minhas emoções
E eu as procurei nos indexadores acadêmicos
Descritores racionais da poesia do agora
Você é peso, é força
Contestação de minha metodologia
Pela primeira vez a caminho do sol
Mistério da criação de vida
Com uma ou outra explicação científica
Da força de sua presença
“Do bem que você promove a este ser antes estéril”
Como na canção de Erick Oliveira* que mandei pra você
Sd – R – Sr+
Caos beijando cosmos
Perdi minhas referências
Embaralhei minhas crenças
Meu devir porém
Deseja sua espontaneidade constante
A capturar meu sorriso
Não me limito mais aos conceitos
Experencio a existência
Mesmo através da raiva
Amor...
Tomás de Aquino não é só mais um livro na estante
Não mais só aula de filosofia
Você decolonizou minhas paixões
Oprimidas há tempos pelo meu tão concreto cérebro
Grafitou minha neurobiologia
Poetizou meu ser tese
Coloriu meus tons de azul
Coloriu meus tons de azul
Estou andando sem meus mapas
Sem meu Waze
Sentindo e não só pensando
Chega de trilhos de trem
Quero trilhas com você*O Bem-Ser, canção perfeita do meu amigo e cantor incrível. Curta: Erick Oliveira
NOVA PLAYBOY, NOVA SOCIEDADE
Em minha pré-adolescência não havia internet como a conhecemos agora. Desde os anos 1960 que ela vem sendo aperfeiçoada, mas somente na década de 90 é que o protocolo World Wide Web (WWW) foi criado, o que tornou acessível seu uso para todos nós. No fim da minha adolescência a gente precisava esperar dar meia noite para pagar apenas um pulso local na internet discada com aquele barulhinho mágico que lembramos com saudosismo (ou ansiedade causada por sua lentidão). Dizem que (pesquisas sérias) a velocidade da internet só tem aumentado cada vez mais por causa da difusão da pornografia e da nudez. Faz sentido.
Nos meus tempos de pré-adolescência ver mulheres nuas só através de revistas compradas em bancas. Homens nus nem se falava, não haviam revistas especializadas em nudez para o público feminino. Na verdade, acho que ainda nem existem, algumas que foram criadas atendem mais ao público gay masculino. Hoje qualquer adolescente tem em seu smartphone via internet acesso ao que bem quiser de material de nudez ou pornográfico. E gratuitamente. Nos meus idos anos tínhamos de comprar as revistas. E por sermos menores de idade a coisa dificultava.
Todos os dias eu ia a banca de revista de minha cidade para comprar HQs. Lia de tudo, tempos bons. Era apaixonado por quadrinhos. Ainda sou, mas agora estou chato e seletivo, chatice vem com a idade. E sempre via as revistas masculinas por lá, mas não podia comprar. A dona da banca jamais venderia. Então dois amigos e eu tivemos uma ideia, vamos comprar uma Playboy, basta pedir a um amigo maior de idade. Fomos até a banca, compramos algumas HQs e escolhemos olhando de longe a Playboy que nos abriria para aquele mundo até então desconhecido. E lá tinha a Playboy Bar. Eu disse, se a Playboy é boa imagina a Playboy Bar. Pedimos ao amigo e ele comprou. Fomos meus dois amigos e eu vê-la, empolgados, a caminho da escola.
A Playboy foi uma revista revolucionária, inclusive para muitos estudiosos ajudou enormemente a mudar a cultura sexual no ocidente, abrindo mentes para uma sexualidade mais natural e saudável. Afinal a Playboy não era só nudez, mas falava de cultura e estilo de vida. Quem nunca disse que comprava a Playboy pelas entrevistas e matérias e ninguém acreditava? (Mesmo que fosse verdade!). Tem um documentário muito bom no canal History sobre a importância da Playboy na cultura sexual ocidental. Vale a pena ver.
Ao abrirmos o plástico que protegia a revista a emoção aumentava a medida que calmamente fomos folhando suas páginas. Porém, com o passar das páginas cadê a nudez? A revista, garotos ingênuos, falava de bebidas! Claro, Playboy Bar! Que decepção. Rasgamos a revista frustrados e jogamos suas páginas pelas ruas da escola (eram tempos politicamente incorretos, ainda fazíamos esse tipo de coisa com o meio ambiente). Fomos pra aula e aquilo sempre foi uma cômica frustração nas minhas memórias acerca da Playboy.
Anos se passaram e muitas delas eu pude ver (sobretudo pelas entrevistas e matérias!). Teve até a edição americana cuja capa era a Marge Simpson. Histórica. E nesses anos tanta coisa mudou. Inclusive nossa maneira de entender a nudez feminina. E também de como acessá-la. As novas tecnologias proporcionaram acesso a esse material como nunca. Nosso acesso mudou e, ainda bem, nossa percepção também. Entendemos que objetificar a mulher não é algo legal e, muito menos, querer restringir-lhes o que fazem de seus corpos. Aprendemos com Foucault sobre biopoder. Ainda que, como diz aquela filósofa linda e inteligente da revista VIP, Carol Teixeira, a mulher exposta nas revistas é que tem o poder sobre o homem. Boa discussão.
Mas o fato é que tanto a chegada das novas tecnologias quanto nossas mudanças culturais, entendendo melhor sobre gênero, mudaram a Playboy. Antes ela influenciou a cultura, agora está sendo influenciada por ela. E a discussão de gênero vem sendo promovida sobretudo pelas ciências humanas. E discussão e luta social que tem mudado vidas. É o que digo para quem pergunta pra que servem as ciências humanas, digo para isso, melhorar a vida das pessoas.
No caso da Playboy americana a decisão foi de não mais publicar nudez. Não dá pra a competir com a internet. E a primeira capa depois da mudança foi de uma jovem (que parece ainda mais jovem que a idade, imagino algo proposital da revista), que lembra uma foto do Snapchat. Claro, hoje pra quê comprar revista de alguém que você não conhece se pode ver os nudes de seu coleg@ de sala da faculdade? As redes sociais proporcionaram isso.
Aqui no Brasil a revista anunciou no fim do ano passado o seu encerramento. Novos investidores compraram a franquia e fizeram um reposicionamento de mercado. Focando na nossa nova percepção e entendimento sobre mulheres e gênero. As modelos não serão mais pagas, porque não se pode por preço nas mulheres, com isso também não haverá mais disputa de ver quem ganha maior cachê, as mulheres são iguais em seu valor. Como não serão remuneradas elas é que vão escolher como serão fotografadas, se terá nudez completa, parcial ou nenhuma e quais fotos irão compor a revista. O foco estará na mulher toda, não somente em seu corpo. Ganharão financeiramente através de contratos publicitários.
Isso é só o capitalismo se reinventando para se adequar ao mercado? Talvez, mas mostra também que estamos avançando como sociedade. Para a primeira capa chamaram a Luana Piovani, símbolo brasileiro de mulher madura, linda, inteligente e independente. Uma espécie de arquétipo da nova mulher. Ou de um novo tipo de mulher, existem muitos, o que é ótimo.
Esse reposicionamento de mercado da Playboy foi um ótimo tema de discussão com meus alunos da faculdade de Administração numa discussão sobre gênero na disciplina de Cultura e Cultura Organizacional.
Baixei na internet (em alta velocidade e não mais há tempos, discada) a revista para ver as mudanças, fiquei curioso, mas normalmente na internet só tem as fotos. Queria ver toda (além de não só piratear), e fui até uma banca comprar a edição, como fazia em anos passados. Foi simbólico pra mim. Relembrei da Playboy Bar. Acho que a revista precisa melhorar ainda na apresentação da mulher de forma mais completa, mas é um avanço. Estamos progredindo.
SOBREPOSTOS
Sua espontaneidade captura meu sorriso
E eu a invado de sonhos de menina
Desconstruímos o que era posto
Agora sobrepostos autenticamente
Significando cada momento
Paroxismo predestinado ao fim do dia
Ou a noite dos espíritos livres
Diferenças subvertidas por desejos
Verdades reveladas por olhares
Confeccionamos planos loucos
Sem nunca desenhar a normalidade
Nossa condição para a existência
Narrativa natural e exclusiva
Impensada pelos comuns
Cenários e roteiros inusitados
A duvidar que não há câmeras
Ou personagens criados em alucinações
Pode-se falar de sentimentos?
De pensamentos?
Ou até de estímulo e resposta?
Discutir Kant
Crítica da Razão Pura
Perguntas fundamentais
A mim que sou tão racional
E até se converter
Ao material mágico da realidade
A que for plausível à percepção
A que for criatividade
O que for nosso
O que for
Porque já é
E eu a invado de sonhos de menina
Desconstruímos o que era posto
Agora sobrepostos autenticamente
Significando cada momento
Paroxismo predestinado ao fim do dia
Ou a noite dos espíritos livres
Diferenças subvertidas por desejos
Verdades reveladas por olhares
Confeccionamos planos loucos
Sem nunca desenhar a normalidade
Nossa condição para a existência
Narrativa natural e exclusiva
Impensada pelos comuns
Cenários e roteiros inusitados
A duvidar que não há câmeras
Ou personagens criados em alucinações
Pode-se falar de sentimentos?
De pensamentos?
Ou até de estímulo e resposta?
Discutir Kant
Crítica da Razão Pura
Perguntas fundamentais
A mim que sou tão racional
E até se converter
Ao material mágico da realidade
A que for plausível à percepção
A que for criatividade
O que for nosso
O que for
Porque já é
PERDIDOS NO TEMPO
Estivemos por todo o tempo assíncronos
No hipertexto de nossa narrativa
Desde que soube primeiro seu nome
E você desconhecia meu olhar
Dos códigos das redes sociais
Lugar primeiro da nossa sala existencial
À saudação em ciclos distintos de Morfeu
Mas o tempo se formou em nova tela
E a chuva superabundou as cores
E a física quântica deu espaço a química
E a bioquímica invadiu a neurociência
Disputando em filosofias da mente
Tornando termodinâmica a psicologia dos corpos
Ao som das minhas canções secretas
Nos perdemos no tempo como dimensão
Reforçadores absolutos de cada pulsar
Mesmos que sobre poucos dias até aqui criados
Temos distância dos passos sobre os anos
Partilhamos até princípios de incerteza
Mas enquanto as águas vierem dos sonhos
Fenomenologicamente fotografadas
Em nossos pensamentos num único instante
Sua existência não mais será suposição
Não mais desconfiarei dos ponteiros imóveis do relógio
Fonte da Foto: sagittariusssss
PLANO ESPONTÂNEO
quebrada a maldição
o plano encontrou o jogo
green background
tequila from Tequila
atração vulcânica
sua pele a cor mais quente
seu cheiro chama e inflama
convulsiona a neuroquímica
e seus olhos confirmam
o erro de Descartes
ou sua incompletude
coisa de psicoterapia
coisa de discutir psicologia
coisas interessantes
como você
confirmação narcisista
sensopercepção apurada
em meios aos outros
o acerto de Oscar Wilde
Casillero del Diablo
pra guardar o momento
pra tatuar a existência
significar com Aristóteles
zoé e biosUMA RESPOSTA POSSÍVEL (E TRANSITÓRIA)
Toda vez que você está na praia (ou em qualquer outro lugar), vendo aquele #clichê maravilhoso pôr-do-sol, o que você está vendo na verdade é o passado, já que a luz do sol chega com oito minutos de atraso a Terra. Seguindo o raciocínio a partir da astrofísica, vemos o céu azul por causa da atmosfera terrestre, uma vez passada vemos o céu negro, como visto da Enterprise. Isto é, nossa percepção da “realidade” é influenciada até por questões como essas. Fizemos duas perguntas em textos anteriores. Quem somos nós? (Uma simples primeira pergunta complexa). E o que é real (Uma simples segunda pergunta complexa). Agora conversaremos sobre uma resposta possível (e transitória).
A Teoria do Caos (ou da complexidade), diz que o bater de asas de uma borboleta no Brasil provoca um furacão no Texas, ou seja, tudo está interconectado numa grande rede. Além de sermos seres bio-psico-sociais-existenciais-espirituais no modelo integral-sistêmico de homem (diferente do modelo biomédico que só vê a fisiologia), somos seres relacionados a tudo e a todos. Tudo que fazemos e pensamos afeta a nós mesmos, a quem conosco se relaciona e seus relacionados (essa ideia gerou as redes sociais virtuais) e ao meio ambiente. Nossas decisões – talvez não somos nós mesmos que decidimos, como discutimos nos outros textos – afetam o futuro. Pra um melhor entendimento da complexidade é só assistir Efeito Borboleta. Somente o primeiro porque os outros dois são terríveis.
Tudo bem, temos de pensar, o futuro realmente existe pra que nossas decisões presentes o afetem? E o passado? Tem gente que vê no passado essa resposta que buscamos. A Psicanálise e a Reencarnação, por exemplo. Tem gente que vê no futuro, como os religiosos que acreditam que depois da morte colheremos os frutos de nossas decisões aqui e agora. Já para a Filosofia Budista e para a Gestal-Terapia o que importa é o presente.
E é aí que me situo. Que vejo uma resposta. O passado e o futuro não existem. O passado nossa memória, já tem mostrado a neurociência, modifica e reorganiza. E o futuro só podemos imaginar. Isto é, o passado só pode nos afetar se o significarmos no presente de forma a nos fazer mal. E viver no futuro só causa ansiedade. Só o aqui e o agora importa, portanto. Como disse Jesus Cristo, “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:34). Só o caminho importa, não a chegada. E nos privamos tanto de viver o momento, de aproveitar o dia (Carpe Diem, já dizia o filósofo Horácio e repercutida pelo professor entusiasta de Sociedade dos Poetas Mortos), por conta de acharmos que no futuro usufruiremos de algo. Precisamos dizer mais sim e menos não. Não tanto como Jim Carrey no filme Sim Senhor, mas ele seguiu pelo caminho certo.
Quem somos e o que é real dependem de nossa resposta à existência, porque na verdade não existe Verdade. Mas verdades. Ou fragmentos da verdade. Viver no presente anula os males do passado e a ansiedade pelo futuro. Essa é uma resposta possível. Mas também transitória, parte da verdade, subjetiva, temporal. Porém uma resposta possível e válida.
PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA
A Teoria do Caos (ou da complexidade), diz que o bater de asas de uma borboleta no Brasil provoca um furacão no Texas, ou seja, tudo está interconectado numa grande rede. Além de sermos seres bio-psico-sociais-existenciais-espirituais no modelo integral-sistêmico de homem (diferente do modelo biomédico que só vê a fisiologia), somos seres relacionados a tudo e a todos. Tudo que fazemos e pensamos afeta a nós mesmos, a quem conosco se relaciona e seus relacionados (essa ideia gerou as redes sociais virtuais) e ao meio ambiente. Nossas decisões – talvez não somos nós mesmos que decidimos, como discutimos nos outros textos – afetam o futuro. Pra um melhor entendimento da complexidade é só assistir Efeito Borboleta. Somente o primeiro porque os outros dois são terríveis.
Tudo bem, temos de pensar, o futuro realmente existe pra que nossas decisões presentes o afetem? E o passado? Tem gente que vê no passado essa resposta que buscamos. A Psicanálise e a Reencarnação, por exemplo. Tem gente que vê no futuro, como os religiosos que acreditam que depois da morte colheremos os frutos de nossas decisões aqui e agora. Já para a Filosofia Budista e para a Gestal-Terapia o que importa é o presente.
E é aí que me situo. Que vejo uma resposta. O passado e o futuro não existem. O passado nossa memória, já tem mostrado a neurociência, modifica e reorganiza. E o futuro só podemos imaginar. Isto é, o passado só pode nos afetar se o significarmos no presente de forma a nos fazer mal. E viver no futuro só causa ansiedade. Só o aqui e o agora importa, portanto. Como disse Jesus Cristo, “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:34). Só o caminho importa, não a chegada. E nos privamos tanto de viver o momento, de aproveitar o dia (Carpe Diem, já dizia o filósofo Horácio e repercutida pelo professor entusiasta de Sociedade dos Poetas Mortos), por conta de acharmos que no futuro usufruiremos de algo. Precisamos dizer mais sim e menos não. Não tanto como Jim Carrey no filme Sim Senhor, mas ele seguiu pelo caminho certo.
Quem somos e o que é real dependem de nossa resposta à existência, porque na verdade não existe Verdade. Mas verdades. Ou fragmentos da verdade. Viver no presente anula os males do passado e a ansiedade pelo futuro. Essa é uma resposta possível. Mas também transitória, parte da verdade, subjetiva, temporal. Porém uma resposta possível e válida.
PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA
UMA SIMPLES SEGUNDA PERGUNTA COMPLEXA
Convido-o a fazer uma escolha nesse momento. Entre a pílula azul e a vermelha, como no filme Matrix. Se azul, você sai desse texto e vai ler/ouvir/ver outras coisas do blog. Se vermelha permanece um pouquinho aqui para pensar sobre o que é real. Semana passada fizemos a primeira pergunta complexa. Quem somos nós? (Leia o post abaixo). Agora é hora de perguntar o que é a realidade. A minha nesse exato minuto em que escrevo é de alguém com a cabeça a mil com as minhas múltiplas atividades acadêmicas e de trabalho, que, apesar de convergirem a certos momentos partem e chegam de/a caminhos variados. É noite e estou cansado. Mas o dia foi ativo e cheio de bons momentos. O seu pode ter sido negativo/positivo dependendo dos acontecimentos e da sua percepção.
Aliás, é a percepção que nos faz interagir com a chamada realidade. Cheiramos, tocamos, vemos, ouvimos. E o cérebro interpreta. Isso considerando a neurofisiologia normal. Agora considere quem tem transtornos como a sinestesia, onde alguém pode ouvir cores ou cheirar números. Ou coisas mais simples, considere um míope sem óculos. A realidade para estes indivíduos (eu inclusive) é diferente. Assista ao documentário Janela da Alma. E, mais ainda, nossa percepção muda quanto ao lugar que estamos, a época que estamos e os amigos e família que temos. Não à toa antropólogos alertaram para o etnocentrismo, quando julgamos outras etnias a partir da nossa própria. Como o eurocentrismo, no período das grandes navegações. Exemplo disso, navegadores cristãos portugueses identificaram nas práticas indígenas religiosas elementos da demonologia cristã. Coisas que os nativos não faziam a menor ideia do que fosse.
Por essas e outras se fala em estranhamento (para o bem ou para o mal). Vemos o outro a partir de nossas lentes. E falando em lentes, mesmo a fotografia (ou o vídeo, que nada mais é do que fotografias em sequência), não capta o real. O enquadramento, a iluminação, o tipo de lente mudam a realidade. Congela um sorriso fora do contexto, um abraço teatral. “Não vemos as coisas como são, mas como somos”, disse com perfeição a escritora Anaïs Nin (que tem excelentes livros eróticos, inclusive que viraram filmes, como Delta de Vênus). Por isso a Fenomenologia prega o ir às coisas mesmas e despir-se dos a prioris como queria Husserl. Enxergar o fenômeno em si mesmo e não por nós mesmos. Os positivistas achavam possível a objetividade do conhecimento. Pope já subverte com a falseabilidade. Conhecimento científico (e filosófico), mas tem as lentes do senso-comum (empírico), da religião (teológico). Ideologias e representações sociais tentam dar conta da realidade e são exteriores a nós e coercitivas. É só lembrar de Durkheim e Moscovici.
E as ciências sociais/humanas e naturais ainda enxergam de modos distintos (e são temporais). As naturais estudam também coisas que não vemos com nossa percepção comum, como a microbiologia e a física de partículas. Os microrganismos e os átomos (e suas divisões) fazem parte da realidade. O campo eletromagnético também. Assim como, para muitos, o espiritual. Ou, para outros, delírios. E os sonhos? E o cérebro que não distingue claramente imaginação e realidade perceptiva? O esquizofrênico e o médium veem algo que outros não veem. O drogadito tem uma experiência diferente da realidade. Ou quem faz uso de medicamentos. Psicofármacos e drogas tem na farmacodinâmica e na farmacocinética relação com o que experenciamos do mundo. E o mundo pode ser surreal como no quadro do Dali, acima, que se chama Sonho Causado Pelo Voo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar (título real!).
E a realidade, para os técnicos, ainda precisa ser pensada na média, não nos casos particulares ou anômicos. Mais estatística e menos casos. Dados, metadados explicam a realidade. A física quântica tenta explicar várias realidades paralelas. Mas no experimento da fenda dupla se percebeu que ao ato de observar modifica a realidade. Não é só nas ciências sociais que sujeito-objeto se confunde. O que é real? Qual a sua percepção da realidade? O tempo está bonito para chover, na percepção dos lugares onde tem muita escassez de chuva e o tempo está ruim para lugares onde chove muito. Esse texto foi perfeito para alguns e detestável para outros. Palavras se tornam realidade, dizem.
UMA SIMPLES PRIMEIRA PERGUNTA COMPLEXA
Cada um de vocês vai ler e absorver esse texto de uma maneira diferente. Os teóricos da Escola de Frankfurt iriam dizer que eu o (a) influenciarei e você absorverá passivamente essas linhas. Já Martin-Barbero em Dos Meios às Mediações diria que depende de como você vai absorver, a depender de seu meio sócio-cultural-geográfico.
E a neurociência vai dizer, juntamente com a psicologia da percepção, que as interpretações feitas por nosso cérebro a partir do que percebemos com a visão (no caso da leitura, no córtex occipitotemporal esquerdo), irá alterar também as suas aquisições do texto. E o que vimos, ouvimos, tocamos, cheiramos determinam também quem somos e como você é hoje, no instante que lê essas linhas. E o que aqui escrevo faz parte da minha história de vida. O que você lê também depende disso. E sua compreensão do que aqui está sendo dito depende de outros conhecimentos pré-adquiridos dizia Piaget. Até ter absorvido os conteúdos da Garagem Dinâmica altera o produto você/eu.
Fazemos parte de uma consciência coletiva dizia Durkheim, sociólogo. Ou de um inconsciente coletivo, dizia Jung, psicólogo. Passamos por processos de socialização e de aculturação, dizem sociólogos e antropólogos. A cultura nos define em grande medida, nosso ambiente, onde nascemos e nos desenvolvemos, até nossa língua é determinante. Muito do que fazemos parece advir disto, muito parece ser comportamento aprendido, como diriam os behavioristas. Outro tanto parece automatismo guiado pelo inconsciente, dizem os teóricos do novo inconsciente (não é o Freud!). Maior parte do tempo você não se dá conta nem do que faz nem do como faz.
Algumas vezes parece que escolhemos e decidimos sobre a vida, como pregavam os filósofos existencialistas, Sartre e Camus, por exemplo, mas muitas vezes parecemos pela vida ser controlados, afinal muito da nossa existência é determinada, seja por acaso, seja por destino. Pra Calvino tudo estava predestinado. Para alguns os signos do Zodíaco influenciam quem somos, para outros há forças divinas que nos guiam e nos dão propósito. Para Leonard Mlodnow nosso andar é de bêbados. Armínio confrontou Calvino e disse que temos livre-arbítrio.
Nosso comportamento e mais profundamente quem somos é determinado também biológica e geneticamente. Nem sabemos o que é genético e o que é ambiente. Nosso cérebro é complexo, nossa cultura idem. Até em nível genético-molecular nosso comportamento é determinado. Parece que somos um quadro abstrato, não inteligível ao leigo, como a imagem acima, do quadro The Moon Woman, de Pollock. Somos algo como Truman, no filme O Show de Truman. Parece que sabemos bastante a respeito de nós, mas uma vez confrontados com algumas questões não conseguimos responder de imediato a uma simples primeira pergunta complexa. Quem somos nós?
DOIS HOMENS E MEIO E A PSICOLOGIA?
Alguns de nós garageanos adoramos a série Dois Homens e Meio. Alguns até parecem
com o Charlie e outros com o Alan. Talvez ainda alguém pareça com a Berta. Ok, não
vou continuar as suposições de quem se parece com quem senão serei expulso do
grupo, lol. Fato é que eu não gostava muito da premissa da série anos atrás. Apesar
de o Mauro sempre insistir que era interessante. Mas dois caras e uma criança
num cenário não me atraíam. Porém, com as trocas constantes de materiais entre
nós, o Amaury me passou algumas temporadas. Pra encurtar essa introdução já
longa venho vendo e revendo desde então. Até a saída de Charlie Sheen, claro.
O contraste entre os irmãos é o que dá o tom de humor na
série. Um bem sucedido e devasso, o outro problemático e certinho. Mulheres bonitas,
sacadas hilárias. Uma mãe que faria qualquer psicanalista adorar analisar, um
filho/sobrinho que muda através das temporadas, uma empregada abusada, aliás,
governanta. E claro muito álcool e sexo. Afinal, Charlie Harper é a versão
light de Charlie Sheen. E um dos
cenários em que muitas das cenas se passam é no Pavlov’s Bar. Desde a primeira
temporada é o point de Charlie. E logo
no terceiro episódio entendemos por que o bar tem esse nome. É a noite da
tequila (um adendo não necessariamente relacionado – tequila e mulheres, uma
conexão perfeita, dos dois pontos de vista, nosso e delas, mas isso é tema pra
outro post) e todos tem de tomar uma dose toda vez que o sino toca.
A gag faz
referência a um dos precursores da psicologia moderna. Ganhador do Nobel (Glawber, ele
era fisiologista), foi quem abriu os caminhos para a psicologia comportamental.
Seus experimentos laboratoriais o levaram a criação de um mecanismo que chamamos
de condicionamento clássico, ou pavloviano, ou ainda, condicionamento
respondente. A ideia é que algumas respostas comportamentais são reflexos
incondicionadas, isto é, são biologicamente estabelecidos. Mas ele percebeu que
seus sujeitos experimentais (nesse caso, cães), haviam aprendido novos reflexos.
Estímulos que não eliciavam determinadas respostas passaram a eliciá-las. Como foi
isso? O cão, naturalmente saliva diante da comida exposta. Pavlov percebeu que
a salivação ocorria até mesmo quando ele se aproximava na hora de dar a comida.
Então resolveu fazer o experimento para verificar a aprendizagem de novos
reflexos.
Medindo a quantidade de saliva através de uma fístula perto
das glândulas salivares, Pavlov tocava um sino perto do cão. Obviamente ele não
salivava. Depois emparelhou os estímulos. Som e comida. Com o condicionamento o
cão salivava só com o som do sino. Comportamento aprendido e não inato. Parece simples,
mas há quase 100 anos atrás foi uma descoberta e tanto que ajudou a estabelecer
a psicologia como ciência e até hoje ser a base inicial de um dos movimentos
mais fortes na psicoterapia, o behaviorismo. Claro que muito foi contestado,
modificado, melhorado na dialética da desconstrução e desconstrução da ciência.
Sobretudo com o condicionamento operante de Skinner.
É um bom experimento pra vender tequila. Charlie diz que
todos devem latir e beber uma dose de tequila quando o sino toca. Alan pergunta
por que. Charlie diz porque o sino toca. Simples. E você verá no vídeo abaixo,
do episódio em questão, editado pelo Amaury, que já na casa da mãe deles quando
a campainha toca eles latem e não sabem bem por que. Muito bom.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (E VIVOS)
Final de julho, final de férias. Mês amado pelos estudantes, menos os que estão em programas de mestrado como alguns de nós garageanos. Em vez de fotos de viagem temos colocado fotos das pesquisas nos perfis pessoais do Facebook. Mas adoramos estudar, o que pode ser um problema, lol. Preciso estudar mais biologia molecular pra saber a causa desse comportamento.
Mas o mês de julho trouxe-me duas coisas ótimas. Lançamentos de livros dos meus dois escritores favoritos. Oscar Wilde e Neil Gaiman. Não, o Dândi não voltou do além. É que saiu no Brasil a tradução da versão em inglês de O Retrato de Dorian Gray editada direto dos manuscritos de Wilde. Sem as censuras a que foi submetido quando de sua edição original (única que conhecíamos até agora). O lançamento no Brasil é da editora Biblioteca Azul. Já Gaiman lançou O Oceano no Fim do Caminho (Intrínseca), que meu amigo garageano Mauro Vieira leu de um só fôlego, virando uma noite inteira. Legal que foi lançado simultaneamente no EUA e no Brasil. Estamos saindo da periferia.
Um escritor favorito morto. Um escritor favorito vivo. Não são poetas, embora tenham tentado algumas coisas nesse sentido. Formam a minha sociedade inglesa. Wilde era irlandês, mas tudo é Reino Unido para nós ingleses, né Glawber Kiedis?
Wilde infelizmente morreu (mas ainda com senso estético apurado, detestando o papel de parede da espelunca que viveu seus últimos dias). Fico imaginando sua mente brilhante pensando os dias de hoje. Gaiman acompanho através do Facebook e Twitter, os quais ele usa bastante. É legal porque podemos nos sentir próximos. Sei em tempo real algo que ele tá curtindo/pensando/fazendo.
Não li tudo dos dois. De Wilde tenho as obras completas, mas ainda estou no processo. Outras coisas aparecem. Gaiman também tenho tudo que já foi lançado, mas ele é múltiplo. Quadrinhos, livros infantis, juvenis, adultos, e tem até cantado ao lado de sua esposa/gata/louca/cantora Amanda Palmer. Além dos filmes que ele faz e dos que fazem da obra dele. Oscar Wilde também tem versões. Só de filmes de O Retrato de Dorian Gray têm três. E várias versões em quadrinhos das obras. Compro tudo. Leio/vejo quase tudo. Tem até o livro Oscar Wilde para Inquietos. Por que não tive essa ideia antes? Lol.
Vale a pena, portanto, pegar as economias da caixinha da gaveta ou pedir dinheiro pra avó. Dois autores charmosos no estilo literário e no estilo de vida. Adoro isso, afinal eu não consigo separar autor e obra. Creio que estão ligados. Quero ser assim quando crescer. Que alguém diga o mesmo de mim e de meus livros. E com o hoje é o dia do escritor, falar dos meus dois favoritos torna o mês de julho ainda melhor.
LANÇAMENTO DA COLEÇÃO DE LITERATURA DO PAIC
Lançamento da Coleção de Literatura do PAIC 2012 - Secretaria de Educação do Ceará na Assembleia Legislativa, no dia 05 de julho último. Meu livro Quero Meu Cabelo Assim, faz parte da coleção. Da coleção 2011 faz parte Café Com Pão, Bolacha Não.
DEXTER E O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL (Parte 2/2)
Não tenho saudade do fim dos anos 1980 e dos anos 1990 quando quase só via filmes e séries pela TV Aberta. Tínhamos de esperar a boa vontade dos canais para comprarem os pacotes que passavam a conta gotas na programação. E com cortes. E dublados. Mas era o jeito pra quem gostava de cultura pop americana. Não havia a Amazon. E nem era comum ter TV por assinatura (quando eu chegava à casa do meu irmão que tinha Directv – lembra disso? eu assistia até a NHK em japonês!). Certo, mas o que isso tem a ver com o psicodiagnóstico do Dexter? É que assisti na última segunda baixado da Internet o primeiro episódio da oitava e última temporada. Não, não sou defensor da pirataria, tenho SKY pacote completo HD, mas convenhamos, eu não ia esperar uma semana pra assistir no FX Brasil.
O episódio foi ótimo. Como disse um amigo meu no Facebook, Sávio, foi simplesmente fodido. E pra mim, a ideia de ter uma neurocientista envolvida tornou a série Não tenho saudade do fim dos anos 1980 e dos anos 1990 quando quase só via filmes e séries pela TV Aberta. Tínhamos de esperar a boa vontade dos canais para comprarem os pacotes que passavam a conta gotas na programação. E com cortes. E dublados. Mas era o jeito pra quem gostava de cultura pop americana. Não havia a Amazon. E nem era comum ter TV por assinatura (quando eu chegava à casa do meu irmão que tinha Directv – lembra disso? eu assistia até a NHK em japonês!). Certo, mas o que isso tem a ver com o psicodiagnóstico do Dexter? É que assisti na última segunda baixado da Internet o primeiro episódio da oitava e última temporada. Não, não sou defensor da pirataria, tenho SKY pacote completo HD, mas convenhamos, eu não ia esperar uma semana pra assistir no FX Brasil.
O episódio foi ótimo. Como disse um amigo meu no Facebook, Sávio, foi simplesmente fodido. E pra mim, a ideia de ter uma neurocientista envolvida tornou a série mais interessante. Finalmente haverá a discussão na série se Dexter é ou não um psicopata. E não é uma neuropsiquiatra qualquer que simplesmente irá caçar o nosso serial killer favorito, pai do fofo Harrison, mas spoiler alert! Alguém que sabe quem é o Dexter e o conhece desde a infância. Do c@&%$#*!. Ok, mas e aí? Eu prometi na primeira parte desse post (clique aqui pra ler) que discutiria se o Morgan “certinho” (a outra Morgan, Debra, é porra louca e nesse episódio de estreia tá pirada, afinal você lembra, ela matou a LaGuerta no fim da sétima temporada) é ou não psicopata? Let’s see.
Num dos trechos do episódio de estreia você verá que é dito pela neurocientista aos policiais da Miami Metro Police que psicopatas não tem empatia. Dexter concorda. Empatia é a capacidade natural que temos de identificar o que outra pessoa está pensando ou sentindo e responder com a emoção apropriada. Num dos episódios antigos de Dexter ele está vendo uma comédia romântica com sua então namorada Rita. Ela está chorando, sensibilizada e ele não sabe como reagir. Então decide não piscar os olhos na tentativa que lhe escorram lágrimas e ela pensar que ele sente algo. Segundo alguns pesquisadores de psicologia e neurociências a empatia está envolvida em mais de dez regiões cerebrais, chamadas de circuito da empatia. O sistema límbico (umas das três grandes áreas do cérebro. As outras são o cérebro reptiliano – porção mais antiga e o neocórtex – porção mais nova) e suas conexões com o córtex pré-frontal estão envolvidos na empatia. Nos psicopatas a empatia é zero, inclusive por anomalias anatômicas no córtex pré-frontal, como falei na primeira parte do post. Existem outras partes do cérebro implicadas na fisiopatogenia do Transtorno de Personalidade Antisocial, mas ainda são amostras pequenas e associadas a comorbidades. O Dexter muitas vezes tem forte empatia por quem ele gosta. Ponto a menos pro psicodiagnóstico. Além disso, psicopatas não têm alucinações. Então não faz sentido que ele converse com o seu pai constantemente, como se ele fosse um Grilo Falante da consciência. Aliás, psicopatas não sentem culpa. Mais um ponto perdido. Vale ressaltar que nos livros, segundo o garageano Clodoaldo, que os leu, o pai de Dexter não aparece dessa forma.
Mas, finalmente, o nosso analista de sangue se enquadra no DSM-IV? Vejamos o que diz o manual. Você pode comparar com você mesmo também, lol.
A. Padrão global de desrespeito e violação aos direitos dos demais que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três (ou mais) dos seguintes critérios:
1) incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicada pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção. (Dexter é certinho e segue as leis. Trabalha na polícia e tenta ser “normal”).
2) propensão a enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer. (Dexter fez isso em muitos episódios).
3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. (Nem tanto).
4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.(Em alguns episódios).
5) desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia. (De jeito nenhum).
6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras. (Não mesmo).
7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém. (Não. Ele sempre se sente mal por machucar a Deb e outras pessoas próximas).
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. (Sim, claro).
C. Existem evidências de transtorno de conduta com início anterior aos 15 anos de idade. (Sim!)
D. A ocorrência do comportamento antissocial não se manifesta durante a existência de esquizofrenia ou episódio maníaco. (Dexter tem alucinações, então pode ser esquizofrênico, então não teria psicopatia).
Portanto, pelos critérios do DSM-IV Dexter não seria psicopata. Mas aí é culpa dos roteiristas e das licenças poéticas para que a série funcione. Com possíveis erros de continuidade essa última temporada deve resolver isso, creio que ele será realmente retratado como psicopata. Mas continua a dúvida. As tendências dele foram agravadas com o Código de Harry? Possivelmente. O irmão dele era “mais” psicopata? Provavelmente. Dexter é preso, foge ou morre? Aí já é outra questão. Vamos ver no que vai dar.
PUBLICADO INICIALMENTE NO BLOG GARAGEM DINÂMICA
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DEXTER E O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOICIAL (Parte 1/2)
Conheci o Dexter através do meu bestfriend e também garageano Clodoaldo Queiros. Lembro-me que ele me passou há alguns anos uns rmvbs (aleluia! Agora existe o mkv) péssimos gravados em DVD (o que é isso?). Assisti aos primeiros dez minutos do piloto sem muito entusiasmo por causa da péssima gravação. Desisti. Mas os anos e as temporadas foram passando e a pregação constante do Clodoaldo sobre a série me converteu. Com o presente de aniversário do Box com as primeiras cinco temporadas da minha namorada rendi-me totalmente. E lá se Conheci o Dexter através do meu bestfriend e também garageano Clodoaldo Queiros. Lembro-me que ele me passou há alguns anos uns rmvbs (aleluia! Agora existe o mkv) péssimos gravados em DVD (o que é isso?). Assisti aos primeiros dez minutos do piloto sem muito entusiasmo por causa da péssima gravação. Desisti. Mas os anos e as temporadas foram passando e a pregação constante do Clodoaldo sobre a série me converteu. Com o presente de aniversário do Box com as primeiras cinco temporadas da minha namorada rendi-me totalmente. E lá se foram sete temporadas. A oitava e última que estreia neste domingo dia 30 elicia mais ansiedade a cada dia em nós.
Não é de agora que adoramos psicopatas na ficção, seja em séries ou em filmes. Mas a pergunta constante entre nós garageanos tem sido se Dexter é realmente um psicopata. Serial Killer sem dúvida, afinal as placas de vidro de microscópio que ele guarda com o sangue das vítimas são muitíssimas. Nem todo psicopata (ou sociopata) se torna violento e assassino. Muitos se tornam políticos, empresários, religiosos, advogados etc., algumas das profissões que mais atraem psicopatas segundo estudos. E vale dizer que nem todo criminoso é psicopata.
Os portadores de transtorno da personalidade anti-social, que supostamente o Dexter tem (ele teria o tipo psicopatia), demonstram comportamentos que a sociedade consideraria inaceitáveis, tendem a ser irresponsáveis, impulsivos e falsos. São predadores sociais que encantam, manipulam e progridem na vida de modo implacável. Demonstram ausência completa de consciência e empatia, apossam-se de modo egoísta daquilo que desejam e fazem o que bem entendem. Não sentem culpa ou arrependimento. Contudo, no dia a dia parecem perfeitos e interessantes, sempre elogiam os outros e parecem se interessar realmente por quem está perto. São eloquentes e encantadores. Levam rosquinhas para os colegas como Dexter! São dois mundos distintos. O da aparente perfeição em meio aos outros e monstros em seus universos paralelos. O certinho Dexter se parece muito com essa descrição geral, ainda que não tenha todos os itens que listei, o que não seria necessário para um psicodiagnóstico.
A grande questão explicitada na série é se a psicopatia é causada por questões genéticas ou ambientais. O bárbaro assassinato da mãe de Dexter, o qual ele assistiu, tá sempre presente. E a motivação, mesmo que bem intencionada de seu pai adotivo em ensiná-lo a matar sem ser pego é algo a se pensar. Afinal ele aprendeu a ser assassino assim? Numa perspectiva behaviorista, talvez. Mas e o impulso que ele tinha desde adolescência? A psicopatia afeta 1% das mulheres e 4% dos homens no mundo e começa em geral por volta de 13 anos. A série tá correta nesse sentido. Em estudos com gêmeos houve correspondência genética em 30% dos casos, mesmo sem ambiente compartilhado. O irmão do Dexter como vimos é até pior que ele. As tendências psicopáticas parecem ser herdáveis na infância, sem influência do ambiente. Há casos de crianças psicopatas mesmo antes dos 13 anos. Ainda que o ambiente sempre seja um fator importante, o comportamento antissocial é em grande parte genético.
Em pesquisas de genética molecular sobre a personalidade (algo novo em que as ciências do comportamento estão inseridas), há relatos sobre uma associação entre um marcador de DNA para um determinado gene receptor (DRD4, receptor de dopamina D4) e o traço de personalidade de procura de novidade, que está relacionada com indivíduos impulsivos, inconstantes, nervosos, exaltados e extravagantes. A procura por novidade envolve diferenças genéticas na transmissão de dopamina. Ou seja, traços da personalidade são detectáveis em nível molecular! Além disso, em relação à neurofisiologia, psicopatas tem menos conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial, uma parte do cérebro responsável por sentimentos como empatia e culpa e a amígdala, relacionada ao medo e ansiedade.
Para um psicodiagnóstico do Dexter usarei os critérios do DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) já que obviamente não posso entrevistá-lo ou aplicar testes psicológicos ou usar quaisquer outros critérios de uma avaliação psicológica. Mas só no próximo post, depois da season première de domingo. Aguarde.
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ZUMBIS ESTÃO POR AÍ
Nós da Garagem Dinâmica adoramos zumbis. E não é de hoje por causa do frenesi dos novos produtos relacionados. É desde A Noite dos Mortos-Vivos do Romero de 1968, que só assistimos anos depois obviamente, já que todos somos da Geração Y (ou quase todos).
The Walking Dead, claro, é a nova sensação com o tema, que ciclicamente na cultura pop sempre volta à tona (como anjos, vampiros e lobisomens). Com a série consegui até ter um programa de fã em comum com minha namorada Juliana, que também adora e, como todas (ou quase todas) as mulheres se derrete pelo Daryl e eu, como muitos namorados, queremos que ele morra, lol. O Leonard tentou ter um programa de fã com a Penny num episódio recente de The Big Bang Theory, mas não deu muito certo. Ele sugeriu que assistissem juntos à Buffy, mas a Penny não gostou muito.
Enfim, o Apocalipse Zumbi se aproxima! Pelo menos nos sonhos malucos de gente louca como os garageanos, fãs de cultura pop, mesmo que não tenham nenhuma possibilidade de sobreviver fora de seus consoles de videogame, tablets, smartphones, laptops, fastfoods e que também não saibam atirar (eu pelo menos já estou treinando isso, minha pontaria tá ótima!).
E enquanto os zumbis não chegam sigo estudando psicopatologias na expectativa de ser um psicólogo e neuropsicólogo de sucesso (alguém se consultará comigo no caos hipotético que se instalará?). E lendo os gigantescos manuais da psicologia e assistindo de camarote as brigas sobre o DSM-V que tá pra sair (que é o manual de diagnóstico de doenças mentais, que vem com tanta doença nova que tá difícil ser “normal”), encontrei a Síndrome de Cotard, descobrindo que sim, existem zumbis por aí! Ou pelo menos na realidade delirante dos portadores da doença.
Identificada no final do século XIX pelo neurologista Jules Cotard, os indivíduos que apresentam o transtorno acreditam que estão mortos! Figurativa ou literalmente. Acham que não existem, que estão em estado de putrefação, ou que perderam todo o sangue e os órgãos internos. A semiologia da doença apresenta principalmente o delírio de negação. Os portadores negam que existem ou que certas partes do seu corpo existem. Foram identificados três estágios da doença. Germination (onde os pacientes apresentam depressão psicótica e hipocondria); Blooming (desenvolvimento da síndrome da negação) e a terceira, Chronic (caracterizada por depressão crônica e delírios graves).
Para os iniciados que estão lendo esse post, sim, há semelhanças com esquizofrenia. Neurofisiologicamente está associada a lesões no lobo parietal e atrofia no lobo frontal. Alguns sugerem que a Síndrome de Cotard pode ter a ver com danos que resultam na não capacidade para espelhar os circuitos de neurônios, fazendo com que uma pessoa perca a capacidade da autoconsciência, inclusive. Como assim? É que há um grupo de neurônios chamados de neurônios-espelho ou neurônios-empatia. São células nervosas que são ativadas quando realizamos uma ação ou quando observamos alguém realizar uma ação. O que nos torna capazes (e evolutivamente foi e é necessário) de identificar os nossos pares e por eles sentir empatia. E imitar o seu comportamento.
Você não verá tantos “zumbis” por aí, afinal a síndrome (também conhecida como Síndrome do Cadáver Ambulante) é bem rara. Mas é curioso que eles estão por aí, além do papel e dos pixels da cultura pop.
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LIDERANÇA E CULTURA POP
Relaxando com meu colega de Garagem e de Neurociências Glawber Kieds outro dia no McDonald’s (sim, comemos lá e andamos em shopping!), inventamos de comprar o McLanche Feliz pra ganharmos os bonecos dos ThunderCats na nova promoção. Obviamente os dois escolhemos o Mumm-Ra, o de vida eterna, lol. Que não está na forma decadente, como você pode ver na foto.
Na conversa e na sessão de fotos (momento PVT, como diz o Glawber), eu falei que até pensei em pegar o Lion-O, mas ele é chato. Como todos os líderes de equipe do universo pop que lembramos. Capitão América (chato), Ciclope (chato e bobo), Super-Homem na Liga da Justiça (chato e escoteiro, como diz o Batman), Kirk (chato e canastrão). E por aí vai, você entendeu meu ponto e deve tá lembrando de vários.
Obviamente precisamos desses chatos, tudo precisa de liderança. Como empreendedor fico lendo às vezes sobre liderança corporativa. Livros chatos. E eu mesmo sou chato muitas vezes com minhas equipes. Aliás, eu sempre falo nas palestras por aí, sobre ambiente corporativo, que todas as empresas precisam das figuras dos chatos burocratas como a Lisa Cuddy e os chatos visionários como o House. Sem qualquer um dos dois o Princeton-Plainsboro Teaching Hospital da série não teria a mesma excelência. As equipes precisam de ciclopes e de wolverines.
Teorias sobre liderança têm várias. Há até a novidade da neuroliderança, que aplica conceito das neurociências (Glawber, lembre-se do curso que ministraremos. Fãs da garagem, inscrições abertas, rsrsr). Mas sempre gosto de voltar aos clássicos. Neste caso do meu cientista social (entre os três porquinhos) favorito: Max Weber. Os outros dois são Marx e Durkheim.
Weber distingue três tipos de dominação (e liderança). A legal, a tradicional e a carismática. A dominação ou autoridade racional-legal, ou burocrática, se baseia mais em leis impessoais do que em lealdade pessoal. Obedece-se a um estatuto legal, baseado em regras criadas racionalmente. Utiliza funcionários especializados.
A tradicional repousa no respeito ao que real, alegada ou presumivelmente sempre existiu. Os dominados (súditos) seguem o “senhor”, legitimado pela história e tradição. Obedece-se fielmente à pessoa em face de sua dignidade. O quadro administrativo é formado de dependentes pessoais do senhor, não pela competência.
E a carismática se baseia nas qualidades peculiares de um líder. Baseia-se na crença de um poder extra-comum, extra-cotidiano do líder, a seus supostos poderes mágicos. Obedece-se à figura do líder e não a seu poder legal ou de uma tradição instituída. O líder não tem servidores ou funcionários, mas apóstolos, partidários ou discípulos.
Sociologicamente falando liderança passa por esses tipos ideais, normalmente os líderes da cultura pop são carismáticos, ainda que chatos por serem tão certinhos. Por isso adoramos os anti-heróis e os vilões, eles parecem mais sem regras. E todos as temos, talvez por isso idealizamos os que vivem sem muitas delas. Contudo, o bom líder precisa muitas vezes quebrar regras para liderar com eficiência e derrotar o Mumm-Ra em mais um episódio.
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ANGELINA JOLIE E A PSICO-ONCOLOGIA
Angelina Jolie é um dos ícones sagrados da Garagem Dinâmica (que muitas vezes é iconoclasta). Mas quando se trata de deusas lindas e talentosas, além de exemplo na luta por liberdade, democracia e cidadania dos menos favorecidos como é a ativista Jolie, não poderíamos deixar de reverenciá-la. Por isso meu brother Glawber Kieds e colega de Neurociências está certíssimo em não deixar passar em branco o fato de uma das mulheres mais admiradas de todos os tempos, encarnação perfeita dos ideais de Simone de Beauvoir, ter retirado os seios depois de descobrir que tinha quase 90% de chance de desenvolver câncer de mama.
Mas como somos pesquisadores de áreas diferentes abordamos o assunto de pontos de vista diferentes. Como já dizia Leonardo Boff, todo ponto de vista é a vista de um ponto. Nem que seja tudo em tons vermelhos como o de Ciclope. Nós da sociologia e da psicologia imaginamos primeiro as representações socioculturais envolvidas com o câncer, enquanto que Glawber e Cia. pensarão nos aspectos fisiológicos. E aqui na garagem você tem a visão do todo! Como na Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier. O câncer, diferentemente de outras doenças, tem uma carga de representações sociais, culturais e até religiosas. Por exemplo, ninguém fica se perguntando existencialmente por que teve um infarto. Ou pelo menos não por muito tempo. Ninguém gosta de ficar doente seja do que for, mas o câncer envolve questões mais profundas da psique humana. Os indivíduos que se descobrem com a doença imaginam por que estão sendo punidos, imaginam castigos divinos, imaginam que aquela doença veio de dentro de si mesmo e são, portanto, pessoas más (em amplo sentido) intrinsecamente. Não à toa existem vários exemplos na cultura pop com tema câncer. A série Breaking Bad, o filme Um Amor pra Recordar e a HQ premiada Our Cancer Year do extraordinário Harvey Pekar, são apenas três bons exemplos.
O Câncer pode ser definido como uma doença degenerativa resultante do acúmulo de lesões no material genético das células, que induz o processo de crescimento, reprodução e dispersão anormal das células no qual o controle sobre a proliferação e morte celular está alterado. Existem mais de 800 tipos diferentes de câncer, muitos deles curáveis, se detectados precocemente. O Câncer é uma doença que até hoje, mesmo com os constantes avanços tecnológicos na sua detecção e tratamento, ainda é extremamente temida e fortemente associada à morte. Desde o diagnóstico até o fim do tratamento, o paciente sofre danos tanto físicos quanto psicológicos, pois além de submeter-se a procedimentos médicos geralmente agressivos, tem sua vida totalmente transformada pela presença da doença.
Pacientes com Câncer tem necessidades diferentes de outros enfermos, o que traz uma carga extra de sofrimento psíquico e que necessita ainda mais de atendimento psicológico. E por tudo que cerca o Câncer, os mitos que o envolvem, as representações sociais, o sofrimento psíquico causado foi criada a Psico-Oncologia, uma das minhas favoritas áreas da psicologia, que trata de pessoas com essa terrível doença. Pra Angelina Jolie, portanto, não deve tá sendo fácil com todas essas questões envolvidas, além do que se refere a uma das partes mais sensíveis, ontologicamente falando, da mulher, que são os seios, símbolo de feminilidade, sensualidade, vida, saúde. Não somente corpos de gordura. Para as mulheres é o câncer mais carregado de representações. Nossas energias positivas da Garagem estão com ela, que, exemplo em tudo que faz, o possa ser novamente para tantas mulheres que sofrem com o mesmo tipo de Câncer.
P.S.: My friend Glawber, Jojô é só para os verdadeiramente íntimos como eu, lol.
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LANÇAMENTO DO LIVRO QUERO MEU CABELO ASSIM
Saiu meu novo livro infantil pela Secretaria de Educação do Ceará, através do PAIC. Os livros são destinados aos programas da Secretaria, distribuídos em todas as escolas do Estado, com tiragem de 30 mil exemplares. Quero Meu Cabelo Assim faz parte da coleção 2012, que está sendo distribuído este ano. Em 2011 Café Com Pão Bolacha Não também com tiragem de 30 mil exemplares foi distribuído nas escolas ano passado. A ideia para Quero Meu Cabelo Assim surgiu a partir de um post anterior aqui do blog: O Cabelo de Pedro.
ESCOLHAS PROGRAMADAS
Jackson Pollock
(1912-1956)
Number 18, 1950. Oil and enamel on Masonite, 22
1/16 × 22 5/16 inches (56.0 × 56.7 cm)
Sou apreciador de Pollock há bastante tempo, desde
minhas investidas do final da adolescência, quando seminarista, ampliadas pelo
filme biográfico de 2000 (Pollock),
quando com 22 anos já pós-abandono do seminário, e na faculdade de Ciências
Sociais.
Olho pra esta pintura e vejo o caos da
existência. Minha e coletiva. E tento aceitá-lo. Para alguém que foi da
religiosidade ao ceticismo, que acreditava em propósitos divinos e encontrou a
filosofia existencialista e a liberdade (angustiante) de escolha, o cosmos (em
oposição ao caos) fazia sentido. Havia um projeto pra mim dentro do programa geral,
mesmo entre as muitas linhas de cores sobrepostas, crer intelectualmente na
teologia da predestinação me fazia seguir em frente.
Agora olho pra mesma pintura e só enxergo o
acaso. A multiplicidade de linhas e cores caóticas no fundo cinza (o mundo não
é preto e branco como eu pensava). O acaso que faz o papel de destino e limita
minhas escolhas existenciais, profissionais, amorosas. Hoje não sei se sou
livremente influenciado por Sartre ou predestinado a ser calvinista. Saí da
crença em propósitos para a da livre escolha e hoje vejo que nossas escolhas
são circunstanciais, passando até pelo determinismo do behaviorismo.
Não acreditava em destino, mas em
predestinação, o que é diferente. Pensava num livre-arbítrio dentro desse
propósito, mas o que vejo agora é destino, que pode ser chamado de acaso, como
no livro O Andar do Bêbado, do físico
Leonard Milodnov, que argumenta em favor das distribuições de probabilidade nos
acontecimentos em nossa vida, das determinações sociais. E na neurociência
encontrei as evidências das determinações também genéticas. Até a reação de luta e fuga é randômica em cada indivíduo e seu próprio cérebro reptiliano.
Vejo o caos na tela. E tento aceitá-lo.
Inclusive passando pelos teóricos da complexidade, ou do caos, como Fritjof
Capra, para quem tudo está conectado. Como na pintura. Como eu no meio do caos
das muitas escolhas circunstanciais. Escolhas que pra mim passam (e angustiam),
sobretudo na área profissional. Partilhando da busca moderna de realização no
trabalho, de encontrar sentido no trabalho, da angustia diante das diversas
opções e dos olhares da minha família cujos membros encontraram a realização
sobretudo (e para eles a única válida) financeira, no meio disso tudo abandonei
o seminário, tornei-me sociólogo, dei aulas no Ensino Médio e Superior, desisti
para entrar no ramo da consultoria, o qual estou agora, mas com as devidas
angústias. Estudante de Psicologia e de Mestrado na área de Sociologia e Psicologia sigo
olhando para a tela e vejo as interconectividades nas linhas e cores e tento
encontrar o que sou profissionalmente, como quero ser. Qual a cor? Qual a
linha? As escolhas que fiz dentro das minhas possibilidades foram adequadas?
Terei novas escolhas? O quadro é caos, o quadro é dor, não aceito o não-cosmos
e as muitas possibilidades como na adolescência quando sabia (acreditava) que
podia fazer (e realizar) qualquer coisa.
Penso nos anos que ainda terei. A pintura é
feia, seria melhor a pintura imaginada por Oscar Wilde de Dorian Gray e me
prender à juventude, de não ter medo de mudar a cor, a linha. De ter uma
carreira constante, um trabalho contínuo, uma carreira vitalícia. Mas as
transformações no mundo do trabalho não deixam. Ter mais de uma profissão é
necessário, ter mais de um diploma uma crescente representação social. Os
trabalhos do momento são por projetos com começo, meio e fim, são efêmeros. E
são múltiplos os trabalhos e as carreiras. Muitas cores, muitas linhas. Lutam
entre si. E queremos que façam sentido, que nos deem comida, mas também diversão
e arte como na música. Mas o caos permanece, as bordas do quadro têm fim – como
a nossa existência. E as escolhas constantes nos tomam anos. E a vida segue sem
que eu encontre a gota de tinta inicial que caiu na tela. Nem sequer sei sua
cor.
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