APOLOGIA DO ÓCIO

Entreguemo-nos relaxadamente à preguiça!
Ao prazer de, vazios, absorvermos as cores alienantes da tela do vídeo.
Um sem fim de páginas de tantos volumes para quê, se podemos gozar da sensualidade da improdutividade?
Que se dane o mundo! Deixem-nos estéreis mesmo, em um canto qualquer de um quarto úmido, contentes com o pouco que temos e com o nada que construímos.
Sejamos mudos! Só os loucos gritam, argumentam e reagem.
Que se fabriquem sempre expressões de contentamento para ficarmos eternamente absortos e absorvidos com a usurpação do nosso direito de sermos humanos e humanizados.
Vamos praticar desatinos com os que confeccionam sonhos e se cansam para democratizá-lo; são somente pândegos, não são sérios.
Que mal há em não querer mudar o mundo? It’s a waste of time!
Apaguemos as luzes e deitemo-nos impotentes diante da nudez.

Publicado originalmente no jornal Em Formação em maio de 2003.