JUVENTUDE ETERNA

Alcançamos, finalmente, a tão sonhada juventude eterna. Ou quase. Sonho perseguido desde a pedra filosofal da alquimia até o rock and roll, homens e mulheres sempre tentaram se preservar jovens, através das ervas e das artes. Talvez ter um retrato pintado de si mesmo, o qual absorvesse todos os sintomas da velhice, como o de Dorian Gray.

O Gênio da Lâmpada parece querer atender esse desejo. O avanço das ciências médicas e das ciências sociais conseguiu o que alquimistas e astros do rock tanto tentaram. Temos tratamentos sofisticados para os mais diversos males, curas para quase todas as enfermidades, cirurgias plásticas que disfarçam a ação do tempo, cosméticos que parecem milagrosos, melhores informações sobre os alimentos (que nos nutrem e nos matam ao mesmo tempo), freqüentamos academias e temos uma infinidade de remédios, até mesmo o Viagra, nada mais suficiente para se sentir jovem.

E temos conhecimento social acumulado para entendermos melhor a sociedade e o indivíduo e diminuirmos os preconceitos, vivermos em harmonia com as diferenças, aceitar que existem diversas maneiras de se viver. Aos poucos quebramos tabus sociais. Durkheim diria que é mais fácil hoje do que em sua época se sobressair ao estabelecido, não ser tão coagido a seguir o grupo. Ou que ser coagido socialmente hoje é viver como se quer, incentivado por frases do tipo "Seja você mesmo!" ou "Faça o que quiser!". Sintoma da chamada pós-modernidade. O self-service de crenças, valores e comportamentos.

Não é vergonha namorar pessoas bem mais jovens, mesmo para mulheres mais velhas que namoram rapazes. São personagens até de novelas. Nem é vergonha vestir-se como adolescentes, a moda tem seguido essa tendência. Ou freqüentar clubes da terceira idade (ou melhor idade, idoso é uma palavra maldita). Vemos idosos (desculpe-me!) com vidas renovadas no trabalho, nas ruas e nos bancos de universidades.

Cultuamos a juventude, isso é bom, somos humanos, temos medo do fim, queremos viver para sempre. E os jovens acreditam nisso.

Publicado originalmente no jornal O Povo de 02 de agosto de 2008